O LUGAR DO HISTORIADOR E DA HISTÓRIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA
Por: Eduarda Schena • 25/9/2018 • Dissertação • 1.089 Palavras (5 Páginas) • 186 Visualizações
O LUGAR DO HISTORIADOR E DA HISTÓRIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA
É certo que o Brasil é um país conservador desde suas origens, e que quase nada foi feito para que houvesse mudança nesse quadro. Porém, a onda reacionária que vem crescendo atualmente, desde o golpe de 2016 que retirou Dilma Rousseff do cargo da presidência, é assustadora. Contando com um presidente não eleito, que abertamente declara que usará sua impopularidade para tomar medidas justamenete impopulares, a população parece congelada por não se enxergar dentro de uma cenário político no qual acaba afetando e sendo afetado, mesmo que inconscientemente.
Isso é um dos resultados da adoção de uma ideologia neoliberal pelo Estado, que individualiza as pessoas, e faz com que cada um se preocupe somente com aquilo que é seu, ou acredita ser seu. Tal consequência acaba sendo refletida dentro da discilplina de História e do próprio ofício do historiador, que uma vez originado para criar uma noção de nacionalismo, pertencimento à pátria, agora patina sobre seus usos que já não são mais requeridos como uma vez foram. A História então se perde num limbo procurando se reinventar e encontrar espaço dentro dessa realidade.
Tendo que lidar com ataques dos mais variados, que vão desde a caracterização do|(a) profissional como doutrinador(a), até os mais sutis que falam sobre a redução da carga horária de História, o(a) historiador(a) encontra ainda mais dificuldade ao ter que bater de frente com projetos que cerceiam a liberdade de ensino, como o da “Escola sem Partido”, e ainda encontrar caminhos para legitimar seu conhecimento. É cobrado a fim de ser escutado, a partir de então, uma postura neutra daquele(a) que ensina/faz História, relembrando o ínicio da disciplina no séc. XIX que tinha como base a dita neutralidade e objetividade para que se alcançasse a legitimação.
Logo, diante desse cenário, é perceptível a necessidade de mudança na própria História para que ela consiga definir novamente o seu papel dentro da sociedade brasileira, já que, aparentemente, do que jeito no qual ela se encontra, não se faz mais ser escutada, nem responde mais as perguntas da população. O raciocínio acerca do próprio ofício do(a) historiador(a)tem que ser iniciado para que a gente consiga sair do debate raso sobre o lugar das Ciências Humanas em geral e mostrar através da colocação de argumentos bem construídos tudo o que a História tem a acrescentar dentro do nosso cotidiano e a própria formação do ser humano como indivíduo racionalmente autônomo, capaz de tomar as próprias decisões e participar da vida política do país.
O primeiro passo seria desnaturalizar a História e deixar de tratá-la como se fosse um instrumento somente utilizado para iluminar o ser humano e conduzi-lo a uma elevação intelectual que o ajudará a não cometar os erros do passado. Nada é genuinamente bom ou ruim por excelência, e a História, no caso, pode ser utilizada para ambos os fins. Temos que lembrar que o processo histórico só existe quando alguém se propõe a construi-lo e isso acaba se refletindo na construção do conhecimento, principalmente se levarmos em conta que toda a nossa ação é influenciada por mecanismos de poder, como muito bem formulou Foucault em seus estudos. Se até mesmo a Medicina, considerada por muitos uma ciência imparcial que lida objetivamente o funcionamento orgânico do ser humano, é um instrumento de regulação dos nossos corpos, como queremos pretender que a História esteja livre desse aspecto quando sabemos que ela já foi usada para legitimar até mesmo ações repreensivas de governos autoritários?
A partir daí, é preciso que as informações, que um dia foram pensadas a fim de construir uma Nação, sejam colocadas em xeque para que a gente consiga superar aquele modelo de História que cria heróis da pátria e que esconde momentos sujos da nossa memória, como por exemplo a escravidão e o genocídio do povo indígena. Tem que ser lembrado que fomos colonizados e entendermos o que isso significa para a nossa identidade cultural, para que assim o complexo de vira-lata, expressão de Nelson Rodrigues, seja tratado aos poucos, posicionado o brasileiro em sua devida realidade, para que possa refletir sobre o seu cotidiano de um jeito que não sinta pena de sí mesmo e observando todas as consequências de um processo violento no nosso presente. Porém, bem como salienta Joan Scott, no texto “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”, é necessário pensar nessas informações entendendo primeiramente o porquê elas foram primeiramente excluídas para que o processo de entendimento sobre a nossa História seja plenamente compreendido.
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