REPRESENTATIVIDADE E (HOMO)SEXUALIDADES: A IMPORTÂNCIA DESSAS DISCUSSÕES NO AMBIENTE ESCOLAR.
Por: Matheus Dallaqua • 17/9/2018 • Trabalho acadêmico • 2.574 Palavras (11 Páginas) • 279 Visualizações
REPRESENTATIVIDADE E (HOMO)SEXUALIDADES: A IMPORTÂNCIA DESSAS DISCUSSÕES NO AMBIENTE ESCOLAR.
Matheus Silva Dallaqua
A proposta deste texto, e consequentemente de uma proposta de intervenção em sala de aula posteriormente que levante discussões a respeito de questões referentes ao tema de gêneros e sexualidades, parte da premissa de que já é considerado, para muito, senso comum afirmar que no decorrer dos anos, o ser humano tendeu a se tornar mais receptivo a algumas questões que antes seriam consideradas como tabus. Contudo, levando-se em consideração o momento histórico em que estamos inseridos, a conjuntura política e social que vivenciamos deve-se pensar até que ponto esses assuntos realmente perderam o estigma de tabu, e até que ponto nossa sociedade atual se comporta de maneira receptiva para tratar temas como esses.
Levando-se em conta que de acordo com a organização “Grupo Gay da Bahia”, (que a cada ano realiza um levantamento a respeito dos casos de homofobia que ocorrem no Brasil), em 2015, 518 casos de violência motivados por questões referentes a preconceito decorrente da sexualidade da vítima terminaram em morte, em miúdos, arrisca-se dizer que em 2015 um membro da comunidade LGBTTQI foi morto a cada 27h por homofobia no Brasil. Sendo assim levanta-se a discussão: até que ponto a sociedade está realmente mais receptiva a esses coletivos?
Entende-se que vivemos em um momento em que se torna mais que necessário a retomada de discussões a respeito de temas como gênero e sexualidade em todos os meios possíveis, tanto a nível acadêmico, quanto dentro de sala de aula haja vista o retrocesso que se estabelece a partir da sombra crescente do conservadorismo da nossa sociedade atual; seja através da bancada religiosa no meio político e sua empreitada para derrubar direitos já consolidados pela comunidade LGBTTQI, seja através de movimentos de direita como “MBL”, com seus projetos de “Escola sem partido”, que retira do professor a liberdade de discutir essas questões, seja contra o patriarcado, os machismos, e os discursos da “heteronormatividade” que ainda permeiam a mentalidade de muitos brasileiros.
Consequentemente, a abordagem desses temas em sala de aula é de suma importância, ainda mais se destacarmos que homofobia ou qualquer discriminação nesse sentido a alguma pessoa fere o artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada em 1948, que define que:
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. (1948, p. 5)
Dessa forma, levar essas discussões para dentro do espaço escolar é de extrema importância, pois afinal, expressar sua sexualidade é considerado um direito básico do ser humano, de forma que negar essa expressão torna-se uma negação desse direito.
Outro motivo importante que nos leva entender a necessidade de discussões como essas em sala de aula parte dos escritos de Guacira Lopes Louro, doutora em educação, que escreve em seu livro “Gênero, sexualidade e educação” que:
Diferenças, distinções, desigualdades... A escola entende disso. Na verdade, a escola produz isso. Desde seus inícios, a instituição escolar exerceu uma ação distintiva. Ela se incumbiu de separar os sujeitos – tornando aqueles que nela entravam distintos dos outros, os que a ela não tinham acesso. Ela dividiu também internamente, os que lá estavam através de múltiplos mecanismos de classificação, ordenamento, hierarquização. (1997, p.57)
Essa afirmação da autora diz em primeiro momento da separação interna que havia entre os gêneros masculino e feminino, mas nos serve de base para pensar outros aspectos referente a escola. A primeira delas é caso considerarmos esse espaço como um ambiente de convívio social e de relações de poder seja entre professores/coordenação, professores/alunos, ou alunos/alunos, somos levados a entender que nessas relações dialéticas o fator hierarquizante está sempre presente, distinguindo aqueles que tem “mais poder” que outros. Ou seja, nas relações sociais dentro de um espaço escolar há hierarquias, tais quais inclusive não dizem respeito apenas a questão do institucional – como se professores estivessem em um patamar superior aos alunos, mas inferior a coordenação por exemplos – mas sim das mesmas hierarquias sociais que são construídas fora desse espaço, desse modo, há diferenciações dentro de um mesmo grupo, como as distinções entre alunos e alunas, negros e caucasiano, ou entre alunos heterossexuais e alunos e alunas LGBTTQI.
Se acreditamos que os preconceitos devem ser questionados e problematizados em todas as esferas sociais, é dentro das salas de aula que deveríamos focar ainda mais nossos esforços, principalmente se levarmos em consideração as palavras de Louro ao afirmar que “Não há dúvidas de que o que está sendo proposto, objetiva e explicitamente, pela instituição escolar, é a constituição de sujeitos masculinos e femininos heterossexuais – nos padrões da sociedade em que a escola se inscreve. ” (1997, p.81).
Obviamente que devemos levar em consideração a diferença temporal que nos separa da publicação de 20 anos atrás. Houve de certa forma progressos ao baterem de frente com esses métodos, e práticas, contudo essa ideologia não está dissolvida por completa, mas sim mais velada em alguns aspectos, e mais explicitas em outros, vide o artigo 3 do projeto de lei federal “Escola sem partido” que implica em que “O Poder Público não se imiscuirá no processo de amadurecimento sexual dos alunos nem permitirá qualquer forma de dogmatismo ou proselitismo na abordagem das questões de gênero.”[1]
O ponto a ser tomado é entender a formação históricas dos movimentos, recorta-se nesse texto o movimento LGBTTQI. A fim de levar essa discussão para os alunos, ainda mais se tratando da disciplina de História, faz-se necessário então discutir a formação, e os desdobramentos do movimento. De acordo com James Green, o movimento gay se inicia nos Estados Unidos no fim da década de 1960 após as perseguições sofridas pela população gay e dos espaços de convívio desses grupos (como bares e casas noturnas) pelas mãos dos policiais locais, ou seja, do próprio Poder Público. Em 1969, após uma violenta repressão no bar Stonewall, em Nova Iorque, que se marca os primeiros passos do que futuramente seria o movimento gay, não somente nos Estados Unidos. (2000, p.281).
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