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Resenha A Paz das Senzalas

Por:   •  20/2/2017  •  Resenha  •  6.136 Palavras (25 Páginas)  •  1.057 Visualizações

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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Departamento de História

  • Fichamento do livro:

A Paz das Senzalas: famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c.1790 – c. 1850.

Autores: Manolo Florentino e José Roberto Goés.

Publicado em: Civilização Brasileira, RJ – 1997.

Por

Gabriele Mesquita

Seropédica, Maio de 2015.

No livro A paz das senzalas, publicado no ano de 1997 dos historiadores Manolo Florentino e José Roberto Góes, oferece à comunidade acadêmica um novo olhar sob a vida nas senzalas na primeira metade do século XIX, usando como instrumento metodológico a demografia histórica, trazendo novas contribuições e perspectivas à historiografia, assim como enriquecendo os conhecimentos já obtidos no campo de estudos que se referem às famílias escravas e ao tráfico negreiro na região fluminense, do Rio de Janeiro no século XIX. Propondo assim, uma reavaliação de estudos como relações familiares escrava, herança e experiências cativas, casamento e ilegitimidade.

O objetivo da obra de Florentino e Góes é abordar a família escrava, sobretudo suas relações interligadas ao tráfico atlântico de africanos. Para desenvolver a pesquisa, os historiadores utilizaram como fontes, correspondências, arquivos policiais, livros da Igreja Católica, crônicas e relatos de viagens coevas[1] e testamentos, mas a principal fonte utilizada foram os inventários, documentos adequados à quantificação, utilizando assim a técnica de cruzamento de dados e fontes. Buscando calcular médias, índices, e frequências que revelassem resultados e respostas às questões sugeridas.

Desta forma, os autores exercitaram a incorporação de novos tipos de fontes no estudo de família escrava: as fontes demográficas e quantificáveis, que permitiram conhecer melhor o que até então era tido como incompatível com o cativeiro, no caso a constituição de famílias cativas. Tendo como propósito contribuir à escrita da História do Brasil, cientes que o permanente trabalho de pesquisa histórica se faz de forma argumentativa e permanente sendo sempre movida por inquietações.

Entretanto, um dos problemas metodológicos encontrados pelos autores, relativos às fontes, no caso, os inventários, foi a desigualdade na riqueza de informações, pois:

 “Se havia homens verdadeiramente metódicos na anotação das características conhecidas dos escravos (...) havia também os que pareciam ter pressa na execução de seu ofício. Por vezes nem sequer anotavam-lhes a idade, um elemento-chave na avaliação deste peculiar bem.” [SLENES; GÓES. 1998, p.44]

Ou seja, determinados redatores[2]* especificam de forma mais eficaz algumas anotações do que outras, assim de fato, em alguns momentos, foi necessário que os autores selecionassem as confecções que indicassem maior zelo.

Para isso, os historiadores optaram pelo que se conhece como série ajustada, buscando uma uniformidade nas informações, onde foram reunidas peças que informassem o sexo, idade, naturalidade, preço e condições de saúde, os autores evitaram incluir como critério informações acerca dos dados parentais, a fim de evitar adulterar previamente os resultados.

Sobre o significado da família escrava, os autores afirmam que de modo nenhum a família cativa era um epifenômeno[3], e tampouco perecia à violência ou servia de controle senhorial. E sim, que se caracterizava pela organização e pacificação entre os cativos, fornecendo-lhes fortes pilares comportamentais da “cultura afro-brasileira”[4]. Constituindo-se sob a paz social, assumindo feições que os autores caracterizam como uma renda política para os senhores, ou seja, a família geradora da paz garantia maior estabilização e pacificação.

 Mais à frente no estudo, os autores afirmam que não se restringirão à estruturação temporal das relações parentais, e sim que buscarão estabelecer uma tipologia de arranjos familiares típicos dos cativos, além de indicar alguns dos padrões socioculturais que devido a esses arranjos se realizavam temporalmente.

Adiante, na delimitação do trabalho/pesquisa, o recorte espacial se dá no agro fluminense, na última década do Setecentos e na primeira metade do Oitocentos entre 1790-1830, entretanto os autores afirmam que não estavam impedidos de percorrer e adentrar por outras épocas.

Na justificativa para tal delimitação, os historiadores afirmam que a área agro fluminense e o período proposto eram propícios à empreitada, pois a economia escravista local era favorável à integração ao mercado internacional, com constante reprodução física através do tráfico atlântico de africanos.

Como contexto da pesquisa, os autores demonstram que as plantations configuravam a vitalidade da agro exportação, sendo a capitania do Rio de Janeiro a maior detentora sob a concentração de mão-de-obra escrava do Sudeste brasileiro. A maior parte dos engenhos se localizavam na região Norte fluminense, principalmente em Campos dos Goitacazes onde o comércio açucareiro crescia desde meados do século XVIII.

Os autores fazem críticas ao cálculo econômico empresarial escravista*, pois segundo eles, adotar um cálculo econômico “moderno” é imprudente pois são traduções de sociedades inseridas em distintas realidades, e transformar um fenômeno de natureza política (a resistência escrava) em uma variável econômica, retrata a despolitização da política*.

Adentrando nos arranjos matrimoniais, assim como Robert Slenes[5] em seu livro Na senzala, uma flor os autores Manolo Florentino e José Roberto Góes encontraram indícios de preferência nas uniões matrimoniais endogâmicas, onde indivíduos por seletividade preferem se relacionar com pessoas de um mesmo grupo social, e sob esse ponto, é possível perceber a recorrente dessemelhança ao “outro”, onde os arranjos matrimoniais são preferencias por iguais simultaneamente exprimindo a recusa do “outro” priorizando o sentido do “nós”.

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