Uma abordagem antropológica: A casa de Augusta
Por: Victória Matias • 27/9/2018 • Seminário • 1.607 Palavras (7 Páginas) • 176 Visualizações
Introdução
Na reportagem que saiu no jornal O Norte de Minas do dia 07/02/20017 mostra como o corredor cultural faz parte da história tradicional de Montes Claros.
“Um dos mais importantes cartões-postais de Montes Claros, localizado no Centro Histórico do município, é o Corredor Cultural, criado pela administração anterior. O espaço abriga atividades culturais: serestas, feiras, exposições, barzinhos, livrarias, lojas de antiguidades, sebos e outros.”
O Norte de Minas.
O corredor cultural traz consigo uma história de conservação do patrimônio público. Nessa área está concentrada uma vasta gama de opções para conhecer mais da cultura local. É neste espaço também conhecido, um dos cartões postais da cidade, que se encontra atualmente Museus, Livraria, Café, Estúdio de tatuagem, Galeria de arte e finalmente a Casa de Augusta, que é onde concentraremos nossos esforços nesse trabalho etnográfico.
A Casa de Augusta é um espaço Cultural composto por bar, galeria de arte e estúdio de tatuagem. O nome do bar é uma homenagem a Avenida Augusta localizada no centro de São Paulo. Nela encontra-se diversos bares e boates dos mais diferentes estilos que proporciona ao público visitante a possibilidade de noites mais “alternativas”.
A proposta do bar a Casa de Augusta é exatamente essa, trazer para as noites Montesclarenses uma opção mais alternativa de lazer. Dentro os vários serviços oferecidos ou intermediados por ela, temos, por exemplo, a exposição de obras de artistas regionais e a valorização de diversos aspectos da cultura local através da música e da culinária.
Os trabalhos de campo realizados para a criação desse trabalho se deram em um primeiro momento durante as Festas Tradicionais de Agosto, conhecida como Catopês, e em um segundo momento durante uma visita que fizemos em um dia de funcionamento comum. Abordaremos temas como a sociabilidade juvenil alternativa e como esse bar trouxe para o Corredor Cultural um novo semblante.
Desenvolvimento
Umas das primeiras coisas que notamos ao conversar brevemente com os clientes do bar é o surgimento do termo “alternativo”, tanto para se referir ao bar como os indivíduos que o frequentam. Segundo Neiva, autora de Entre Notas Musicais e Trabalho de Campo – mercado, musica e sexualidade,
“No que se refere à sexualidade, a palavra alternativo significaria aquilo que não se basta em definições estanques quanto a identidade sexual e se encontra em ambientes com maior fluidez sexual, abarcando desde sujeitos heterossexuais, bissexuais e homossexuais, até aqueles que se dizem “sem rótulos” ou que circulam por entre as fronteiras das categorizações sexuais corrente.” (NEIVA, 2014 apud NEIVA, 2013a).
A Casa de Augusta é um bar que faz parte do circuito alternativo de Montes Claros. Inaugurada em 2016, ela trouxe para a cidade, especificamente para o Corredor Cultural, uma forma de lazer embasada na cultura. Os sujeitos que frequentam o bar, e os eventos promovidos por ele, podem ser considerados, em sua maioria, como “alternativos”. O publico é composto principalmente por jovens de 18-28 anos, mas também encontramos diversos frequentadores com uma faixa etária maior. Esses jovens são, em boa parte, universitários. Apesar de não haver distinção proposital o publico é composto pela classe média que tem condições financeiras de consumir algo durante sua visita. Não há um estilo especifico dos frequentadores do bar, pois em nossas visitas a campo constatamos pessoas dos estilos rocker, hipster, indie e do tipo “hétero padrão”.
Simultaneamente aos Catopês aconteceram vários eventos e exposições culturais promovidas pela Casa de Augusta. Dessa forma pudemos ver em maior escala o publico que frequenta o bar em dias normais. Notamos a presença de heterossexuais, bissexuais e homossexuais, tanto afeminados quanto hétero normativos. Havia também pessoas com cabelos das mais variadas cores e cortes. Mulheres de cabeça raspada e homens de cabelo longo. Pessoas com tatuagens, piercings, alargadores, dreads e tranças. Vimos também muitos fumantes. Na visita que fizemos em um dia de funcionamento normal vimos pessoas com um estilo mais voltado para rocker, outras de estilo “topzera”, família tradicional branca de classe média, jovens do estilo hipster/indie, fumantes e casais gays. Essas observações reafirmam a designação do bar como alternativo, pois abrange um publico frequentador de todos os estilos, sem fazer diferença ou dar preferência para um estilo específico.
As atrações culturais trazidas pela Casa de Augusta durante os Catopês se caracterizavam por serem alternativas. Nesse sentido alternativo se refere às atrações musicais que não fazem parte do estilo musical preponderante na cidade. As bandas trazidas de estilos variados, como MPB, samba, rock, rock psicodélico e blues. Valorizando, portanto, os músicos locais em busca de um público cada vez mais abrangente. A musica é fundamental para compor o estilo do bar, sendo que na nossa visita a campo constatamos que a Música Popular Brasileira é bastante enaltecida pelo mesmo.
Falta falarmos da Casa de Augusta enquanto um estabelecimento físico. Ela é localizada no Corredor Cultural em um prédio histórico. Nesse prédio temos uma Cafeteria e Tabacaria e ao lado temos o bar Casa de Augusta, que é composto por uma Galeria e um Estúdio de Tatuagem. A parte interna do bar é muito bem decorada, podendo encontrar imagens e frases. Há uma forte presença de objetos de madeira dando ao local um aspecto mais “cool”. Encontramos também na parte interna uma sala vazia onde estão expostas imagens e frases. O mais interessante é que nos dias de funcionamento os frequentadores não ficam dentro do bar e sim no lado de fora, onde são colocadas mesas e cadeiras para as pessoas sentarem.
Em uma conversa que tivemos com o idealizador do bar SV* ele nos disse que a intenção do bar era proporcionar um encontro da diversidade. Ele pensou um local onde qualquer pessoa poderia se sentir confortável para ser quem é, sem medo de sofrer algum preconceito. Outro lado era trazer para o Corredor Cultural uma nova movimentação.
O Corredor Cultural é um local histórico de Montes Claros, localizada bem no centro da cidade. “O centro de uma cidade é, pois, o teatro dessa luta de tendências. Sua síntese se manifesta pela criação de uma paisagem”. (SANTOS, 1965, p.29). Ocupado também através de grafites e pichações vem recebendo desde sempre eventos culturais. Todavia, a recorrência desses eventos era muito baixa e a juventude Montesclarense não se apropriava dos benefícios que ele proporcionava. Utilizando a frase do nosso interlocutor SV “era um corredor cultural que de cultura não tinha quase nada”. Com o aparecimento da Casa de Augusta esse cenário se alterou. Pois além de organizar eventos e promover a cultura local, ela deu espaço para a juventude começar a frequenta-lo e desse modo participar e construir a historia do bar e do próprio Corredor Cultural.·.
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