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A ATUAÇÃO DE ANNA AMÉLIA CARNEIRO DE MENDONÇA: OS CAMINHOS DO FEMINISMO DURANTE O BRASIL REPÚBLICA.

Por:   •  3/3/2020  •  Projeto de pesquisa  •  8.848 Palavras (36 Páginas)  •  214 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS

ISABELA BRACALENTE INFANGER 

 

A ATUAÇÃO DE ANNA AMÉLIA CARNEIRO DE MENDONÇA: OS CAMINHOS DO FEMINISMO DURANTE O BRASIL REPÚBLICA.

 

Projeto de Mestrado

Departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Linha de orientação: Cultura, Historiografia e Patrimônio

 

ASSIS

2020

RESUMO

A atuação feminina na vida literária, educacional e política brasileira, em meados dos séculos XIX e XX, foi significativa e efetiva. Nomes esquecidos e excluídos voltaram à cena graças às pesquisas recentes que trouxeram à tona a legitimidade e visibilidade das atividades sociais e políticas de mulheres, atividades estas que fizeram parte, efetivamente, da historia do Brasil. A pesquisa em questão iniciará transpassando uma das manifestações que melhor enfatizaram a busca por espaço das mulheres entre os cidadãos na contemporaneidade: a luta pela emancipação da mulher. Tendo como recorte o período da Era Vargas e, mais especificamente, da instalação do Estado Novo no Brasil República (1937-1945), será analisada a personagem Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça (1896-1971), poetisa brasileira que atuou no movimento organizado feminino e sufragista no Brasil. O presente projeto terá como objetivo compreender e desvelar a trajetória de atuação feminista dentro do Estado Novo, tendo como base documental os feitos, ações e articulações de Anna Amélia em sua carreira como intelectual e atuante nas políticas socioculturais do período. Para isso, utilizaremos a documentação presente no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Arquivo Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça, que inclui as séries militância feminista dentro também de recortes de jornais (1927-1950) e a série participação e colaboração em associações, órgãos e institutos (1925-1950). Esses documentos textuais serão utilizados inicialmente para a compreensão do viés que formulou os primeiros pensamentos feministas das brasileiras como agentes históricas dentro do regime estado-novista.

PALAVRAS-CHAVE: Feminismo. Era Vargas. Intelectuais. Anna Amélia Carneiro de Mendonça.

  1.  INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

O seguinte projeto de pesquisa busca estudar e compreender os caminhos do pensamento feminista no Brasil da Era Vargas (1930-1945), tendo como objeto de análise a personagem Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça, poetisa, tradutora e feminista carioca, nascida no Rio de Janeiro em 1896 e falecida em 1971. O foco, entretanto, volta-se para análises da atuação da escritora no que diz respeito às suas publicações em jornais e revistas, ações filantrópicas socioculturais e da luta pela emancipação feminina, refletindo as articulações da mesma dentro da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (1922), cuja entidade sem filiação e considerada de utilidade pública em 1924, tinha como objetivo a expansão dos direitos civis e políticos das mulheres de todo o país. Compreendendo a necessidade de uma releitura do movimento feminista brasileiro dentro da Era Vargas, assim como das influências do movimento sufragista internacional e do regime autoritário corporativo do Estado Novo, esta pesquisa se articula justamente em resposta a este problema.

Adotaremos aqui a estrutura cronológica apresentada pela antropóloga Carla Cristina Garcia ao considerar as fases da filosofia feminista. A primeira onda, do feminismo moderno, se estrutura perante a Revolução Francesa; a segunda onda vem com movimentos sociais do século XIX e metade do século XX; e a terceira, começa com movimentos nos anos 60 e continua se propagando. [1]

As primeiras representações da luta das mulheres dentro da produção historiográfica, como são citadas na obra de Michelle Perrot e George Duby, ocorreram durante a Revolução Francesa, tendo as mulheres presença significativa na ação política e na produção do discurso público. Contudo, foram negadas de participarem como cidadãs na formulação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão[2]. Essa primeira onda lançou as bases do feminismo moderno através do igualitarismo entre homens e mulheres, economicamente independentes, e a necessidade da participação política e da representação parlamentar femininas. Tais preceitos fizeram com que a associação do feminino com a sensibilidade, a fraqueza ou a emotividade (em contraposição à racionalidade e à força) fosse entendida como fruto de um sistema de opressões, levando na prática à redução das possibilidades de ação, protagonismo e autonomia das mulheres[3].

        A segunda onda já nasce como um movimento social de âmbito internacional, tendo autonomia e caráter organizativo. Com os processos de urbanização e industrialização do século XIX, que tiveram lugar principalmente na Europa e na América do Norte, a tendência de um feminismo igualitário (tanto para as mulheres burguesas como para as mulheres operárias) trouxe a luta pela autonomia e emancipação jurídica e econômica das mulheres. O nascimento do movimento sufragista no Brasil, vindo da Inglaterra e dos Estados Unidos da América, caracterizava-se por uma nova burguesia composta por uma classe média de mulheres educadas.  A influência da religiosidade na articulação dessas mulheres não pode ser ignorada, uma vez que a concepção protestante de que o trabalho leva à salvação faz deste um direito, inspirando esta classe que começava a se articular para ações em favor ao direito de voto e educação. A historiadora June Hahner, em suas análises expôs que mesmo que o movimento tenha se tornado popular pela ênfase que dava ao voto, as sufragistas buscavam igualdade em todos os terrenos, apelando à autêntica universalização dos valores democráticos e liberais[4].

Tal concepção pregava mudanças progressivas no intuito de levar a igualdade entre os sexos masculino e feminino. As sufragistas tinham a compreensão de que, por ser presente na sociedade a falsa crença de que as mulheres são biologicamente, intelectualmente e fisicamente menos capazes que os homens, elas eram discriminadas nas instituições acadêmicas e no mercado de trabalho. Porém, compreendendo essa diferenciação, as sufragistas acreditavam que “a subordinação feminina estaria enraizada em um conjunto de restrições habituais e legais que bloqueiam a entrada das mulheres para o sucesso na esfera pública”[5]. Em outras palavras, uma reforma no sistema político e jurídico dentro do capitalismo seria uma forma definitiva de atingir seus objetivos.

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