A Carta, De Pero Vaz De Caminha
Artigos Científicos: A Carta, De Pero Vaz De Caminha. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: LUCYHANSEN • 8/1/2014 • 7.501 Palavras (31 Páginas) • 629 Visualizações
A Carta, de Pero Vaz de Caminha
Fonte:
Carta a El Rei D. Manuel, Dominus : São Paulo, 1963.
Texto proveniente de:
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo
Permitido o uso apenas para fins educacionais.
Texto-base digitalizado por:
NUPILL - Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística <http://www.cce.ufsc.br/~alckmar/literatura/literat.html>
Universidade Federal de Santa Catarina
Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima sejam mantidas. Para maiores
informações, escreva para <bibvirt@futuro.usp.br>.
Estamos em busca de patrocinadores e voluntários para nos ajudar a manter este projeto. Se você quer ajudar de alguma forma, mande um email
para <bibvirt@futuro.usp.br> e saiba como isso é possível.
A Carta
Pero Vaz de Caminha
Senhor,
posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa
Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou,
não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder,
ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer!
Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que,
para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.
Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o
não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado.
E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:
E digo quê:
A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do
dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária.
E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E
domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo
Verde, a saber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.
Na noite seguinte à segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua
nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser !
Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais
!
E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de
Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha --
segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de
ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o
nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam
furabuchos.
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um
grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã,
com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra
A Terra de Vera Cruz!
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas da
terra, lançamos ancoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali ficamo-nos toda aquela
noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios
pequenos diante -- por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças -- até meia
légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a
esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os
navios pequenos que chegaram primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau
do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver
aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos
três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.
Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e
suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que
pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento
que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e
uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe
arremessou um sombreiro
...