A Educação e Decolonialidade
Por: Elisangela Teixeira • 24/11/2022 • Artigo • 2.403 Palavras (10 Páginas) • 130 Visualizações
Introdução
O presente texto visa tratar de um assunto muito discutido em nossa sociedade contemporânea, que promove a desconstrução de padrões, conceitos e perspectivas que ao longo do período colonial, foram impostos aos povos subalternizados, nos quais vem sendo ainda propagados e permeiam o imaginário social; o conceito de decolonialidade.
Muitos autores na América Latina têm buscado uma abordagem sistematizada acerca desse termo, no entanto, há uma variação de matrizes nas quais buscam tratar desse conceito. De modo geral, ambos visam a construção de uma crítica ao modelo colonial, não se restringindo apenas ao modelo e à crítica, e sim, buscando apresentar uma intervenção prática.
O conceito de decolonialidade é posterior ao próprio conceito de colonialidade, onde o primeiro visa a desconstrução do segundo. Através desse conceito tem-se buscado compreender as consequências históricas, culturais, sociais e econômicas decorrentes do colonialismo. Pressupõe-se que o fim do regime colonial, enquanto modelo de organização da sociedade economicamente, socialmente e politicamente, não resulta no fim dessa prática nessas sociedades, uma vez que o imaginário coletivo dessas sociedades demonstram evidentes resquícios sócio-culturais que repercutem diretamente nas relações entre esses povos.
Ao se tratar do cenário brasileiro, temos uma exemplificação evidente desse conceito, uma vez que somos estruturados através de uma lógica escravocrata, em que o racismo negro é um grande dispositivo da desigualdade social presente em nossa sociedade até os dias de hoje.
Sendo a decolonialidade abordada através de diferentes perspectivas, que estudam as relações de poder e a produção acadêmica, é necessário a visão de que a decolonialidade tem buscado direcionar até mesmo a maneira de se produzir conhecimento, através da luta contra o racismo estrutural e mesmo o racismo epistêmico, denunciando a predominância de pensamentos oriundos de homens, brancos, europeus, que tem dominado os currículos acadêmicos de países colonizados.
Essa grave questão, nos leva a crer na ocorrência de um epistemicídio, por não considerar o pensamento de outros povos. Se tratando de uma luta que vai além da questão ética, a luta decolonial implica na produção de um pensamento que não seja unilateral e contraproducente, uma vez que a realidade é uma síntese de múltiplas determinações, sendo necessário o uso de variadas perspectivas.
A corrente decolonial tem sido assunto de diversos autores nas variadas áreas da ciência, uma vez que muitos autores contemporâneos têm demonstrado interesse em rever um conjunto de ideias e verdades que foram construídas ao longo do tempo e que nos impedem de fazer uma lúcida interpretação do mundo, o que por sua vez, nos direciona a construção de uma sociedade melhor.
Mediante toda abordagem apresentada anteriormente, faz-se necessário uma compreensão da própria história, para que as consequências desse processo histórico sejam de fato vencidas. Logo, julga-se necessário compreender de que modo a perspectiva decolonial no ensino de História pode colaborar para superar o racismo epistêmico, bem como, sendo essa a problemática central a ser discutida na presente produção textual.
Desenvolvimento
Como já abordado anteriormente, o conceito de decolonialidade pode ser entendido como um caminho para resistir e desconstruir padrões, conceitos e perspectivas que ao longo do processo colonial, foram impostos aos povos subalternizados, em que também manifesta uma crítica direta à modernidade e ao capitalismo.
Através do pensamento decolonial, tem-se alterado a forma de se pensar a História, onde o pensamento eurocêntrico tem sido desconstruído, dando abertura à novas perspectivas de se compreender a realidade. Através da compreensão da realidade por meio de outras visões de mundo, abre-se um leque que considera as múltiplas determinações de contextos, consequentemente, surge a necessidade de se reinterpretar e recontar a história através da óptica de povos que foram subalternizados no contexto colonial, enriquecendo assim, nosso repertório histórico-cultural, e denunciando práticas elitistas no meio acadêmico.
Ao se refletir acerca de como deve-se ensinar História, a fim de desconstruir as práticas sociais deixadas pelo colonialismo, que de certa forma, ainda se manifestam em nossa sociedade, estando enraizadas no imaginário social, e que conscientemente ou inconscientemente interferem no nosso modo de organização, linguagem, relações de poder, é necessário que seja repensado de forma intencional a produção curricular dessa ciência, a atuação do sujeito responsável pela produção e ensino desse conteúdo.
Uma vez que o racismo epistêmico é entendido como uma dimensão perniciosa da discriminação étnico-racial, que implica na recusa de autores que não sejam homens brancos defensores do sistema, o conceito de decolonialidade tem sido reacionário à esse processo, uma vez que busca a desconstrução desses paradigmas no meio acadêmico, visando a inserção de perspectivas que não corroboram ao eurocentrismo. Desse modo, a decolonialidade busca a valorização das singularidades de linguagem, que constitui a subjetividade e expressividade dos sujeitos subalternizados, enaltecendo seus saberes, tornando-os assim produtores de conhecimento, não sendo reprimidos por meio dos discursos de dominação:
Pelo discurso de dominação, a colonialidade do saber, seleciona e desloca sujeitos e saberes a marginalidade, cria impossibilidades para que os condenados da terra assumam a posição de produtores de conhecimento e possam acender intelectualmente. Estamos tratando de mecanismos de poder que operam por meio de discursos e controle social, que sustentam a matriz eurocentrada, que pretende uma assepsia; uma espécie de eugenia epistemológica, aversa a intelectuais e outras formas de conhecimento, que não façam parte do sistema hegemônico: branco, europeu, misógino e racista. (ARAÚJO; SANTOS, 2020, p. 76).
Ainda seguindo a linha de pesquisa desses autores, compreendemos o racismo e negação histórica dos afro-descendentes como mecanismos de dominação de uma elite branca com relação a população negra, essa dominação por sua vez, vem sendo mantida não mais como era nos períodos de dominações colonialistas, onde havia o uso da violência física, mas sim, de forma velada, incompreendida ou mesmo impercebida por olhares menos atentos, mas que perdura em nosso meio social, que segrega o arsenal cultural de um povo, recusando reconhecer e valorizar o conhecimento e saberes oriundos desses.
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