AS QUESTÕES REGIONAL E NACIONAL - IDALECIO SOARES
Por: Itamara Soares • 24/2/2016 • Ensaio • 576 Palavras (3 Páginas) • 235 Visualizações
AS QUESTÕES REGIONAL E NACIONAL
A problemática regional levou Gilberto Freyre a retornar a uma velha questão que preocupava os estudiosos brasileiros desde o tempo do Império: a caracterização das regiões brasileiras. No período colonial o território brasileiro era dividido, de forma genérica, em Norte e Sul, estando o Nordeste e a Amazônia incluídos em um mesmo bloco. Posteriormente, em estudos de geografia política e de política propriamente dita, começou-se a distinguir algumas áreas dentro de cada uma das duas unidades, como o chamado continente de São Pedro do Rio Grande do Sul (Rodrigues, 1954) e o Maranhão, no Norte.
Gilberto, em seus estudos, a partir do Congresso Regionalista de 1926, caracterizou a existência de uma região nordestina, distinta da do Norte, e a sua subdivisão em duas sub-regiões, uma de clima úmido – a Mata – e outra de clima semiárido – o Sertão. Como diretor da Coleção Documentos Brasileiros, ele resolveu escrever um livro sobre a primeira região, enquanto o sociólogo cearense Djacir Menezes (1937) escreveu um outro sobre a segunda. Só posteriormente é que o então Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dividiu o território nacional em grandes regiões geográficas, consagrando a existência do Nordeste.
A partir do problema regional, ele passou a analisar a questão nacional, propugnando por uma unidade cultural brasileira, com o que chamou de cultura luso-brasileira. Nessa orientação, entrou em choque, durante a Segunda Guerra Mundial, com o geomorfologia R. Mark, que defendia a coexistência de uma cultura alemã entre os descendentes de colonos alemães Na outra página, Gilberto Freyre, em 1980, na sede da Fundação Joaquim Nabuco radicados no Brasil (Freyre,1940). Em seguida, procurou desenvolver um ramo de saber que denominou de luso-tropicologia, baseado na ideia de que os portugueses, vivendo em uma região de clima subtropical e ligados à África pela influência moura e pela proximidade mediterrânea, teriam maior facilidade de adaptação e de convivência social com os povos tropicais. Para difusão desses princípios, Gilberto Freyre viajou, escreveu livros e artigos e institucionalizou um Seminário de Tropicologia que se realiza faz mais de vinte anos, a princípio na Universidade Federal de Pernambuco e em seguida na Fundação Joaquim Nabuco.
O desdobramento geopolítico dessa ideia levou o sociólogo a defender a formação de uma comunidade luso-brasileira, que compreenderia tanto Portugal como o Brasil e as então colônias portuguesas da África – Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe –, da Ásia – Índia Portuguesa e Macau – e da Oceania – Timor Leste. A língua e os traços culturais ibéricos seriam o laço de união que os solidificaria. Essas ideias estão expostas em livros e conferências (Freyre, 1961).
Uma questão poderia ser levantada: será que o Brasil, por sua posição geográfica e por sua formação sociocultural, está posicionado como um país sul-americano, voltado para o continente em que se situa ou que, com sua longa fachada atlântica, encontra-se voltado para os países africanos de língua portuguesa? A implantação do Mercosul, que é posterior às proposições de Gilberto Freyre, indica um direcionamento mais forte para os países hispano-americanos do continente, mas uma análise geopolítica do Atlântico Sul indica também que a vocação brasileira é conciliar as duas direções, numa posição de equilíbrio e de influência tanto na América Latina como na África. É muito arriscado fazer prognósticos, mas a efetivação do Brasil como potência mundial vai depender dos rumos que forem tomados pelo processo, em curso, de globalização e do jogo de influências entre as grandes potências atuais.
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