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Análise De A Enxada E A Lança, De Alberto Da Costa E Silva

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Por:   •  9/12/2014  •  1.907 Palavras (8 Páginas)  •  444 Visualizações

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O autor apresenta a África como um continente maciço, com um litoral sem grandes reentrâncias. Após localizá-la geograficamente, mostra que esta pode ser dividida em duas Áfricas, com realidades distintas, pelo enorme deserto do Saara: África mediterrânea e África subsaariana. A forma compacta e alongada do continente a caracteriza como tropical, e o afastamento do Equador significa um maior período de seca e abrandamento da temperatura. Quanto mais se distancia do oceano, se notam o aumento da amplitude térmica e da inconstância das chuvas. A paisagem é feita de grandes espaços, vastos verdes e luz.

A população do continente, pouco densa, era separada por vazios demográficos. Com o crescimento das populações, começou-se a usar um sistema de utilização rotativa da terra ao redor de uma aldeia fixa, ocupando parte do espaço e cultivando a outra parte. A terra é pobre e perde facilmente a fertilidade e, todos os anos, tem a angústia da espera das chuvas. O boi era um bem de capital, pois com ele se prova o poder e a importância do homem, e era moeda para compra de mulher e começo de uma família. O pescado era um item importante do comércio interafricano, assim como o sal, o cobre (muitas vezes tido como tão precioso quanto o ouro), o ferro e o ouro. Extraíam-se também chumbo e estanho, e a cerâmica era produzida com enorme riqueza.

O continente também é rico em idiomas. Greenberg classificou-os, em 1949/1950, em quatro grandes grupos. Um destes, o afro-asiático, domina o norte e o Chifre da África, e avança pelo interior até a Tanzânia. A família linguística níger-cordofaniana é falada nas montanhas do Sudão, mas se estende por amplo território, cobrindo quase metade do continente. O terceiro grupo, nilo-saariana, ocupa o vale superior do Nilo, parte do Saara e do Sudão orientais e a grande curva do Níger. A última família, coissã, une as línguas que possuem cliques entre as consoantes.

Há, além da angustiante seca, outras moléstias neste continente. As inundações, nuvens de gafanhotos, pestes vegetais e animais, guerras e o tráfico de vidas humanas, que dilacerou sociedades e corrompeu lealdades, tradições e princípios, espalhando o medo e a insegurança. Essa sangria, como o próprio autor se refere, se disseminou pelo continente, maculando uma África que: “... é rica em diversidade, fraciona-se em incontáveis culturas e fala numerosíssimos idiomas.”

O reino de Axum localizava-se na região oeste do planalto do Tigrê, a Eritréia, região da atual Etiópia, com solos bem regados e acesso ao mar Vermelho e ao Nilo. Foi um reino que, quando ainda existia apenas como cidade, sofreu grande influência da cultura iemenita até o começo do século III a.C. A região da Eritréia era, então, famosa pelo comércio de marfim, peles, ouro, plumas e produtos exóticos, com fama de mercado certo, independente do lado para qual fossem os navios asiáticos e árabes que ali chegavam.

Segundo o intrincado e lendário mito de fundação da Etiópia, a monarquia do país descende da dinastia de Menelique, filho da rainha de Sabá e do rei Salomão de Jerusalém, e o país seria a nação escolhida por Deus, pois para lá foi transferida a Arca da Aliança, por vontade do Senhor. Algum tempo depois, a monarquia tinha outra fonte de legitimidade. Eram descendentes diretos, filhos ou encarnações do deus Marém, associado ao deus Ares da mitologia grega. Depois de tornar-se o rei dos reis, expandiu seus poderes para cumprir sua missão de unificar o norte da Etiópia.

A miscigenação de culturas foi positiva para Axum, que recebeu casas de pedra, escrita, técnicas de irrigação, novos vegetais, ferro, mula e arado dos iemenitas, porém “é difícil estabelecerem-se os limites do certo, do provável e do duvidoso”. A agricultura era a base da economia, junto com a criação de gado. O excedente desta produção abria portas para a especialização do trabalho, como manufaturas de couro, tecidos, madeira e metais. Houve grande influência do judaísmo, do cristianismo e também de religiões pagãs, e tanto a corte quanto a plebe tinham como sagrados os locais onde seus ancestrais jaziam.

No século III a.C., nota-se uma separação da cultura do norte da Etiópia com a iemenita. Isso pode ter se dado a partir da política ptolomaica de conversão do mar Vermelho em um local grego-egípcio, como um primeiro passo para o controle comercial do Índico. Houve, nesse período, um aumento dos utensílios de bronze e ferro. A quantidade e a qualidade desses objetos sugerem um desenvolvimento da vida urbana. Stuart Munro-Hay diz que, nessa cidade, dominava uma dinastia que se impôs militarmente sobre outros centros de poder, tornando Axum um importante empório. O profeta Mani, no fim do século III a.C., em sua obra Kephalaia, coloca o reino de Axum entre os quatro grandes impérios mundiais, junto com Roma, Pérsia e China.

Os reinos cristãos da Núbia (blêmios, nobas, nobatas) se expandiram em um período que coincidiu com a decadência de Méroe, cidade vizinha ao reino de Axum. Esses reinos se caracterizavam, em geral, pela crença da vida após a morte. Diz-se isso pois túmulos descobertos possuíam, junto dos grandes chefes e nobres ali enterrados, servidores, mulheres e animais, além de objetos de estima. Também, nestes túmulos, foi descoberto o grande valor da classe militar, que se assentava no cavalo. Eram bons guerreiros e cameleiros excelentes, com rapidez e pontaria; tinham uma cavalaria exímia e arqueiros famosos e temidos.

Sabe-se que os nobatas se puseram a serviço de Roma, e Justiniano quis extinguir o paganismo dos seus domínios e vizinhanças, e consolidar a conversão da Núbia para o cristianismo. Com esta consolidação, se recuperou o uso da escrita (em núbio antigo, com o alfabeto grego copta modificado) após 300 anos de pausa. A nova religião também agiu como modo de coesão política, e deu nova legitimidade aos monarcas.

A Núbia não se atinha apenas ao poderio militar. Tinha uma economia crescente e próspera, e um bom uso da terra. Dependiam da agricultura e do pastoreio, e não dependiam inteiramente das cheias do Nilo. Uma variedade de atividades de manufatura eram praticadas, como incluindo objetos de cerâmica acessíveis a todas as classes. Eram tão belos estes produtos que, por serem de uso diário (comum), constatou-se que deviam ter um alto grau de conforto e bem-estar na vida urbana. Exportava escravos, gado, ouro e marfim, e servia de entreposto para produtos mediterrâneos e asiáticos.

Era uma monarquia, ao que parece, e o rei era senhor de todos os homens que viviam em seu país. Havia também um altíssimo funcionário, conhecido como “senhor da montanha” ou “senhor dos cavalos”, que tinha prerrogativas reais, podia

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