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Análise de Fonte: Vamonos con Pancho Villa

Por:   •  10/10/2017  •  Artigo  •  5.202 Palavras (21 Páginas)  •  377 Visualizações

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A desconstrução de um mito revolucionário mexicano: uma análise do filme ¡Vamonos con Pancho Villa!

A Revolução Mexicana foi marcada pelo protagonismo de diversos líderes revolucionários e dentre eles, o guerrilheiro José Doroteo Arango, também conhecido como Francisco “Pancho” Villa, que destacou-se como um dos líderes mais carismáticos, sendo o principal personagem das forças camponesas do Norte. O líder popular ganhou manchetes em jornais, coberturas jornalísticas, foi representado na literatura, canções, biografias e também em grande volume de obras cinematográficas; porém, muitas vezes as interpretações a respeito desse expoente revolucionário ao longo do século XX no que se refere a sua figura mítica são controversas. Entretanto, no período insurrecional (1910-1920) da Revolução Mexicana, Villa era visto como uma lenda épica, um herói do campesinato, um justiceiro dos pobres, ou seja, um modelo de pessoa a ser seguido. De acordo com Barbosa (2010):

Villa foi uma figura ambígua, de ampla publicidade dentro e fora do México. Seu caráter contraditório e esquivo contribuiu para torna-lo uma personalidade confusa e multifacetada. Encarnou o machismo mexicano e hispânico, mas também correspondia a imagens positivas da invencibilidade do “bandido- providência”, do heroísmo épico. Existem três lendas sobre ele: a lenda branca (...) [onde] Villa aparece como uma vitima do sistema social e econômico do México (...). A lenda negra retratou-o como bandido sanguinário, assassino sem escrúpulos e ladrão de gado (...). Já na lenda épica, erigida ao longo da própria Revolução, Villa aparece como um herói popular antes mesmo da eclosão do movimento. Villa já então seria um herói do campesinato, uma espécie de Robin Hood mexicano, que roubava os grandes latifundiários e ajudava a população mais pobre da sua região (BARBOSA, 2010, p. 83).

Portanto, de acordo com Barbosa (2010) a representação do líder popular “Pancho” Villa foi construída sobre um herói do campesinato antes mesmo do estopim da Revolução Mexicana.  Roubava dos grandes fazendeiros ricos para ajudar os pobres camponeses desamparados, sendo comparado na literatura da época com o lendário herói Robin Hood.

Dessa maneira, nosso objetivo principal nesse trabalho é investigar a mudança de direção na representação da figura mítica de Francisco “Pancho” Villa na linguagem cinematográfica !Vámonos con Pancho Villa[1] produzida em 1935, no México, e será orientada pelos seguintes questionamentos: Por que a obra cinematográfica mexicana procurou descontruir a imagem do mito “Pancho” Villa, um dos líderes mais carismáticos, além de ser um modelo de homem a ser seguido da Revolução Mexicana?  Como o discurso imagético pode contribuir para a construção de determinado projeto político e/ou sociocultural de um determinado momento histórico?

Para procurar responder às questões levantadas utilizamos como aporte metodológico dialogar a obra cinematográfica com a bibliográfica sobre a temática, como o livro da especialista em cinema Mônica Kornis Cinema, televisão e história, além de autores da Nova História Cultural como Roger Chartier, Thomas Benjamin, dentre outros.

 !Vámonos con Pancho Villa, que foi produzido no calor da Revolução Mexicana em 1935, no então governo de Lázaro Cárdenas (1934-1949), momento pelo qual o Estado pós-revolucionário ainda procurava se estabilizar politicamente, após anos de luta armada e sucessivas trocas presidenciáveis. O longa-metragem aborda apenas uma faceta da Revolução Mexicana em que facções armadas, com demandas diversas e interesses antagônicos se uniram por alguns momentos para lutar contra o governo de Victoriano Huerta, como nos assegura Barbosa (2010):

(...)nesses primeiros anos da Revolução, verifica-se uma fragmentação das elites mexicanas e uma gradual mobilização das camadas populares, capitaneadas pelas forças revolucionárias camponesas, em especial as zapatistas e vilistas, tendo em segundo plano grupos urbanos provenientes de setores do proletariado e da classe média. A mobilização das camadas populares levou a um novo degrau da luta revolucionária; o objetivo agora era a tomada do poder central (...) (BARBOSA, 2010, p. 75).

!Vámonos con Pancho Villa aborda o fim da Primeira Fase da Revolução Mexicana (1913-1914), fase em que as lideranças revolucionárias se uniram para derrubar as forças federalistas de Victoriano Huerta[2].  A obra enfatiza somente a facção revolucionária popular liderada por Francisco Villa, um dos mitos da Revolução, mas que de acordo com a historiografia não possuía plataforma política e social bem definida. O comandante da facção do Norte, diferentemente da facção do sul liderada por Emiliano Zapata, “não possuía formas de mobilização e bandeiras políticas tão claras (...) o que dificultou a elaboração de um programa político de reformas sociais mais claras”. (BARBOSA, 2010, p.66).

          As populações campesinas na administração de Porfírio Díaz[3] perderam sua autonomia e terras comunais com o desenvolvimento de ferrovias, transporte, comunicação, indústrias, produção mineradora; além do governo ditatorial de Díaz favorecer haciendas, aumentando a posse de terras à elite agroexportadora. Sendo assim, os campesinos mexicanos foram prejudicados pela expropriação de suas pequenas terras, foram excluídos socialmente e não tiveram voz ativa em suas reivindicações cotidianas de modo pacífico, sendo necessário, muitas das vezes, ir para o conflito armado. No México pré-revolucionário havia um embate entre dois tipos de sociedade: sendo de um lado uma sociedade urbana e de outro uma sociedade rural que vivia precariamente. De um extremo havia o progresso e uma sociedade moderna, e de outro, havia uma imensa população rural com hábitos tradicionais, que tiveram suas terras expropriadas pelo porfiriato, gerando uma situação conflituosa entre campesinos e a elite mexicana que muito lucrou com a modernidade. Essa situação provocou uma imensa desigualdade social.  De acordo com Barbosa (2010):

a contradição e as difíceis relações entre as duas sociedades que conviviam na realidade do México – de um lado, um Estado moderno, surgido das reformas liberais e aprofundado pelo regime de Porfírio Díaz; de outro, uma sociedade tradicional vinculada aos pueblos, camponeses e grupos indígenas – foi uma das causas da Revolução Mexicana (BARBOSA, 2010, p. 44).

Várias foram as causas e demandas da Revolução Mexicana e antigos aliados se tornaram opositores de um momento para outro. Esse acontecimento foi marcado pela pluralidade e heterogeneidade das agitações políticas. Em determinados momentos, tais grupos se juntaram para derrotar um inimigo comum e num momento próximo, iniciava-se a disputa pelo poder, pois os interesses eram diversos, e, muitas das vezes, antagônicos. Foi assim, que forças políticas e sociais ambíguas, como as forças de Venustiano Carranza, Álvaro de Obregón, ligados a classe média e as elites, além de Francisco “Pancho” Villa e Emiliano Zapata representantes dos campesinos e dos grupos indígenas se uniram numa nova onda revolucionária para derrubar o governo contrarrevolucionário de Victoriano Huerta.

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