As Cruzadas : Guerra Santa entre Ocidente e Oriente
Por: Anne Louise Wolff • 28/12/2020 • Resenha • 3.565 Palavras (15 Páginas) • 334 Visualizações
Franco, Hilário Jr. As Cruzadas : Guerra Santa entre Ocidente e Oriente. São Paulo Editora Brasiliense, 1981.
Resenha:
A palavra cruzada não era utilizada no momento histórico em que a empregamos. O termo só irá surgi e de forma esporádica ainda em meados do século XVIII quando a idade medieval já perdia sua força. Os textos desse determinado período falavam mais em peregrinação, guerra santa, expedição da cruz e passagem. O termo cruzada surge como uma derivação do fato de seus participantes denominarem-se soldados de cristo e por bordarem uma cruz em sua roupa por isso. As Cruzadas podem ser compreendidas por expedições militares designadas aos inimigos da Cristandade e por isso eram legitimas aos olhos da Igreja, o que resultava no consentimento de privilégios materiais e espirituais a seus participantes, esses privilégios consistiam principalmente na indulgência, no consentimento do perdão a pecados, tais privilégios naquela determinada sociedade tornavam-se uma perspectiva muito atraente, nela o pecado e o crime eram indissociáveis. As cruzadas começavam em sua grande maioria pelo papa ou através dos clérigos.
Em síntese as cruzadas eram financiadas pelos seus próprios participantes e pela igreja, entretanto sua realização englobava várias atividades de diversas figuras sociais, segundo o texto: “os pequenos nobres empenhavam seus bens e vendiam a liberdade dos camponeses dependentes de suas terras, os senhores feudais recebiam ajuda de seus vassalos, os soberanos criavam tributos novos, a Igreja recebia donativos e taxava as rendas de laicos e clérigos”. No geral, as maiores Cruzadas não ultrapassavam os 10 000 combatentes.
AS MOTIVAÇÕES MATERIAIS
A sociedade feudal se estruturou em meados do século IX como resultado da interligação de instituições bem mais antigas (romanas e germânicas) com a nova conjuntura sócio-político-econômica decorrente do fracasso do império carolíngio. O feudalismo se configura por uma resposta da sociedade crista ocidental à crise geral que abalou daquele certo momento histórico. Em decorrência da decadência do setor mercantil, o mais influente na antiguidade clássica, o setor agrícola entrou em ascensão como o principal, logo a economia feudal é essencialmente agrária. Os senhorios em cada unidade de produção procuravam ser autossuficientes, produzia não somente seu próprio alimento como também seu utensílios, roupas e armas.
O setor mercantil tornara-se em suma insignificante, compreendendo-se na idade media por ser utilizados apenas quando as condições locais não disponibilizavam especifica mercadoria. A mão de obra empregada na idade média é a servidão, em que o trabalhador presta serviços compulsórios como na escravidão mas não é considerado um objeto como na antiguidade. Politicamente falando o feudalismo configurou-se pela a fragmentação do poder central, pode-se compreende-se assim como uma solução ao insucesso as tentativas de reunificação ao oriente. A nova configuração de sociedade apresentava um elevado afastamento entre a elite clerical e guerreira e o grande contingente de camponeses. A aristocracia era detentora de terras, logo deste modo de poder aquisitivo e econômico, arquitetou uma ideologia a justificasse: a sociedade de ordens.
O termo ”sociedade de ordens” provém nesta época de que cada pessoa possuía sua condição imposta por uma ordem divina, sendo assim a condição social pessoal era definida por Deus ao nascer do indivíduo, tornando-se validas a vitaliciedade e a hereditariedade. Nesta época apenas quem possuía recursos financeiros o que compreendia-se por possuir terras podia ser guerreiro. O livro, fala de três tipos de relações que poderiam ocorrer neste cenário entre as duas camadas básicas (clérigos-guerreiros e camponeses) que são : as relações horizontais na aristocracia por meio de contato feudo-vassálico, em um senhor feudal dispunha de um bem qualquer em sua maioria uma extensão de terra a um vassalo em troca de serviço militar ; as relações horizontais no campesinato em que os trabalhadores organizavam-se para desempenhar um conjunto de tarefas; as relações verticais aristocracia-campesinato , estas se configuram pelas obrigações que um servo tem para com um senhor feudal ou clérigo, vassalo, laico em função de proteção e do direito de viver e cultivar um lote de terra pertencente a algum destes últimos. O servo também tinha de entregar metade do que produzia como obrigação.
As grandes mudanças ocorridas no feudalismo como formação social foram o propulsor para as condições de surgimento das cruzadas. Entre os elementos materiais que partiram do feudalismo e estiveram na origem do fenômeno das cruzadas estão: O contexto de expansão demográfica em virtude da diminuição de contatos comerciais com o Oriente e assim um maior distanciamento das régios que lá pertenciam o que claramente dificultava a transmissão de doenças, relacionado a este contexto encontra-se :As guerras feudais que mesmo sendo frequentes pouco influenciavam o comportamento demográfico da sociedade, além de tais guerras tinha por objetivo aprisionar o oponente como forma de “resgate”, tendo este oponente por obrigação pagar o resgate ao seu senhor feudal; A abundância de recursos naturais foi determinante para a expansão demográfica; As inovações de técnicas agrícolas constatadas na época.
O livro afirma que a diferença entre a proporção de indivíduos do sexo masculino e do feminino pode ser explicada pela alteração da dieta proveniente do avanço tecnológico do período histórico. As cruzadas sem o surto demográfico não poderiam torna-se possíveis, o autor cita que o contexto comercial é uma elemento vital para poder compreender o principio das cruzadas, pois com a inovação das técnicas agrícolas têm-se um salto na produtividade permitindo atender as especificidades da sociedade e ainda gerar um excedente. Paralelo a este processo aos impérios do ocidente somente crescia a necessidade por produtos ocidentais (gêneros alimentícios e matérias-primas). Em virtude de sua localização por ser “(...)naturalmente predisposta a ser o elo de ligação entre Ocidente e Oriente(...)” a Itália obteve o privilegio na expansão do comercio. Veneza se torna uma grande detentora de relações comerciais com o Ocidente, assim apresentando grande papel nas Cruzadas como figura de interesses e posicionamentos a defender e prolongar no Ocidente. Gênova e Veneza se destacam por possuírem por desempenharem um importante papel no contexto das cruzadas.
Gênova torna-se em xi hegemonia mercantil no mediterrâneo ocidental. Para ela os objetivos comerciais e o combate ao herege infiel convergiam, o que de maneira extremamente fácil a situou as cruzadas. Fornecia transporte, empréstimo dentre outros artifícios em troca de vantagens comerciais nas cidades arrebatadas pelos cruzados deste modo Gênova caracterizou-se como um enorme e poderoso império colonial, abarcando as mais notórias ilhas do egeu, regiões do mar negro e o Chipre. Também influenciará as cruzadas, os negócios hanseáticos, principalmente em relação a ocupação da Europa Oriental. O contexto no qual se desenvolveu as cruzadas esta intimamente ligado às mudanças passadas. Um fator que se destaca em a transformação da sociedade de ordens para a estamental, esta mobilidade social possibilitou o surgimento de um excedente de produtividade e o desenrolar de câmbios comerciais.
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