As Matrizes Discursivas
Por: Elcimararaujo • 15/3/2018 • Trabalho acadêmico • 2.344 Palavras (10 Páginas) • 426 Visualizações
Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR[pic 1]
Núcleo de Educação
Departamento de História
Prof. Dr: Antônio Claudio Rabello
Aluno: Elcimar S. Araújo
RESUMO
Matrizes discursivas
Militantes e interpretes dos novos movimentos sociais falam muito do “cotidiano” enquanto lugar de resistência, base desde onde se gesta um projeto autônomo das classes subalternas, livres dos discursos elitistas conformados e institucionalizados em agencias que lhes são exteriores. A referencia ao cotidiano enquanto instancia de resistência contrasta com os registros que o apresentavam (e o apresentam) como manifestação de conformismo, da vida repetida, da reiteração não critica de uma opressão silenciosa.
Essa valorização do cotidiano já e uma expressão dos novos projetos e estilos que conformaram os movimentos dos anos 70. Esses projetos e estilos se constituíram acolhendo temas, imagens, aspirações que compuseram um modo de vida dos trabalhadores, e dando-lhes um sentido particular.
As experiências da “voragem do progresso” com a remodelação incessante da paisagem urbana e as mudanças repetidas de casas e trajetos, as longas distanciam, a casa própria como sonho e/ou com realidade, o acesso a novos bens de consumo e a linguagem da televisão, o ritmo febril de cada dia as experiências da aculturação dos migrantes na selva urbana e da mobilização das relações informais para enfrentar os desafios; as experiências do desemprego e do despotismo fabril, das diferenças de exploração entre profissionais e peões jovens e velhos, homens e mulheres, já vividas carregadas dos significados culturais instituídos, foram reelaboradas através dos movimentos sociais.
Os sujeitos não são livres para produzir seus discursos e nem podem inventar na hora seus sistemas de comunicação. Eles recorrem a matriz da própria cultura instituída, reproduzida através de uma pluralidade de agencias social. As matrizes discursivas devem ser, pois, entendidas como modos de abordagem da realidade, que implicam diversas atribuições de significado.
A potencialidade das novas matrizes esta, portanto, tão ligada à consistência interna das suas categorias e modalidades de abordagem do vivido quanto a sua abertura, as fissuras que deixa para poder incorporar o novo, aquilo que era ainda indizível e para o que não poderia necessariamente haver categorias feitas.
Podemos identificar na década de 70 a presença de três agencias ou centros de elaborações discursivas que visam o cotidiano popular e o reelaboram da ótica de uma luta contra as condições dadas. Isto quer dizer que neste estudo os discursos da ordem são abstraídos, ou seja, tomados como dados da realidade.
Para entendermos a sintaxe dessas reelaborações, devemos analisar as agencias que produzirão novos discursos encontraremos 3 instituições em crise que abrem espaços para novas elaborações. Tendo cada uma experimentado a crise sob forma de um descolamento com seus públicos respectivos, essas agencias buscam novas vias para reatar suas relações.
Da igreja católica, sofrendo a perda de influencia junto ao povo, surgem as comunidades de base. De grupos de esquerda desarticulados por uma derrota politica, surge uma busca de “nova formas de integração com os trabalhadores”. Da estrutura sindical esvaziada por falta de função, surge um “novo sindicalismo”.
Os movimentos sociais se constituem recorrendo a tais matrizes, que são adaptadas a cada situação e mescladas também entre si na produção das falas, personagens e horizontes que se mostraram no final dos anos 70. E eles terão também modificado as próprias matrizes que os alimentaram.
Procurei reconstituir essas três matrizes discursivas.
Em primeiro lugar isso implicou reconhecer as caraterísticas do lugar de onde elas são emitidas, tanto em sua natureza interna quanto na forma particular de estabelecer suas relações com o meio. Foi suposto que o modo de organização social condiciona a constituição dos sujeitos da ação, as falas e seus significados. Em seguida implicou a reconstituição de um molde, expressivo na organização argumentativa (os atos de linguagem envolvidos e os principais enunciados, que remetem a alguns princípios “estruturais”).
Como o que interessava particularmente eram os meios de reelaboração das experiências e o papel da atribuição de significados nesse processo, procurei saber em cada caso como e nomeado o vivido; que valores são invocados, como são nomeados os atores a que se faz referencias e que predicados lhes são atribuídos; que objetivos são visados e que conclamações são feitas.
Cristianismo das comunidades de base
Essa coordenação representava cerca de 10 grupos nos bairros de vila remo, cidade Ademar, cidade Dutra, cidade Leonor, reunindo cada grupo 20 ou 30 jovens. Eles se agregavam para refletir sobre a realidade, tomar contato com a população de seus bairros, às vezes fazer um jornalzinho. “era uma coisa muito devagarzinho”. “A situação não favorecia” lembra um dos participantes, invocando, além da repressão, a influencia ainda dominante dos cursilhos mais alienantes.
Um texto, que serviu de roteiro para a cerimonia, e hoje registro dessa emergência de temas e estilos da teologia da libertação em grupos de jovens católicos que atuavam nos bairros da periferia:
“certamente não basta refletir, ver mais claro ou mesmo falar. E necessário agir. Esta e hora de ação. Inteligente e firme. Por isso assumimos contigo, cristo, o compromisso de seguir o exemplo de quem, com coragem, começou o caminho da libertação. Não vai ser tarefa de uma hora nem de um dia, mas vamos ter a paciência e a firmeza de quem tem a certeza da vitória”.
O método pressupõe um “saber popular” que requer categorias para ser elaborado, opondo-se assim a uma concepção da educação como simples inculcação de um saber em seres puramente ignorantes. O padre Giorgio Callegari, que havia sido preso com militantes de esquerda, ao ser liberado criou o centro pastoral com o objetivo de resgatar a memoria de lutas e iniciativas populares, organizando-se ai um arquivo para subsidiar os movimentos que surgissem.
Para os educadores a alfabetização era um meio para a formação de consciências criticas no interior de coletividades auto-organização. Para os educandos a motivação inicial era a capacitação para melhor enfrentar o mercado de trabalho e poder “melhorar de vida”.
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