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Auto da Barca do Inferno

Por:   •  20/3/2017  •  Projeto de pesquisa  •  1.890 Palavras (8 Páginas)  •  263 Visualizações

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O Auto da Barca do Inferno

Cena 1

As duas barcas (inferno e céu) estão posicionadas e o Fidalgo (Deputado) chega.

Diabo: Ô despacho, está tudo pronto ai?

Ajudante: Sim chefinho, está tudo nos trinques! Acho que teremos muita gente para a tripulação.

Diabo: Lembre-se de só falar quando eu mandar, então cale-se!

Ajudante: Tudo bem chefinho, me perdoe.

Diabo: Ora, ora, o que temos aqui? Deputado Dom Arique? Você?

Fidalgo (Deputado): Sim, eu mesmo. Vote 45000. Pra onde vai essa barca? Parece meio caída...

Diabo: Vai para a Ilha Perdida, saímos em um instante!

Fidalgo (Deputado): Tem certeza que chega até lá? Está bem... Bom, isso é para a ralé, eu não ando em um troço desses.

Diabo: Você diz isso porque ainda não viu por dentro, temos ótimas acomodações.

Fidalgo (Deputado): E qual é o destino final?

Diabo: Vamos para o inferno?

Fidalgo (Deputado): Inferno? Bem, esse lugar não parece muito acolhedor...

Diabo: Mas você só reclama, hein? O inferno é bem melhor do que aparenta, o clima é bem quente.

Fidalgo (Deputado): Quem você acha que vai subir nessa coisa?

Diabo: Quem está procurando barca não sou eu, senhor Deputado.

Fidalgo (Deputado): Eu não subo. Reze por mim, irei em busca de outro lugar.

Diabo: Eu? Rezar? Filho, você sabe com quem está falando?

Fidalgo (Deputado): Não sei quem é você, mas devo ter roubado seus impostos também!

Diabo: Estou perdendo a paciência com você, acha que tenho o dia todo? Vai subir ou não? Decida-se logo.

Fidalgo (Deputado): Não tem outra barca?

Diabo: Acho que não...

Fidalgo (Deputado) – gritando: Alô? OI? Tem alguém ai?

Anjo: Posso ajudar?

Diabo: Chegou o recalque...

Fidalgo (Deputado): Essa é a barca que vai para o Paraíso?

Anjo: Obviamente, meu senhor. O que deseja?

Fidalgo (Deputado): Desejo entrar, obviamente. Sou Deputado Estadual, vote 45000.

Anjo: Não embarcamos pessoas do seu tipo.

Fidalgo (Deputado): Mas por quê?

Anjo: A barca é pequena e a procura é grande. Além do mais, o senhor roubou e foi corrupto, não acho isso muito certo

Fidalgo (Deputado) –rindo: Se você levar esse critério, pouca gente embarcará.

Anjo: Então que assim seja.

Diabo: Parece que temos um ratinho com o rabo entre as pernas... O que deseja Deputado:

Fidalgo (Deputado): Vou ter que ir pro inferno mesmo...

Diabo: O que o senhor disse? Acho que não ouvi

Fidalgo (Deputado) – gritando: ACHO QUE VOU TER QUE IR PRO INFERNO! Afinal o clima é mais quente.

Diabo: Então, pode subir, amigão.

Fidalgo (Deputado): Oh céus, eu confiei no Estado e parece que não adiantou. Tomara que nenhum da classe C suba aqui... Mas espere, antes preciso ver minha mulher!

Diabo: Só se ela se matar por você, o que pouco provável. Amigo, venha cá, vou te explicar uma coisa. Você morreu, já era. Agora suba na barca e pegue um remo.

Fidalgo (Deputado): Eu tenho que me despedir, o senhor não entende!

Diabo: Ah, eu entendo... mas parece que em vez de rezar, ela canta de alegria. Você não tinha ninguém.

Fidalgo (Deputado): Mas, eu...

Diabo: PRÓXIMO!

Cena 2

Onzeneiro (Agiota) chega perdido.

Onzeneiro (Agiota): Oh meu Deus, onde estou?

Diabo: Deus não colega, por favor.

Onzeneiro (Agiota): O senhor pode dizer onde estou?

Ajudante: Eles não cansam de perguntar isso chefinho?

Diabo: O que eu lhe disse sobre falar? Enfim, Sr. Pereira, por que demorou tanto?

Onzeneiro (Agiota): Eu queria ter demorado mais.

Diabo: Acho que nem seu dinheiro pode lhe salvar agora, que peninha.

Onzeneiro (Agiota): Quanto eu te pago para subir na barca? O senhor aceita cheque? Parcela em quantas vezes?

Diabo: Vamos para o inferno, suba!

Onzeneiro (Agiota): Inferno? Eu não subo nem que me paguem! Acabei de morrer e pensei que não poderia piorar.

Diabo: Tenta subir na barca do Anjo, aposto que ele não é generoso como eu.

Onzeneiro (Agiota): OI? OLÁ?

Anjo: Não precisa gritar, senhor. O que deseja?

Onzeneiro (Agiota): Quanto é a passagem para o Paraíso:

Anjo: Acho que você não cabe, principalmente com esse saco de dinheiro!

Onzeneiro (Agiota): Se o senhor me deixar entrar, pode ficar com tudo.

Anjo: Mesmo assim, você não merece lugar aqui!

Onzeneiro (Agiota): Por quê?

Anjo: O senhor era agiota e cobrava juros altíssimos, era cambista e vivia nas costas dos outros. Vá procurar outra barca!

Onzeneiro (Agiota): Diabinho, querido. Olha quem voltou!

Diabo: Ih, voltou, é? O Anjinho não te aceitou?

Onzeneiro (Agiota): Na verdade, eu que não o quis. Aquela barca era muito apertada e achei que você usaria melhor o meu dinheiro.

Diabo: Sei, sei... Agora pega um remo e se vira.

Onzeneiro (Agiota): Meu Jesus, o que o senhor faz por aqui?

Fidalgo (Deputado) Meu filho, senta, rema e cala a boca.

Cena 3

Chega o Parvo (Nordestino alienado).

Parvo (Nordestino alienado): Ô di casa?

Diabo: Aqui, meu filho.

Parvo (Nordestino alienado): Bom dia, meu sinhô. Esse barcão é seu?

Diabo: Sim e estamos indo para o inferno.

Parvo (Nordestino alienado): Inferno? Não me faz gosto esse nome.

Diabo: Sobe logo, querido, vamos!

Parvo (Nordestino alienado): Inferno não! Painho me dizia que é do sete pata. Não subo! Vou procurar outra barca. Se o sinhô vai por inferno, cadê o barcão do céu?

Anjo: Bem aqui, meu caro.

Parvo (Nordestino alienado): Eu quero entrar ai.

Anjo: O senhor foi apenas um pobre que caiu na lábia de pessoas como o senhor Deputado...

Parvo (Nordestino alienado): Deputado: Esse aí me deu muitos botijão de gás e bolsa família, gente boa.

Anjo: Mesmo sendo vítima de outros, também cometeu seus pecados e não merece subir, mas também não merece o inferno.

Parvo (Nordestino alienado): Então para onde vou?

Anjo: Por enquanto fique aqui, o intermédio do céu e inferno.

Diabo: Blá, blá, blá. PRÓXIMO!

...

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