Conflitos e Lutas Entre Classes Sociais no Governo Sarney (1985- 1989)
Por: Beatriz de Lima • 2/11/2018 • Trabalho acadêmico • 3.790 Palavras (16 Páginas) • 234 Visualizações
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Anais do IV Simpósio Lutas Sociais na América Latina ISSN: 2177-9503
Imperialismo, nacionalismo e militarismo no Século XXI
14 a 17 de setembro de 2010, Londrina, UEL
GT 2. Estado, ideologias e meios de comunicação
Conflitos e lutas entre classes sociais no Governo Sarney
(1985- 1989)
Suzane Conceição Pantolfi Tostes∗
O presente trabalho é uma parte dos primeiros passos de reflexão em torno do projeto de pesquisa da dissertação de mestrado, vinculado ao Programa de Mestrado em História da Unioeste.
Essa pesquisa tem como objetivo investigar e analisar de que forma a revista Veja divulgou os conflitos e lutas entre as classes sociais durante o Governo Sarney (1985 – 1989), percebendo ainda qual projeto social hegemônico se construiu nesse momento.
E tendo como orientação o objetivo central mencionado a cima, estar percebendo ainda outros elementos acerca do tema, como: analisar através do discurso da revista, como Veja visualiza e compreende o Governo Sarney ; entender como a revista retrata ou apresenta através do Governo Sarney aspectos da democracia, tentando fazer uma relação com a política na Ditadura. Analisar também através do discurso como Veja percebe e vai construindo as noções e práticas Neoliberais ou que outro projeto esta sendo pensado durante o Governo Sarney?
Já mencionado os objetivos que perpassam a pesquisa, é importante explicar porque tomo a revista como o objeto de pesquisa. Isso se dá por
∗ Mestranda em História pela Unioeste. End. eletrônico: suzinha_t@hotmail.com
compreender e entender a revista como um órgão da grande imprensa, que se configura como um aparelho privado de hegemonia, haja vista que, Veja possui uma visão de mundo ( ideologia) da qual compartilha como uma determinada classe social.
Veja é um aparelho privado de hegemonia, a favor da classe dominante, pois a mesma compartilha visão de mundo e projeto sociais hegemônicos. Tanto é que a revista escreve suas matérias para “informar” as frações da classe dominante no Brasil.
Para podermos compreender melhor os objetivos levantados para pesquisa, tendo como recorte temporal o Governo Sarney (1985 – 1989) é preciso recuar um pouco e analisar os conflitos e embates que foram se constituindo ao longo do Regime Civil Militar no Brasil (1964 -1985), principalmente após a crise do “milagre econômico” brasileiro na década de 70, juntamente com a mobilização social que vai perpassar o final da década de 70 e na década de 80.
No período da ditadura, também ocorreu à entrada e ampliação das multinacionais e investimentos estrangeiros no país, assim como houve uma iniciativa maior de capitais vindo do Governo para as indústrias nacionais de base. Esse incentivo foi proporcionado pelo Governo brasileiro para facilitar e diminuir os custos das multinacionais que precisavam de matérias – primas para produzirem suas mercadorias. E através dessa produção a burguesia nacional administrava o comércio interno brasileiro.
Essa articulação desenvolvida na industrialização brasileira no período da ditadura foi denominada de tripé econômico brasileiro, a base de sustentação da economia durante a própria Ditadura.
Porém esse regime ditatorial no Brasil começou a perder forças em meados da década de 70; pois o mundo estava vivenciando a crise estrutural do capital nesse momento e os capitalistas atribuíam essa crise: “As demandas populares e a política compensatória do Bem Estar, de elemento vital à sobrevivência do Capital, passaram a ser apresentadas como responsáveis pela crise.” (Dias, 2006. Pág.49).
No Brasil a crise do capital foi vivenciada no período do regime militar na década de 70, através da crise do Petróleo que estourou nos países árabes. Bernardo Kucinski, relata sobre como desencadeou essa crise:
O preço do Petróleo subiu porque os países árabes suspenderam suas exportações de petróleo em represália ao apoio das nações do Ocidente a Israel, na Guerra do Yom Kipur deflagrada em setembro de 1973. A guerra logo terminou, mas o preço do petróleo não baixou. (...) Às vésperas da crise, os gastos da Petrobrás em pesquisa e prospecção tinham sido os mais baixos de sua história, em relação aos seus investimentos totais. Toda a sua estrutura de produção de derivados estava baseada na importação de petróleo. Por isso, quando os preços internacionais saltaram espetacularmente ruíram os fundamentos da economia brasileira. ( KUCINSKI, 2001, p. 16)
O Brasil estando vinculado às práticas do Sistema Capitalista, ou seja, dependendo economicamente e tendo suas políticas norteadas pelo capital, sua economia passou a ficar ainda mais refém das oscilações do mercado internacional. Em decorrência dessa prática e dependência o Brasil com a crise do Petróleo, foi afetado principalmente na economia interna, pois necessitava gastar mais recursos para manter o funcionamento das indústrias de todos os setores econômicos brasileiros.
Contudo essa elevação do preço comercial do petróleo trouxe outras repercussões para o sistema econômico brasileiro, a inflação aumentou demasiadamente devido à diminuição das exportações e elevações das importações juntamente com o aumento da dependência financeira através de empréstimos aos bancos internacionais com juros exorbitantes. Como conseqüências dessa crise financeira, citada acima, vivenciada pelo Brasil, a autora Marly Rodrigues contribui dizendo sobre as exigências que o FMI (Fundo Monetário Internacional) passou a colocar ao país para continuar obtendo mais empréstimos: ”O pagamento dos juros da dívida passou a ser prioritário uma vez que o Brasil precisava mostrar-se capaz de superar suas dificuldades financeiras, forma de continuar merecendo novos créditos do FMI.” (RODRIGUES, 2003, p. 41)
Por meio dessa exigência imposta pelo Fundo Monetário
Internacional, a classe social que mais sofreu diretamente e economicamente essa pressão, foi a classe trabalhadora; pois seus salários passaram por uma desvalorização muito grande, tendo como conseqüência a alta inflação e a interferência que o Estado passou a adotar nas negociações salariais.
A classe trabalhadora principalmente a partir da década de 70 começa a sofrer mais sensivelmente as conseqüências da crise econômica brasileira, pois com o arrocho salarial aos trabalhadores e a inflação crescendo diariamente, o preço final dos produtos - a grande maioria era de consumo essencial para a reprodução da força de trabalho dos operários - sofriam grandes elevações, gerando assim um descontentamento ainda maior da classe trabalhadora. Em contrapartida os trabalhadores organizavam-se articuladamente em função de reivindicações de melhores remunerações e condições de trabalho.
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