Contrafactual: E se a Santa Aliança se perpetuasse?
Por: Jorge Filho • 1/7/2022 • Trabalho acadêmico • 1.417 Palavras (6 Páginas) • 93 Visualizações
Contrafactual: A Áustria e a Guerra da Criméia
A Santa Aliança foi um acordo político selado entre as grandes potências monarquistas da Europa. Eram estes, o Império Russo, o Império Austríaco e o Reino da Prússia. Seus objetivos eram procurar colocar em prática a política de solidariedade entre as monarquias europeias tradicionais e cristãs, subversão de insurreições e se proteger de revoluções e reformas liberais. Por meio deste trabalho, buscar-se-á investigar as possibilidades e como a história se transformaria caso a Áustria decidisse contra a ideia de entrar na Guerra da Criméia. Cedendo às pressões feitas pela Grã-Bretanha e França, a Áustria lutou contra a Rússia, fato que dissolveu a Santa Aliança e gerou uma cadeia de eventos que moldaram grandes acontecimentos da história europeia. Na existência de uma linha do tempo em que a aliança se mantivesse segura, episódios como a unificação Alemã, a Revolução Russa e as duas Grandes Guerras se desenrolariam de maneira extremamente diferente.
Dentre os vários motivos que originaram a guerra, as tensões geradas pela França entre o Império Otomano e a Rússia podem ser considerados um dos fatores determinantes para o conflito que se sucedeu. Em busca de desestabilizar a comunidade internacional da Europa, Napoleão III conseguiu convencer o Sultão Abdul Mejide I a torná-lo representante da Cristandade em Jerusalém, o que desagradou o Czar russo, uma vez que lhe foram retirados os direitos sob a fé ortodoxa. Além disso, durante séculos, um dos objetivos centrais da política externa russa foi obter um porto de águas quentes e o Czar viu a instabilidade como a oportunidade de realizar este objetivo. Em 1854, o decadente Império Otomano controlou aquela via navegável essencial e a Rússia buscou maior poder nesta região.
Em 1853, São Petersburgo exigiu que o Império Otomano reconhecesse o direito da Rússia de proteger os crentes ortodoxos orientais na Turquia. Quando a Turquia se recusou, a Rússia enviou tropas para o território otomano. Temendo um aumento do poder russo e uma perturbação do equilíbrio de poder no continente, a Grã-Bretanha e a França declararam guerra. A Rússia se saiu bem contra seu vizinho mais fraco ao sul, destruindo a frota turca na costa de Sinope, uma cidade portuária no centro-norte da Ásia Menor. No entanto, em setembro de 1854, os britânicos e franceses sitiaram Sebastopol, a principal base naval fortemente fortificada da Rússia no Mar Negro, situada na península da Crimeia. Depois de pouco menos de um ano de batalha constante, os russos abandonaram a fortaleza, explodindo suas fortificações e afundando seus próprios navios. Nesse meio, a Áustria, convencida pela Grã-Bretanha entra no conflito em favor dela.
O novo czar da Rússia, Alexandre II, pediu a paz em 1856. Na Paz de Paris resultante, a Rússia desistiu de sua reivindicação como protetor cristão na Turquia, o Mar Negro foi neutralizado e o equilíbrio de poder foi mantido, no entanto, com a entrada da Áustria no conflito, a Santa Aliança teve um fim amargo. Com isso, a história seguiu seu curso. Após o fim da aliança e com o sucessivo enfraquecimento da Áustria, cada vez mais o protagonismo da Prússia se elevou na região, o que mais tarde levaria à unificação alemã. Como um nacionalista prussiano ardente, Bismarck há muito tempo era oponente da Áustria, porque ambos os estados buscavam o controle da mesma área - a Alemanha.
A Áustria havia sido enfraquecida por derrotas no exterior, incluindo a perda de território na Itália, e na década de 1860, devido à diplomacia desajeitada, não tinha aliados estrangeiros fora da Alemanha. Bismarck usou uma disputa diplomática para provocar a Áustria a declarar guerra à Prússia. Contra as expectativas, a Prússia rapidamente venceu a Guerra Austro-Prussiana contra a Áustria e seus aliados do sul da Alemanha. Bismarck impôs uma paz tolerante à Áustria porque reconheceu que a Prússia poderia mais tarde precisar dos austríacos como aliados. Mas ele lidou de maneira rígida com os outros estados alemães que haviam resistido à Prússia, expandindo o território prussiano anexando Hanover, Schleswig-Holstein, alguns estados menores e a cidade de Frankfurt. A Confederação Alemã foi substituída pela Confederação Alemã do Norte e foi equipada com uma constituição e um parlamento. A Áustria foi excluída da Alemanha. Os estados da Alemanha do Sul fora da confederação - Baden, Württemberg e Baviera - estavam ligados à Prússia por alianças militares.
Assim, a permanência e o fortalecimento da Santa Aliança deveriam cumprir um papel crucial na unificação dos Estados alemães e outros diversos eventos que decorrem dele. No advento de uma neutralidade austríaca durante a Guerra da Criméia, a insurgência cada vez maior de monarquias parlamentares, revoluções liberais e a eventual emancipação das colônias americanas poderiam ser gatilhos para o fortalecimento da Santa Aliança, a fim de proteger suas monarquias e o seu status quo.
Nesta nova linha temporal, assim como na história real, o isolamento político e a pressão sob as monarquias absolutistas cresceram em grande medida na Europa, a partir da liberalização de seus sistemas políticos. Com isso, ao invés de buscar soluções realistas em si mesmos e se apoiar tão fortemente na realpolitik, Rússia, Prússia e Áustria acordaram em seguir um caminho mais idealista, no sentido pregado por Saint-Pierre, para que juntos pudessem perpetuar a sua existência. Assim, a Santa Aliança evoluiu para um pacto de não-agressão e posteriormente, tornou-se uma aliança militar, como também uma forma de proteção de Piemonte, da França e da Grã-Bretanha. Com o surgimento de Bismarck nestes termos, tornava-se mais difícil seu plano de unificação. A principal questão que confrontou a ideia da unificação alemã em meados do século XIX foi a ideia de uma Alemanha “maior” versus uma Alemanha “menor”. O conceito de uma Alemanha "menor" era que uma entidade alemã unificada deveria excluir a Áustria, enquanto a ideia da Alemanha "maior" era que a Alemanha deveria incluir o Reino da Áustria. Bismarck, sendo um defensor da Alemanha “menor” e a Áustria, obviamente, defendendo a ideia da própria inclusão, acabaram por entrar em impasse, pelo menos até a crise de sucessão espanhola.
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