Desconstruções dos papéis de gênero na sociedade romana
Por: Linancosta • 5/12/2018 • Ensaio • 829 Palavras (4 Páginas) • 129 Visualizações
O artigo escolhido para ser analisado tem como autora a professora doutora Claudia Beltrão da Rosa, formada em História pela UFRJ, pós-doutora também pela UFRJ e professora titular de História Antiga do Departamento de História do Centro de Ciências Humanas e Sociais da UNIRIO. Suas linhas de pesquisa, claramente evidenciadas pelo artigo a ser trabalhado, versam desde cultura, poder e representações a rituais, discursos e instituições.
O artigo “Tirocinium Fori: o orador e a criação de “homens” no Forum Romanum” , publicado na Revista Phoînix de 2008 versa sobre a oratória, retórica e o papel do gênero construído pela sociedade romana, assim como o rito de passagem que dá nome ao artigo, Tirocinium Fori, traduzido pela autora como recrutamento ao forum, episódio no qual os adolescentes romanos, performados os ritos de passagem, garantiam a toga virilis, que os caracterizava como homens à sociedade romana. Beltrão sinaliza a importância desse rito de passagem dando exemplos de documentos da época que fazem referência a ele. A autora também realça a exclusividade masculina à esse ritual, e como este cumpre um papel excludente e categorizante para homens e mulheres romanos. Mulheres, por exemplo, não entravam no Forum Romanum. Ou, quando entravam, conforme as raras exceções citadas pela autora, eram mal-vistas e difamadas, fazendo Beltrão o uso da palavra “disforizado” para caracterizar seus discursos.
A problemática apresentada pela autora é de que os papéis de gênero masculino e feminino são constantemente utilizados para discernir bons e maus hábitos no que tange as ações de retórica e oratória dos cidadãos romanos. Seja para difamar inimigos ou instruir os filhos, o homem romano se utiliza de uma inferiorizaçao de tudo que é atribuído ao gênero feminino para desqualificar os discursos. Em contrapartida exalta as características masculinas, fazendo destas um exemplo a ser seguido, reproduzido e almejado.
A necessidade da caracterização do feminino para servir de contraponto ao exemplo de boa oratória ligado ao gênero masculino é evidenciada pelos inúmeros excertos que Beltrão expõem em seu artigo. A constante exemplificação e categorização de um mau discurso embasado em adjetivos que o definem como efeminados, contrastando com a factual ausência da mulher nos espaços de oratória fazem com que, segundo a autora, possa se concluir que há uma necessidade do papel “feminino” para que haja uma promoção da virilidade e dos bons costumes masculinos. Ou seja, é preciso que haja uma reafirmação de que algo é ruim ( o gênero feminino) para que possa haver o discernimento das boas práticas advindas ao homem romano.
Neste pressuposto, Beltrão dialoga com a História das Mulheres e a problemática das questões de gêneros, explicitadas no livro “Domínios da História”, organizado por Ciro Flamarion Cardoso e Ronaldo Vainfas. Ela entra no debate sobre como, desta forma, a construção de gênero é doutrinatória e reiterada frequentemente. Atribui, portanto, um papel primordial que torna a própria categorização de gênero secundária e sua legitimação pífia. Seu posicionamento de que a virilidade, por depender constantemente da inferiorização do papel “feminino” na sociedade romana, possui atribuições precárias e artificiais, por ter uma composição frágil, o que evidencia sua postura de destruição dos parâmentros herdados, reanalisando-os e encontrando suas falhas ontológicas.
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