FICHAMENTO COMENTADO: Costumes em Comum: estudos sobre a cultura popular tradicional
Por: raffaellaaure • 8/5/2018 • Resenha • 1.632 Palavras (7 Páginas) • 864 Visualizações
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS – CTCH
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
RAFFAELLA AURELIANO DE SANT’ANNA
HISTÓRIA MODERNA
FICHAMENTO COMENTADO
Costumes em Comum: estudos sobre a cultura popular tradicional.
E. P. Thompson
Recife - Pe
2017
THOMPSON. Edward Palmer. Tempo, disciplina de trabalho e o capitalismo industrial. In: Costumes em Comum – estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Cia das Letras, 1998. p.267-304.
Nascido em 1924 em Oxford, Inglaterra, Edward Palmer Thompson nasceu em 1924 em Oxford na Inglaterra, estudou História na Universidade de Cambridge, onde interrompe o curso para servir ao exército durante a II Guerra Mundial, na luta contra o nazi-fascismo.
Aos 24 anos foi contratado pela Universidade de Leeds como docente de trabalhadores e pessoas comuns. Sua experiência como professor foi fundamental na redação do seu livro, A formação da classe trabalhadora inglesa, uma de suas obras mais importantes.
Thompson aderiu ao Partido Comunista da Grã-Bretanha (PCGB) no começo da II Guerra Mundial, quando ainda estudava História. Ativo na formação de um grupo de historiadores, do qual pertenceram Eric Hobsbawm, Christhopher Hill, Doroty Thompson, entre outros, tal militância se tornou o principal núcleo de elaboração do marxismo na Inglaterra, entre 1946 e 1956, foi fundamental na formação intelectual de Thompson.
Sua obra levantou diversas polêmicas, discussões, debates e controvérsias, não só no interior da “tradição marxista”, como também nas ciências sociais a partir da publicação do seu mais conhecido livro, A Formação da Classe Operária Inglesa, em 1963, devido ao seu conceito de classe social como um fenômeno histórico e não como efeito mecânico do processo de industrialização. Esta concepção foi acusada por marxistas e não marxistas de essencialmente voluntarista, subjetivista e culturalista.
Costumes em Comum Trata-se de um compilado de textos escritos há cerca de 20 anos, em meados dos anos 70. Na edição de 1991, poucos anos antes da morte do autor (1993), justificou no prefácio o seu atraso devido ao seu envolvimento com o movimento pacifista e com interlocutores antropólogos.
Em 1976, em entrevista à Radical History Review, Thompson, acerca de suas intenções com o livro, fala - Em Costumes em Comum - meu inacabado livro de estudos de história social do século VIII - sobre paternalismo, tumulto, clausura e direitos comuns, e sobre várias formas de rito popular, o que me preocupa são sanções econômicas e regras invisíveis que governava o comportamento com tanta força, como a força armada, o terror ao patíbulo ou o domínio econômico. Em certo sentido, o que eu examino são sistemas "morais" e de valores, como no caso da economia moral da multidão nos tumultos de subsistência ou como no ritual charivari: mas não na forma clássica "liberal" - como zonas de "livre arbítrio" divorciadas da economia - nem como num modo sociológico ou antropológico clássico, segundo o qual sociedades e economias são consideradas independentes de sistemas de valores. O que eu examino é a dialética da interação, a dialética entre "economia" e "valores". (THOMPSON, 1976)
Costumes em comum está entre as principais obras deste historiador inglês cuja obra encontra um diálogo entre a visão marxista da história e as abordagens que procuram o valor cultural na prática dos agentes históricos, bem como no capítulo “Tempo, disciplina de trabalho e o capitalismo industrial”, sendo ele Marxista certamente não ortodoxo, Thompson não deixa de fazer referência a Weber no início da exposição, como também vai trazer ao longo do texto uma série de relatos e estudos de outros autores que expõem como é a percepção temporal entre os séculos XVII e XVIII na Europa ocidental, relacionando essas alterações na forma de perceber o tempo com impactos na disciplina de trabalho.
O autor logo no início diferencia a percepção de tempo em “tempo da natureza e o tempo do relógio” (THOMPSON, 1998, p.268). Segundo o autor o tempo da natureza pode ser entendido como uma visão cíclica, isso se deve ao comportamento cíclico da natureza que se expressa nas estações do ano e no comportamento dos animais, já o tempo do relógio é aquele que passa a ser expresso em medidas temporais (horas, minutos e segundos), isso irá se intensificar com a gradual produção e disseminação de relógios na Europa.
Em locais onde prevalecia à percepção de tempo através da natureza à organização do trabalho era mais centrada nas tarefas, não se tinha muita separação entre o trabalho e o viver, também não havia muita separação entre trabalho e relações sociais, o tempo era algo que deveria ser preenchido (THOMPSON, 1998, p.271). Essa forma de perceber o tempo é mais característica em ambientes rurais e em pequenas comunidades agrícolas, onde as tarefas a serem realizadas dependiam muito das estações da natureza, não existia essa noção de trabalho com hora marcada, o trabalho além de ser uma forma de suprir as necessidades era também uma forma de passar o tempo.
Com a disseminação de relógios, principalmente em áreas mais urbanas as pessoas passaram a fazer uma contagem e uma racionalização do tempo, o surgimento de grandes manufaturas, onde passa a existir uma mão de obra assalariada marcaram as primeiras expressões dessa noção de tempo como sendo relacionado à produção e ao dinheiro, passou a vigorar uma diferenciação entre o “tempo próprio do trabalhador” e o “tempo do empregador”, passou a existir uma regulação do trabalho, essa regulação é anterior à disseminação de relógios, porém isso aos poucos irá se agravar e tomar novas formas, quando os relógios passam a fazer parte da vida íntima das pessoas, dentro das casas e fazendo parte do cotidiano (THOMPSON, 1998, p.272).
É claro que essa mudança na forma de perceber o tempo é um processo gradual, e o choque entre o tempo da natureza e o tempo do relógio se expressa na cultura e no folclore da época, como é apresentado pelo autor em trechos de músicas e contos do século XVII e XVIII. Um trecho interessante que o autor traz é de um estudo de Pierre Bourdieu sobre as atitudes dos camponeses na Argélia com relação ao tempo, em que Bourdieu descreve:
“Uma atitude de submissão e de indiferença imperturbável em relação à passagem do tempo, que ninguém sonha em controlar, empregar ou poupar… A pressa é vista como uma falta de compostura combinada com ambição diabólica.” (in THOMPSON, 1998, p.270).
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