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FICHAMENTO DO TEXTO: “ PARA ALÉM DO PENSAMENTO ABISSAL. ”

Por:   •  14/11/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.140 Palavras (9 Páginas)  •  1.266 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

FACULDADE DE HISTÓRIA

DISCIPLINA: EPISTEMOLOGIA E DIVERSIDADE

DOCENTE: JANAILSON MACÊDO LUIZ

CARLOS WALBER MOREIRA AMARAL

FICHAMENTO DO TEXTO: “ PARA ALÉM DO PENSAMENTO ABISSAL. ”

Marabá – PA

2017

CARLOS WALBER MOREIRA AMARAL

FICHAMENTO DO TEXTO: “ PARA ALÉM DO PENSAMENTO ABISSAL. ”

Fichamento apresentado como requisito de avaliação da disciplina Epistemologia e Diversidade.

Marabá – PA

2017

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Novos Estudos. 2007

  • Pensamento Abissal:
  • “O pensamento moderno ocidental é um pensamento abissal. Consiste num sistema de distinções visíveis e invisíveis,sendo que estas últimas fundamentam as primeiras.” (p. 71);
  • “A característica fundamental do pensamento abissal é a impossibilidade da co-presença dos dois lados da linha.” (p. 71);
  • “O pensamento abissal moderno se destaca pela capacidade de produzir e radicalizar distinções.” (p. 72);
  • “O conhecimento e o direito modernos representam as manifestações mais cabais do pensamento abissal.Dão-nos conta das duas principais linhas abissais globais dos tempos modernos,as quais,embora distintas e operando de modo diferenciado,são interdependentes.” (p. 72);
  • “No campo do conhecimento,o pensamento abissal consiste na concessão do monopólio da distinção universal entre o verdadeiro e o falso à ciência,em detrimento de dois conhecimentos alternativos:a filosofia e a teologia.” (p. 72);
  • “A linha visível que separa a ciência de seus “outros” modernos está assente na linha abissal invisível que separa,de um lado,ciência,filosofia e teologia e,de outro,conhecimentos tornados incomensuráveis e incompreensíveis por não obedecerem nem aos critérios científicos de verdade nem aos critérios dos conhecimentos reconhecidos como alternativos,da filosofia e da teologia.” (p. 73);
  • “A linha abissal invisível que separa o domínio do direito do domínio do nãodireito fundamenta a dicotomia visível entre o legal e o ilegal que deste lado da linha organiza o domínio do direito.” (p. 73);
  • “Em cada um dos dois grandes domínios — a ciência e o direito — as divisões levadas a cabo pelas linhas globais são abissais no sentido de que eliminam definitivamente quaisquer realidades que se encontrem do outro lado da linha.” (p. 73);
  • “O direito moderno parece ter alguma precedência histórica sobre a ciência na criação do pensamento abissal.”(p. 73);
  • “Seu caráter abissal se manifesta no elaborado trabalho cartográfico investido em sua definição,na extrema precisão exigida a cartógrafos,fabricantes de globos terrestres e pilotos,no policiamento vigilante e nas duras punições às violações.” (p. 74);
  •  “O colonial é o estado de natureza,onde as instituições da sociedade civil não têm lugar.” (p. 74);
  • “A mesma cartografia abissal é constitutiva do conhecimento moderno.” (p. 75);
  • “O outro lado da linha alberga apenas práticas mágicas ou idolátricas,cuja completa estranheza conduziu à própria negação da natureza humana de seus agentes.” (p. 75);
  • “Com base nessas concepções abissais de epistemologia e legalidade,a universalidade da tensão entre regulação e emancipação,aplicada a este lado da linha,não entra em contradição com a tensão entre apropriação e violência,aplicada ao outro lado da linha.” (p. 75);
  • “A apropriação e a violência assumem formas diferentes nas linhas abissais jurídica e epistemológica,mas em geral a apropriação envolve incorporação,cooptação e assimilação,enquanto a violência implica destruição física,material,cultural e humana.” (p. 75);
  • “.A profunda dualidade do pensamento abissal e a incomensurabilidade entre os termos da dualidade foram implementadas por meio das poderosas bases institucionais — universidades,centros de pesquisa,escolas de direito e profissões jurídicas — e das sofisticadas linguagens técnicas da ciência e da jurisprudência.O outro lado da linha abissal é um universo que se estende para além da legalidade e da ilegalidade e para além do verdade e da falsidade.” (p. 76);
  • “A humanidade moderna não se concebe sem uma subumanidade moderna.” (p. 76);
  • “O pensamento moderno ocidental continua a operar mediante linhas abissais que separam o mundo humano do mundo subumano,de tal modo que princípios de humanidade não são postos em causa por práticas desumanas.” (p. 76);
  • “Neste artigo,começo por argumentar que a tensão entre regulação e emancipação continua a coexistir com a tensão entre apropriação e violência,e de tal maneira que a universalidade da primeira tensão não é questionada pela existência da segunda.” (p. 76);
  • “Meu argumento é o de que a cartografia metafórica das linhas globais sobreviveu à cartografia literal das linhas que separavam o Velho do Novo Mundo.A injustiça social global está assim intimamente ligada à injustiça cognitiva global,de modo que a luta pela justiça social global também deve ser uma luta pela justiça cognitiva global.” (p. 77);
  • A divisão abissal entre regulação/emancipação e apropriação/violência:
  • “A permanência das linhas abissais globais ao longo de todo o período moderno não significa que elas tenham se mantido fixas, já que historicamente sofreram deslocamentos. No entanto, em cada momento histórico elas são fixas e sua posição é fortemente vigiada e preservada, assim como sucedia com as “linhas de amizade.” (p. 77);
  • “Os deslocamentos das linhas globais epistemológica e jurídica pareciam convergir para o encolhimento e finalmente para a eliminação do outro lado da linha, mas não foi isso o que aconteceu, como mostram a teoria da dependência, a teoria do sistema-mundo moderno e os estudos pós-coloniais.” (p. 77);
  • “A lógica da apropriação/violência passa a ganhar força em detrimento da lógica da regulação/emancipação numa extensão tal que o domínio desta última não só se encolhe, como também se contamina internamente pela primeira.” (p. 77);
  • “Com base num esforço coletivo para desenvolver uma epistemologia das regiões periféricas e semiperiféricas do sistema-mundo, argumento que esse movimento é composto de um movimento principal, que designo como “regresso do colonial e do colonizador”, e por um contra movimento que designo como ‘cosmopolitismo subalterno’.” (p. 78);
  • Regresso do colonial e do colonizador:
  • “Nesse movimento, o “colonial” é uma metáfora daqueles que entendem que suas experiências de vida ocorrem do outro lado da linha e se rebelam contra isso. O regresso do colonial é a resposta abissal àquilo que é percebido como uma intromissão ameaçadora do colonial nas sociedades metropolitanas.” (p. 78);
  • “O regresso do colonial não significa necessariamente sua presença física nas sociedades metropolitanas.” (p. 78);
  • “O colonial que regressa é de fato um novo colonial abissal. Desta feita, o colonial retorna não só aos antigos territórios coloniais mas também às sociedades metropolitanas.” (p. 78);
  • “A “regulação/emancipação” é cada vez mais desfigurada pela presença e pela crescente pressão da “apropriação/violência” em seu interior.” (p. 79);
  • “De forma mais ampla, parece que a modernidade ocidental só poderá se expandir globalmente na medida em que viole todos os princípios sobre os quais fez assentar a legitimidade histórica do paradigma da regulação/emancipação deste lado da linha.” (p. 79);
  • “O outro lado do movimento em questão é o “regresso do colonizador”, que implica o ressuscitamento de formas de governo colonial tanto nas sociedades metropolitanas — agora incidindo sobre a vida dos cidadãos comuns — como naquelas anteriormente sujeitas ao colonialismo europeu.” (p. 79);
  • “(...) o Estado constitucional moderno, antes prevalecente neste lado da linha, passou a ser substituída por obrigações contratuais privadas e despolitizadas, nas quais a parte mais fraca se encontra mais ou menos à mercê da parte mais forte. Essa forma de governo apresenta algumas semelhanças perturbadoras com o governo da apropriação/ violência que historicamente prevaleceu do outro lado da linha.” (p. 80);
  • “Noutro lugar distingui cinco formas de fascismo social.” (p. 80);
  • “A primeira forma é o fascismo do apartheid social. Trata-se da segregação social dos excluídos por meio de uma cartografia urbana dividida em zonas selvagens e zonas civilizadas.” (p. 80);
  • “As zonas civilizadas são as zonas do contrato social, e vivem sob a constante ameaça das zonas selvagens.” (p. 80);
  • “A segunda forma é o fascismo contratual. Ocorre nas situações em que a diferença de poder entre as partes do contrato de direito civil (seja ele um contrato de trabalho ou um contrato de fornecimento de bens ou serviços) é de tal ordem que a parte mais fraca, vulnerabilizada por não ter alternativa ao contrato, aceita as condições que lhe são impostas pela parte mais poderosa, por mais onerosas e despóticas que sejam.” (p. 80);
  • “A terceira forma de fascismo social é o fascismo territorial. Ocorre sempre que atores sociais com forte capital patrimonial tomam do Estado o controle do território onde atuam ou neutralizam esse controle, cooptando ou violentando as instituições estatais e exercendo a regulação social sobre os habitantes do território sem a participação destes e contra os seus interesses.” (p. 81);
  • “O fascismo social é a nova forma do estado de natureza, e prolifera à sombra do contrato social sob duas formas :pós-contratualismo e pré-contratualismo.” (p. 81);
  • “Como regime social, o fascismo social pode coexistir com a democracia política liberal.” (p. 81);
  • “As novas formas de governo indireto constituem também a segunda grande transformação da propriedade e do direito de propriedade na era moderna.” (p. 81);
  • “Sob as condições do novo governo indireto, o pensamento abissal moderno, mais do que regular os conflitos sociais entre cidadãos, é solicitado a suprimir os conflitos sociais e a ratificar a impunidade deste lado da linha, como sempre ocorreu do outro lado da linha.” (p. 82);
  • “(...) o pensamento abissal moderno, que deste lado da linha era chamado a regular as relações entre cidadãos e entre estes e o Estado, é agora chamado, nos domínios sociais sujeitos a uma maior pressão por parte da lógica da apropriação/violência, a lidar com os cidadãos como se fossem não-cidadãos e com os não-cidadãos como se fossem perigosos selvagens coloniais.” (p. 83);
  • Cosmopolitismo subalterno:
  • “O cosmopolitismo subalterno se manifesta mediante os diversos movimentos e organizações que configuram a globalização contra-hegemônica, lutando contra a exclusão social, econômica, política e cultural gerada pela mais recente encarnação do capitalismo global, conhecida como ‘globalização neoliberal’.” (p. 83);
  • “A novidade do cosmopolitismo subalterno reside acima de tudo em seu profundo sentido de incompletude, sem contudo ambicionar a completude.” (p.84);
  • “O pensamento pós-abissal parte da ideia de que a diversidade do mundo é inesgotável e continua desprovida de uma epistemologia adequada, de modo que a diversidade epistemológica do mundo está por ser construída.” (p. 84);
  • Pensamento pós-abissal como um saber ecológico:
  • “O pensamento pós-abissal parte do reconhecimento de que a exclusão social, no seu sentido mais amplo, assume diferentes formas conforme seja determinada por uma linha abissal ou não-abissal, e da noção de que enquanto persistir a exclusão definida abissalmente não será possível qualquer alternativa pós-capitalista progressista.” (p. 84);
  • “O pensamento pós-abissal pode ser sintetizado como um aprender com o Sul usando uma epistemologia do Sul.” (p. 85);
  • “(...)a primeira condição para um pensamento pós-abissal é a co-presença radical. A co-presença radical significa que práticas e agentes de ambos os lados da linha são contemporâneos em termos igualitários.” (p. 85);
  • “O contexto cultural em que se situa a ecologia de saberes é ambíguo.” (p. 86);
  • “O que é característico do nosso tempo é o fato de a ciência moderna pertencer simultaneamente ao campo das ideias e ao campo das crenças.” (p. 86);
  • “(...) a ecologia de saberes é basicamente uma contra-epistemologia.” (p.86);
  • “Na ecologia de saberes cruzam-se conhecimentos e também ignorâncias.” (p. 87);
  • “Na ecologia de saberes, a busca de credibilidade para os conhecimentos não-científicos não implica o descrédito do conhecimento científico.” (p. 87);
  • “Uma das premissas básicas da ecologia de saberes é que todos os conhecimentos têm limites internos, referentes às intervenções no real que eles permitem, e externos, decorrentes do reconhecimento de intervenções alternativas propiciadas por outras formas de conhecimento.”
  • “A ecologia de saberes expande o caráter testemunhal dos conhecimentos de modo a abarcar igualmente as relações entre o conhecimento científico e o não-científico, ampliando assim o alcance da intersubjetividade como interconhecimento e vice-versa” (p. 89);
  • “A ecologia de saberes não concebe os conhecimentos em abstrato, mas como práticas de conhecimento que possibilitam ou impedem certas intervenções no mundo real.” (p. 89);
  • “A ecologia de saberes assenta na ideia pragmática de que é necessária uma reavaliação das intervenções e relações concretas na sociedade e na natureza que os diferentes conhecimentos proporcionam.” (p. 90);
  • “Na perspectiva das epistemologias abissais do Norte global, o policiamento das fronteiras do conhecimento relevante é de longe mais decisivo do que as discussões sobre diferenças internas.” (p. 91);
  • “A ecologia de saberes é uma epistemologia desestabilizadora na medida em que se empenha numa crítica radical da política do possível, sem ceder a uma política impossível.” (p. 92);
  • “A ocorrência de ação-com-clinamen é em si mesma inexplicável. O papel de uma ecologia de saberes a esse respeito será somente o de identificar as condições que maximizam a probabilidade de uma tal ocorrência e definir o horizonte de possibilidades em que o desvio virá a “operar”. A ecologia de saberes é ao mesmo tempo constituída por sujeitos desestabilizadores — individuais ou coletivos — e constitutiva deles. A subjetividade capaz da ecologia de saberes é uma subjetividade especialmente dotada de capacidade, energia e vontade para agir com clinamen. A própria construção social de uma tal subjetividade necessariamente implica recorrer a formas excêntricas ou marginais de sociabilidade ou subjetividade dentro ou fora da modernidade ocidental, formas que se recusaram a ser definidas de acordo com os critérios abissais.” (p. 93).

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