FIGURAÇÕES DE LIBERDADE: A RESISTÊNCIA NO CINEMA NA CIDADE DE RIO BRANCO (1971-1981)
Por: Jefferson Henrique • 14/6/2017 • Artigo • 7.435 Palavras (30 Páginas) • 584 Visualizações
FIGURAÇÕES DE LIBERDADE: A RESISTÊNCIA NO CINEMA NA CIDADE DE RIO BRANCO (1971-1981)
JEFFERSON HENRIQUE CIDREIRA[1]∗
RESUMO
Neste presente artigo, pretendemos fazer um estudo em torno do cinema no Acre, mais precisamente, sobre os jovens cineastas do grupo ECAJA FILMES, e de como seus filmes representaram uma denúncia, uma resistência para o povo oprimido pela pecuarização do estado do Acre, principalmente, no meio espacial da cidade de Rio Branco entre os anos 1971 e 1981, com foco nos discursos inseridos nos meios de comunicação, como jornais escritos e rádio,e a partir dos discursos dos governantes acreanos, que pregavam o “desenvolvimento” e o “progresso” do estado do Acre. Tais discursos eram proferidos nos meios de comunicação através de propagandas maciças no centro-sul do país e no próprio estado, por um lado para atrair investidores, e por outro, para que a população aceitasse o projeto político imposto ao nosso estado – a pecuarização. Tal pesquisa é uma tentativa de diálogo que procura um avanço para os estudos envolvendo a linguagem cinematográfica e a sociedade acreana, sobretudo no meio espacial da cidade de Rio Branco. O trabalho em pauta tem como principal aporte teórico-metodológico os estudos sobre cinema de Marc Ferro, Costa Júnior, etc.; as relações de poder discursivas acerca estabelecidas na sociedade, utilizando para tal análise os trabalhos de Mikhail Bakhtin. Os autores e a produção cinematográfica do grupo ECAJA nos auxiliarão no caminho do estudo das mídias culturais, lugar de discursos de resistência, que comunicavam as práticas culturais oficiais, tais como o culto ao “progresso” e ao “desenvolvimento” e a resistência desencadeada pela população rio-branquense, em destaque às obras do ECAJA. Pretendemos, portanto, tornar evidente através de uma análise dialógica os discursos apresentados e/ou veiculados pelo governo e os embates entre um discurso oficial e um discurso popular que surgia como forma de resistência nos próprios meios de comunicação, em destaque no cinema na cidade de Rio Branco nos anos entre 1971 e 1981.
PALAVRAS-CHAVE: Cinema. Discursos. Acre.
ABSTRACT
In this article, we make a study about cinema in Acre, more precisely, the young filmmakers group ECAJA MOVIES, and how his films represented a complaint, a resistance to oppressed people by ranching state of Acre, Featured, space in the middle of the city of Rio Branco between the years 1971 and 1981, focusing on speeches inserted in the media, such as newspapers and radio writings, from the speeches of Acre rulers, who preached the "development" and "progress" Acre state. Such speeches were delivered in the media through massive advertisements in the center-south of the country and the state itself, first to attract investors in this region, and on the other, so that the population would accept the tax political project to our state - ranching. This study has represented an attempt at dialogue that seeks a breakthrough for studies involving cinematic language and Acre society, especially in the space environment of the city of Rio Branco. The study in question has as its main theoretical contribution / methodological studies on film by Marc Ferro, Costa Júnior, etc..; relations established on discursive power in society, using this analysis the work of Mikhail Bakhtin. The authors and film production ECAJA the group will help us in the way the study of cultural media, place of discourses of resistance, which communicated the official cultural practices such as the worship of "progress" and "development" and the resistance triggered by natives of Acre, the works of ECAJA highlighted. We intend to make clear through a dialogic discourse analysis presented and / or conveyed by government and clashes between official discourse and popular discourse that arose as a form of resistance in the media themselves, featured in the film in the city of Rio Branco in the years between 1971 and 1981.
KEYWORDS: Cine. Discourses. Acre State.
INTRODUÇÃO
Para adentrarmos nas veredas da resistência, é necessário fazermos, trazermos à tona nosso teatro, nosso palco onde ocorrem as figurações da liberdade frente ao projeto agropecuário: a cidade de Rio Branco entre os anos 1971 e 1981.
Em Rio Branco, a vida sociocultural era um pouco diversificada e movimentada. Ao contrário do que muitos pensam, tinha-se na década de 1970, além do concurso de Miss Acre, outras formas de entretenimentos destinados à população, como relata a radialista Nilda Dantas Pires:
Na década de 60 e 70 era muito comum as pessoas virem para o futebol, foi o período que começaram a chegar os circos pra cidade [...] Era muito comum a chegada do ‘Faquires’, artistas de ruas; aqui para o Acre quando tinha uma quadra de esportes em frente à esplanada do Palácio, que ficavam deitados em cima de vidro, ou então ficavam enterrados debaixo da terra tantos dias, ou aqueles ciclistas que ficavam dias e dias sem sair de cima das bicicletas pilotando naquela quadra. Era comum a banda de música ficar tocando na praça aqui em frente do Palácio e as famílias depois da missa descer e subir a ladeira ali de frente à Casa Natal, onde tinha muitos pés de Benjamins. Quando a banda tocava e as pessoas ficavam passeando até as 9 horas da noite. Era comum sair da missa e ir ao zoológico que era detrás do Palácio do governo, ali por detrás onde tem aquela praça de frente ao Memorial dos Autonomistas hoje em dia [2].
Outra forma de diversão existente em Rio Branco era o futebol, que indiferente ao concurso de Miss Acre, arrastava multidões ao Estádio e ocupava páginas inteiras de destaque no jornal O Rio Branco: “Leão Azul miou fino para Galo muito Machão”[3]. Ou ainda: “Decisão empolga o Estado: Independência a um passo do título-74”[4].
Logo, o futebol era uma das grandes atrações culturais, que mexiam com as pessoas e, como já dito, arrastava e emocionava inúmeros torcedores.
Na década de 60 quando comecei a ir pro estádio, eu gostava muito de futebol, porque eu assisti um jogo do Rio Branco e vi um jogador com tanta paixão pelo time, chorando porque o time havia perdido, no caso o Rio Branco, a partir daquele dia eu passei a torcer pelo Rio Branco. Havia também alguns outros times que vinham de fora, que eram as grandes sensações. Agora a época que mais frequentei o campo de futebol foi na década de 70. Nós tínhamos excelentes jogadores [...] Tinha um jogador oriundo de Manaus chamado Socó[5] e ele era de uma eletricidade no campo que me chamava muito atenção a habilidade daquele jogador[6].
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