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Fichamento De Pardos Disfarçados A Brancos Pouco Claros

Por:   •  9/6/2024  •  Trabalho acadêmico  •  1.153 Palavras (5 Páginas)  •  57 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV/JACOBINA

CURSO LICENCIATURA EM HISTÓRIA

METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO

Amanda Carvalho Borges

“DE PARDOS DISFARÇADOS A BRANCOS POUCO CLAROS: CLASSIFICAÇÕES RACIAIS NO BRASIL DOS SÉCULOS XVIII-XIX"

SANTOS, J. T. dos. De pardos disfarçados a brancos pouco claros: classificações raciais no Brasil dos séculos XVIII-XIX. Afro-Ásia, Salvador, n. 32, 2005Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/21089. Acesso em: 7 abr. 2024.[a]

Objetivo: “Procuro mostrar neste trabalho que a classificação de cor no Brasil colonial já se mostrava mais multipolar do que imaginávamos, e que podemos visualizar a construção de um sistema local de classificações em consonância ou dissonância com a metrópole do império transatlântico. [...]” (p. 116[b][c])

“Argumento que podemos notar nas classificações de dois momentos, o de registro e o da confrontação dos expostos, o uso de categorias que apontam para o exercício de práticas sociais relativas a uma classificação racial no período 1763-1871. [...]” (p.117)

“Desde o século XVII, os termos ‘negro’, ‘mulato’ e ‘crioulo’ estavam presentes nos documentos da Santa Casa da Misericórdia da Bahia. Em testamentos de senhores que deixaram significativas doações observam-se termos de classificação que indicam tanto a condição social quanto uma marca da ‘cor’.” (p. 117)

“É provável que os sentidos dos dois termos fossem os que seriam dicionarizados no século XVIII, pois ‘negro’ segundo Antônio Moraes Silva era o indivíduo desgraçado, triste, infausto, ou aquele ‘de cor preta como a tinta de escrever, o carvão apagado’, mas também podia indicar o homem preto, forro ou mesmo ‘cativo’. O termo ‘mulato’ classificava o filho do cavalo com a ‘burra’, assim como o indivíduo que era resultante de uma relação inter-racial, o ‘filho ou filha de preto com branca, ou às avessas, ou de mulato com branco até certo grao’.” (p. 118)

“Sobre ‘crioulo’, Antonio Moraes Silva escreveu que se tratava do escravo que nascia em casa do senhor; significando também o animal, cria, que nascia ‘em nosso poder’. A ambigüidade tanto da cor quanto do nascimento ‘local’ se apresenta desde o século XVII, pois no testamento do Pe. Francisco d’Araújo aparece a informação de que ele havia deixado para a Santa Casa da Misericórdia ‘Rufina crioulinha’, assim como ‘Cecílio crioulo que dizem ficar fora [forro]’.” (p. 118)

Se o século XVII anuncia a nossa etnogênese, o XVIII em muito apontará e consolidará um dos nossos dilemas: a ambigüidade classificatória. A segunda metade do século XVIII revela um continuum classificatório e traz novos significados, inclusive em outras capitanias. Em 1772, a subdivisão populacional do Piauí revela a existência de nove categorias – ‘branco’, ‘preto’, ‘vermelho’ (índio de qualquer nação), ‘mulato’, ‘mestiço’, ‘mameluco’, ‘caful’, ‘cabra’ e ‘curiboca’. “(p. 119)

“Observando as designações presentes na Santa Casa da Misericórdia em Salvador, encontramos o uso de categorias raciais para os africanos que andavam pari passu com a nação de origem. [...] reforçam a argumentação de que a Santa Casa da Misericórdia reproduzia um sistema de classificação presente na sociedade brasileira, a multiplicidade de significados ali presentes é singular quando se observa a Roda dos Expostos.” (p. 120)

“A Roda dos Expostos, instituída em Salvador em 1726, assemelhava-se à de Lisboa. As crianças ali deixadas encontravam amas-de-leite dirigidas por uma regente, cuja ação era fundamental na identificação da criança.” (p. 120)

“Vários são os exemplos em que a dúvida sobre a cor da criança exposta se manifestava. É o caso de uma exposta que, em 07 de abril de 1766, foi classificada, inicialmente, como ‘branca’, mas no final do registro o escrivão deixa transparecer a nossa proto-ambigüidade: ‘parecia a criança, ser pardinha’.” (p. 122)

“O termo pardo conforme dicionarizado por Moraes remete a ‘cor entre branco e preto, como a do pardal’, podendo também indicar um mulato, assim como o ‘ar pardo, é de manhã, ates de esclarecer o dia. Ainda era o ar pardo, isto é já começava a anoitecer’.” (p. 122)

“Até o final dos setecentos e início dos oitocentos o sistema classificatório utilizado pela Santa Casa da Misericórdia da Bahia recorria a um repertório limitado de oito categorias, incluindo ‘pardo disfarçado’ e ‘índio’ [...]” (p. 122)“Entretanto, mesmo havendo um limitado repertório de cores, havia a possibilidade da dúvida classificatória. Dois exemplos são significativos. O primeiro se refere a um menino que, em 4 de outubro de 1783, levado à Santa Casa da Misericórdia por uma preta forra, chamada Thereza de Jesus Maria, sobre o qual foi registrado pelo escrivão o fato de ‘parecer branco’ [...]” (p. 125)

“O segundo exemplo demonstra que no final dos setecentos a preocupação com uma rigidez classificatória era uma constante. E o rigor pelas cores manifestava certezas e desejos, inclusive por quem estaria a criar o enjeitado.” (p. 125)

“Nesse período, cabras e, principalmente, brancos e pardos constituiriam um mosaico de cores que deslizam para suas vizinhas, ganham ou perdem ênfase, como se os funcionários da Santa Casa buscassem desesperadamente um rigor descritivo inconfundível.” (p. 128)

“A linguagem simbólica contida na classificação utilizada pelos escrivães da Santa Casa da Misericórdia revela a utilização no Brasil colônia de um modelo formal de categorias raciais criado na metrópole portuguesa [...], mas que dele se distancia ao elaborar um repertório local de categorias ambivalentes.” (p. 131)

“[...] Ou seja, as percepções sobre a cor traduziam tanto as hierarquias sociais como revelavam ambigüidades no modo como os indivíduos eram classificados.” (p. 131)

“[...] Poucos são os exemplos de expostos que traziam uma identificação da origem social dos seus pais. Alguns bilhetes e cartas amarrados em um cordão no pescoço do recém-nascido indicavam o lugar social da mãe ou do pai. E não era algo exclusivo dos classificados como brancos, já que os pardos também eram acompanhados de bilhetes.” (p. 132)

“O pequeno número de bilhetes encontrados pouco revela sobre a origem social da maioria dos expostos. Entretanto, mesmo sem identificações do lugar ocupado pelos seus pais na sociedade baiana, penso que não havia uma completa isenção do olhar de quem registrava a cor das crianças. Ou seja, é possível pensar que a mente de quem registrava os expostos fosse também permeada pela imaginação da cor dos seus pais.” (p. 133)

“Ou seja, os traços biologizados do racismo científico do século XIX – a boca, o formato do nariz e dos lábios como características físicas na definição da cor – são menos definidores das cores sociais, [...]” (p. 134)

“O que fornece o tom da caracterização social são menos os traços fenotípicos como o nariz que a cor inscrita no social. Senão, como entender que, em 07 de julho de 1824, um enjeitado fosse classificado como um ‘pardo alvo’, que tinha nariz curto, grosso, e testa curta? [...]” (p. 136)

“O registro da cor mostra-se, portanto, como um ‘carimbo’ gramaticalmente inscrito no próprio sistema de relações sócio-raciais. [...] A operacionalização de combinação das cores omitia termos como ‘preto’ ou ‘negro’ e fazia do ‘crioulo’ o repositório dessas duas categorias. Por certo as categorias ‘preta’ ou ‘negra’ na sociedade brasileira referiam-se a ‘africano’ e a ‘negro escravo’, [...]” (p. 137)

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