Fichamento do Texto "A objetividade nas ciências sociais"
Por: Gabriel Albuquerque • 1/9/2019 • Resenha • 2.367 Palavras (10 Páginas) • 272 Visualizações
FICHAMENTO DO TEXTO “A ‘OBJETIVIDADE’ DO CONHECIMENTO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS”
1 – Método Naturalista e Método Histórico.
Um dos pontos centrais do texto “A ‘Objetividade’ nas ciências sociais” de Weber é a questão da escolha de um método de análise dos problemas dessa ciência. Dentre os métodos principais, temos os métodos: generalizante e o individualizante.
O método generalizante busca englobar diversos eventos sob uma mesma lei, enquanto que o individualizante analisa partes singulares dos fenômenos. O método generalizante é mais comum nas ciências da natureza, enquanto o individualizante é mais usado nas ciências sociais, no entanto não é possível dizer que esses métodos são exclusivos, respectivamente, desses tipos de ciências, e a utilização desses métodos varia com de acordo com o fenômeno estudado.
Weber entende que a realidade é muito complexa e que é impossível, através dos métodos, entendê-la por completo, por isso só é possível estudar uma parte mínima da realidade. Tendo em vista que não é possível compreender a realidade em sua totalidade, não existem métodos universais, ou seja, não existem métodos que possam explicá-la por completo, e sim partes dela. Por isso não existem métodos melhores que os outros, e sim métodos que, se aplicados a certos problemas, o explicam melhor que outros. Os métodos ajudam na progressão do saber.
Sobre isso o autor diz o seguinte:
O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões “objetivas” entre as “coisas” mas as conexões conceituais sobre os problemas. Só quando se estuda um novo problema com o auxílio de um método novo e se descobrem verdades que abrem novas e importantes perspectivas é que nasce uma nova “ciência”. (p. 83-84)
Weber entende que, por mais que você analise um fenômeno fazendo uso de diversas ciências, não é possível que se chegue ao conhecimento da totalidade desse fenômeno. Sendo assim, Weber vai contra a ideia de um fundamento único para as ciências e critica firmemente o pensamento monista enquanto “concepção de mundo”:
Libertos do preconceito obsoleto de que a totalidade dos fenômenos culturais poderia ser deduzida como produto ou como função de determinadas constelações de interesses ‘materiais’ (...) Quanto à chamada ‘concepção materialista da História’, é preciso repeli-la com a maior firmeza enquanto ‘concepção de mundo’ ou quando encarada como denominador comum da explicação causal da realidade histórica (...). (p. 84)
2 – Quantificação e experiência vivida.
“(...) e mesmo entre os representantes da escola histórica, reaparece constantemente a concepção de que o ideal para o qual tende ou pode tender todo o conhecimento, mesmo o das ciências da cultura – ainda que seja num futuro longínquo -, consistirá num sistema de preposições das quais seria possível ‘deduzir’ a realidade.” (p. 89)
Tendo isso em vista, a dedução da realidade em sua totalidade é um pensamento muito comum nas ciências da natureza e que também influenciou a análise de fenômenos nas ciências sociais. A dedução da realidade se dá por meio de “leis”. Essas leis são formuladas conforme a existência de “regularidades” nas conexões causais, o que permite explicar fenômenos parecidos segundo uma lei. No entanto, Weber vê a impossibilidade de aplicação de leis nas ciências sociais.
Nas ciências da natureza, um fenômeno, por exemplo, a gravidade, que age em todos os corpos, em qualquer lugar do universo e indiferentemente do período temporal, pode, então, devido a sua regularidade, tornar-se lei. No entanto, nas ciências sociais, principalmente, a história e a sociologia, os objetos de estudo não são regulares, e o método não é totalmente objetivo, o que dificulta a criação de leis para essa ciência.
No texto, o autor traz o exemplo da Astronomia:
Como é natural, toda a constelação individual que a Astronomia nos “explica” ou prediz só poderá ser casualmente explicável como uma conseqüência de outra constelação, igualmente individual, que a precede. E, por muito que recuemos na obscuridade do mais longínquo passado, a realidade para a qual tais leis são válidas permanece também individual e igualmente refratária a uma dedução a partir de leis. (p. 89)
Sendo assim, as ciências sociais, para Weber, trabalha muito mais com aspectos qualitativos dos fatos do que com relações quantitativas, ou seja, que podem ser mensuradas. A quantificação dos fatos é apenas um dos processos metodológicos da ciência e não o seu fim. Por não trabalhar com padrões, seria difícil quantificar fenômenos das ciências sociais e, por fim, estabelecer “leis” gerais.
Segundo Weber:
Tornar-se-ia impossível chegar alguma vez a deduzir a realidade da vida a partir destas "leis” e “fatores” (...) para o conhecimento da realidade apenas nos interessa a constelação em que esses “fatores” (hipotéticos) se agrupam, formando um fenômeno cultural historicamente significativo para nós (...) (p. 91)
Sendo assim, o estabelecimento de “leis” e “fatores” nas ciências sociais seria a primeira de quatro operações. A segunda seria analisar e expor grupos ordenados desses “fatores” a sua combinação concreta e significativa. A terceira operação seria remontar ao passado, observar suas características, a sua importância para o presente e realizar uma explicação histórica. Por fim, avaliar esses fatores num possível futuro.
Weber chama a atenção ao fato de que “o conhecimento das leis da causalidade não poderá constituir o fim mas antes o meio do estudo” (p. 94) e que “quanto mais ‘gerais’, isto é, abstratas, são as leis, menos contribuem para as necessidades da imputação causal dos fenômenos individuais e, indiretamente, para a compreensão da significação dos acontecimentos culturais.” (p. 95)
A última citação lembra uma crítica que Weber faz aos marxistas que buscam explicar a complexidade do mundo por meio do materialismo histórico, ou seja, pela luta de classes.
3 – Causalidade, relação com os valores e interpretação.
Por não poder ser entendida em sua totalidade, a realidade, para ser estudada, deve ser recortada pelo pesquisador de acordo com os seus interesses. Weber entende que não há nada de “objetivo” nos fenômenos, um objeto, em si, não possui nenhum significado até que alguém o faça. Ou seja, o caráter de um fenômeno está condicionado de acordo com o interesse de quem pesquisa, buscando atribuir-lhe significado. Por exemplo:
“(...) um fenômeno só conserva a sua qualidade de ‘econômico’ na estrita medida em que o nosso interesse está exclusivamente centrado no seu significado para a luta material pela existência.” (p. 80)
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