Fé e Devoção na cidade de Florânia: Um olhar histórico
Por: Júnior Filho • 8/7/2017 • Projeto de pesquisa • 3.767 Palavras (16 Páginas) • 310 Visualizações
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Estado do Rio Grande do Norte
Secretaria de Estado de educação, Cultura e Desporto - SEECD
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN
Campus Avançado Prefeito Walter de Sá Leitão – CAWSL
Departamento de História
PROJETO DE PESQUISA
FÉ E DEVOÇÃO NA CIDADE DE FLORÂNIA: UM OLHAR HISTÓRICO
Assú/RN
Abril de 2013
FÉ E DEVOÇÃO NA CIDADE DE FLORÂNIA: UM OLHAR HISTÓRICO
JOSÉ JÚNIOR FILHO
Projeto de Pesquisa orientado pela Profª. Drª. Joseane Maria de Castro Ribeiro e apresentado à disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisa aplicados à História I, como requisito parcial para elaboração da monografia do curso de graduação em Licenciatura Plena em História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Assú/RN
Abril de 2013
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................ | 03 | |
JUSTIFICATIVA ...................................................................................... | 06 | |
OBJETIVOS ............................................................................................ | 09 | |
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................... | 10 | |
FONTES E METODOLOGIA .................................................................. | 14 | |
REFERÊNCIAS ....................................................................................... | 15 | |
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- INTRODUÇÃO
A nossa pesquisa está relacionada à História das Religiões, que tem um amplo campo e várias vertentes a serem estudadas, isto é, a origem de crenças religiosas e populares e a relação das mesmas com o sagrado. De maneira específica, nosso trabalho aponta a questão da fé católica e da crença popular, fatores imprescindíveis para a formação da identidadedo povode Florânia.
Florânia é um município do Estado do Rio Grande Norte, que está situado na macrorregião do Seridó e na microrregião da Serra de Sant’Ana, no semiárido nordestino, à 245 km de Natal, capital do estado. Sua origem deu-se a partir da doação de sesmarias do Capitão-Mor Pedro de Albuquerque e Mello ao Português Cosme de Abreu Maciel, que se instalou na região e constituiu família, na segunda metade do século XVIII. Como na maioria das cidades brasileiras, a cidade de Florânia foi gestada num berço católico, onde a fé movia a vida da sociedade.[1]
Segundo a cultura popular floraniense, contada inclusive pelo folclorista Câmara Cascudo, a fé em São Sebastião, padroeiro da cidade, inicia-se quando Atanásio Fernandes, primogênito de Cosme de Abreu, fez um voto de fé e prometeu a São Sebastião – que segundo a Igreja Católica é o protetor contra a fome, a peste e guerras – construir uma capela em sua homenagem se os moradores da localidade escapassem da terrível epidemia de cólera morbunsque flagelara os moradores de toda a região. Atanásio morreu antes de cumprir o voto, porém sua viúva e seus filhos, com a ajuda e incentivo do padre José Antônio de Maria Ibiapina, construíram a capela e no início do século XX passou ser freguesia, o que chamamos hoje de paróquia. A fé no santo padroeiro, São Sebastião fora proposta por Atanásio Fernandes, herdeiro dessas terras que pertenciam ao seu pai Cosme de Abreu Maciel. Aqui tentaremos mostrar as influências sociais, políticas e religiosas para a escolha desse santo como padroeiro.
Seguindo a ordem cronológica de acontecimentos que marcaram a história da cidade de Florânia, ao final do século XIX, por volta de 1877, mais precisamente no dia 20 de janeiro, dia da procissão do padroeiro São Sebastião, acontecia na cidade de Flores (nome de Florânia na época), um crime cercado de mistérios, a morte de José Leão. Segundo relatos de memorialistas, Zé Leão, como era conhecido, foi esquartejado ainda vivo e as partes de seu corpo lançadas na fogueira. Após sua trágica morte, as pessoas faziam promessas e eram validas e atribuíam o milagre ao “mártir Zé Leão”, canonizado pelo povo como santo martirizado. No local de sua morte foi erguida uma cruz e depois erguida uma capela para guardar os ex-votos[2]. A partir desse evento, a então Flores passou a ser conhecida como “a terra do mata e queima”. Contudo ao longo do tempo essa devoção popular foi ficando esquecida pelas gerações advindas.
Percebemos aqui, a necessidade do povo em ter o seu próprio santo, que esteja mais próximo e que, de certa maneira, fizesse parte desua realidade. O personagem histórico, Zé Leão, fora tido como santo pelo povo, como miraculoso, no mesmo período em que o Padre Cícero Romão ganhava também esse título no Juazeiro do Ceará, pelo evento ocorrido com a beata Mocinha. Que influências políticas ligam esses dois fatos? Como a Igreja local lida com esse caso? O que atitudes foram tomadas?
Já em meados do século XX, no ano de 1947, segundo a memória popular, outro evento místico acontece em Flores, a devoção à santa Menina. Teria um frei, de nome Otávio, sonhado com um corpo santificado de uma menina que fora enterrado no cume de uma colina. Essa menina teria se perdido e morrido de fome e sede embaixo de uma umburana (árvore da caatinga muito resistente à seca). Após encontrar a menina o frei retornara à Europa, prometendo enviar uma imagem do corpo que fora encontrado. Essa notícia rapidamente se espalhou fazendo da colina, onde teria sido encontrada a menina, um lugar de romaria. Num intervalo de três meses foi erguida uma capela. Quando a suposta imagem da “Santa Menina”, como fora chamada chegou, um grande tumulto instaurou-se na cidade. As pessoas queriamtocar na imagem achando que seria a menina, se reconheceriam de que família seria a menina. A atitude do pároco da época, o Pe. Ambrósio Silva, mediante aquele tumulto foi ordenar que a imagem fosse escondida. O bispo diocesano, Dom José de Medeiros Delgado, não apenas enviou uma carta direcionada ao povo, qual fomentava que não acontecera um milagre, como também fez uma visita para a instrução dos fiéis, sugerindo criar um santuário em honra à Maria, Mãe de Jesus para romarias no cume da montanha. Em suas palavras dizia: “Desse local, deve brilhar a luz divina para todo o Seridó”[3]. Que relações a história daSanta Menina do monte de Florânia tem com outras “meninas santas” que existem no Rio Grande do Norte? Que relações devocionaissão encontradas aqui? E qual o posicionamento da Igreja local diante do fato ocorrido?
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