Grupo de Mulheres Negra da Comunidade Tia Eva (GMUNE): Presente!
Por: MYLEIDE MENESES • 13/1/2023 • Artigo • 6.742 Palavras (27 Páginas) • 125 Visualizações
RESUMO: Este artigo apresenta os resultados de uma investigação sobre o posicionamento das mulheres negras em Mato Grosso do Sul, no século XXI, um estudo de caso do Grupo de Mulheres Negras da Comunidade Tia Eva (GMUNE), Campo Grande, MS, observando suas ações diante da imagem retrata pela mídia televisiva, a partir de uma minissérie de TV, que as despertou para realidade. Pretende-se demonstrar que as mulheres negras dessa comunidade ativaram dentro si a vontade e o senso crítico diante dos espaços sociais, rompendo paradigmas deixados pela sociedade escravocrata, tanto na condição de escrava, quanto de liberta com demandas específicas e maneiras próprias dadas pelo quadro social. As Mulheres Negras são resultado de um processo longo de diferentes lutas de resistência. Durante um longo tempo não eram vistas como agentes ativos e políticos, resultado de uma conexão de fatores, de demandas históricas, políticas, culturais, de enfrentamento das condições adversas estabelecidas por uma dominação ocidental eurocêntrica opressora ao longo dos séculos. Assim, as mulheres do Grupo da Comunidade Negra Tia Eva, hoje desafiadas, ocupam uma posição de destaque dentro do movimento feminista negro e na sociedade.
PALAVRAS –CHAVE: Comunidade Tia Eva. GMUNE. Mulheres negras
INTRODUÇÃO
As mulheres negras têm parte importante da sociedade brasileira, como grupo social específico em defesa de seus interesses ou como parte do amplo contingente de negros, que lutam por justiça e inclusão social, fazendo de suas ações um cenário pontual desde o regime escravocrata. De fato, essas mulheres que constroem cotidianamente o Brasil como nação, sempre estiveram ligadas a uma realidade de exclusão e sonegadas de seus direitos perante a sociedade. Mas a história de luta dos movimentos negros e de mulheres negras no Brasil é marcada por atitudes que visam o fim do racismo das estruturas do estado brasileiro, a superação da desigualdade racial, através da garantia dos direitos e o aperfeiçoamento da democracia.
Ações que apresentam limitações de ordem burocrática e de interesse de onde foram e por quem são desenvolvidas estas políticas. Segundo Lélia Gonzalez (1983), o racismo pode apresentar taticamente duas formas para manter a “exploração/opressão”: o racismo aberto e o racismo disfarçado. A primeira forma é encontrada, principalmente, nos países de origem anglo-saxônica, e a segunda predomina nas sociedades de origem latina. No racismo disfarçado, “prevalecem as ‘teorias’ da miscigenação, da assimilação e da ‘democracia racial”, e essa forma de se manifestar, afirma, o pensar no Brasil, impede a “consciência objetiva desse racismo sem disfarces e o conhecimento direto de suas práticas cruéis”, pois a crença historicamente construída sobre a miscigenação criou o mito da inexistência do racismo em nosso país.
Os homens negros são resultado de um processo longo de diferentes lutas de resistência, questionados, criticados, reposicionados e refeitos. E as mulheres negras nunca existiram como sujeitos identificados e políticos, resultado de uma articulação de heterogeneidade, de demandas históricas, políticas, culturais, de enfrentamento das condições adversas estabelecidas por uma dominação ocidental eurocêntrica opressora ao longo dos séculos.
Deste modo, se apresenta e são vistas através da experiência da dispersão ocidental, discrepância em referência às lutas desenvolvidas por mulheres de diferentes povos e regiões de origem na África, na tentativa de dar sentido a cenários e contextos em dinâmica e violenta transformação. Mudanças que resultaram na construção de uma diáspora africana significativa, que de algum modo deu continuidade a uma relação que antes poderia ser definida como o que eram e o que não seriam, uma expropriação colonial e fruto da modernidade racionalizada e racista em que se transformaram para sociedade.
Assim, é possível imaginar que se não houvesse um movimento colonizador com força econômica, política e cultural sustentada num racismo baseado na cor da pele e na anulação dos significados e significantes relacionados à África em sua diferença ou singularidade. Pela dominação apoiada em representações patriarcais machistas e em condições de extrema exclusão, talvez não houvesse mulheres negras. A diferença é que o processo de singularização das mulheres negras produzido, se diverge em uma classificação entre sujeitos e grupos com base na raça e no gênero: homens e mulheres brancos e negros. Diferenciação que denuncia e recusa as condições de privilégio e de poder de violência como atributo do racismo, independentemente das condições biológicas do sexo ou dos desnivelamentos secundários às políticas de gênero.
Para Carneiro (2005, p. 72) “Nessa biopolítica, gênero e raça articulam-se produzindo efeitos específicos, ou definindo perfis específicos para o “deixar viver e deixar morrer”. No que diz respeito ao gênero feminino, evidencia-se a ênfase em tecnologias de controle sobre a reprodução, as quais se apresentam de maneira diferenciada segundo a racialidade; quanto ao gênero masculino, evidencia-se, a simples violência.
Desta maneira aqui nos referimos a figuras femininas que atuaram e ainda atuam como modelos, como condutoras de possibilidades identitárias para a criação e recriação destes sujeitos. Quem são elas? Mulheres originárias dos povos africanos sub-saarianos, especialmente aqueles que vieram de onde se localizam hoje Benin e Nigéria a partir do século XIII, temos também as de tradições de origem nos povos bantus (especialmente onde hoje estão Angola e Moçambique), que foram os primeiros povos africanos trazidos ao Brasil. Como afirma Hall “a África é o significante, a metáfora, para aquela dimensão da sociedade e história que foi maciçamente suprimida, sistematicamente negada, e isso, apesar de tudo que ocorreu permaneceu assim” (2006, p.26). Para a assimilação de tal fenômeno em relação a mulher negra, há que se considerar a importância de um novo conceito, já respeitado como de grande relevância. Trata-se da ideia de interseccionalidade , que remete às dinâmicas e processos de interação entre dois ou mais eixos de subordinação na formação de situações de exclusão e pressão. Isto resinifica que tais situações vivenciadas de forma diversificadas/hierarquizadas em relação as mulheres negras e brancas, ou homens negros e brancos. São ainda mais diferenciadas se inseridas na análise as categorias de classe, geração, regionalidade ou orientação sexual, por exemplo. Se mencionar a desigualdades de gênero, considerando-se apenas homens e mulheres, torna-se,
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