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HISTÓRIA: A CIÊNCIA DA VERDADE OBJETIVAMENTE SUBJETIVA

Por:   •  18/2/2019  •  Ensaio  •  2.235 Palavras (9 Páginas)  •  226 Visualizações

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HISTÓRIA: A CIÊNCIA DA VERDADE OBJETIVAMENTE SUBJETIVA[1]

Bruna de Oliveira Costa[2]

RESUMO

A História é capaz de conhecer verdadeiramente o passado, ou elabora significados sobre o passado a partir de um ponto de vista subjetivo? Há tempos a História tem sido questionada pelas outras áreas de conhecimento, principalmente as Ciências Naturais, quanto ao fato de ser, ou não, realmente uma Ciência. O maior motivo de tal questionamento ser recorrente é o de o objeto de estudo do historiador ser o passado: no passado se encontram os fatos históricos. Como, então, tirar a prova de algo que não mais existe? Como o historiador consegue arrancar do inexistente uma verdade, um conhecimento verdadeiro?

O que é História?

        História em grego significa pesquisa, investigação, ou seja, aquele conhecimento adquirido a partir de investigações e foi com Heródoto e sua obra intitulada “História” que o passado foi visto com novos olhos, como uma possibilidade de estudo do comportamento humano. Desse modo, podemos entender que o historiador pode ser comparado a um investigador policial, pois, tal qual um detetive, reúne pistas para chegar a uma conclusão, a uma verdade.

A história é feita a partir de três tipos de conhecimento: da Episteme, considerada o verdadeiro conhecimento, da Doxa que consiste na opinião, na experiência de vida, no senso comum e da Téchine que é a arte da criação, do saber que cria algo novo, algo que não existe no mundo. Uma vez que, o conhecimento histórico é o conjunto desses três saberes, o historiador deve saber lidar habilmente para que não caia na falsidade, para que ele não deturpe a história, para que a sua investigação seja bem sucedida.

A História é uma relação do passado em razão do presente, o conhecimento histórico se dá a partir do passado humano, o estudo histórico é um diálogo constante entre presente e passado. É a partir da investigação de um documento histórico - da história que é “contada” intencionalmente, ou não - que o historiador obtém o conhecimento verdadeiro, bem como também conhece opiniões e por fim é a partir de suas habilidades que o historiador é capaz de criar algo que ainda não existe no mundo, ele cria um novo saber histórico.

Conhecimento histórico é mais que o relato dos fatos ocorridos no passado, conhecimento histórico é o diálogo constante que pratica um historiador (vivo no presente) com documentos, vestígios, de homens que foram vivos no passado. Portanto, conhecimento histórico é a investigação do homem e das suas ações no tempo e no espaço, bem como a análise de processos e/ou eventos ocorridos no passado.

Não há menos beleza numa equação exata do que numa frase correta. Mas cada ciência tem sua estética de linguagem, que lhe é própria. Os fatos humanos são, por essência, fenômenos muito delicados, entre os quais muitos escapam à medida matemática. Para bem traduzi-los [...] uma grande finesse de linguagem, uma cor correta no tom verbal são necessárias. Onde calcular é impossível, impõe-se o sugerir. (BLOCH, 2001, p.54-5)

Podemos, a partir da citação acima, compreender que assim como todo e qualquer conhecimento, o conhecimento histórico, a ciência histórica, tem a intenção de organizar, racionalizar o caos que é o viver humano, uma vez que, no mundo real há tantas e tantas ações e fatos acontecendo ao mesmo tempo. O fazer histórico tem como intenção objetivar eventos e processos pelos quais passa o homem, tornar o misterioso em algo racional, pois somente a partir do passado é possível obter o conhecimento histórico. Interpretações e perguntas são o modo como o historiador faz a sua ciência, a ciência histórica, tal qual as outras ciência é feita de tentativas e erros, de falseamentos, de persistência.

Como acontece o conhecimento histórico?

        O conhecimento histórico, contudo, se dá de modo indireto, uma vez que o objeto de estudo do historiador são os documentos históricos – entende-se por documento histórico tudo o que uma época aceita como documento histórico; pode ser apenas fato relatado ou escrito de ações humanas e eventos ocorridos, como se considerava antes da era moderna, mas também pode ser qualquer objeto que fale algo sobre a ação humana, bem como quando o documento teve o seu sentido ampliado, na modernidade. Ou seja, o objeto de estudo do historiador é algo que foi deixado por outro ser humano, vestígios de como esse outro viveu, o que fazia, quais foram suas decisões, impressões, opiniões etc. Por tal motivo, então, o conhecimento histórico se dá de modo indireto: pelo fato do historiador não poder, na maioria das vezes, dialogar diretamente com esse outro (aquele que foi vivo no passado), por se tratar somente de vestígios. Pode-se tomar por documento histórico a seguinte definição:

“É um documento histórico toda a fonte de informação de que o espírito do historiador sabe tirar qualquer coisa para o conhecimento do passado humano, encarado sob o ângulo da pergunta que lhe foi feita. É evidente que se torna impossível dizer onde começa e onde acaba o documento; a pouco e pouco, a noção dilata-se e acaba por abarcar textos, monumentos, observações de toda ordem.” (MARROU, 1974, p.69)

        A partir da definição feita, por Marrou, acima, podemos compreender, então, que um documento é tudo e qualquer coisa que fale sobre a ação humana desde obras de arte até mapas geográficos, desde fotos familiares até monumentos faraônicos. O ser humano não vive isolado, por isso tomam-se como documento histórico os mais amplos objetos de estudo desde catástrofes naturais como um vulcão ou uma avalanche até uma vaca que atravessando a estrada causou um acidente.

        Do mesmo modo podemos entender quais são os muitos e variados objetos de estudo de um historiador (documentos históricos), poderemos entender o quê o objeto de estudo é capaz de explicar. Tudo advém do campo da subjetividade, pois assim como um documento histórico é tudo o que uma época o diz que é; o que tais objetos explicam depende da capacidade que tem o historiador de questionar esse objeto/documento/vestígio. Marrou em sua obra de 1974 compara o trabalho de investigação do historiador com o trabalho de um artista – a habilidade que deve ter o historiador ao questionar um documento histórico depende da sua experiência de vida, de sua cultura.

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