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Identidades dos estados e identidade nacional à época da Revolução Americana

Por:   •  12/7/2017  •  Artigo  •  2.500 Palavras (10 Páginas)  •  824 Visualizações

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Identidades dos estados e identidade nacional à época da Revolução Americana
Autor: Jack Greene


É evidente que não poderia existir nenhum nacionalismo especificamente americano,baseado na lealdade a uma unidade política nacional americana, antes de existir essa unidade política ou pelo menos a perspectiva iminente de um desses Estados. Na medida em que os habitantes dessas unidades políticas tinham uma identidade nacional maior, essa identidade não estava, ao contrário da suposição implícita de algumas gerações de estudiosos da história americana; impregnada de um anseio pelo surgimento de uma identidade nacional americana, engendrada por um Estado nacional americano. Em vez disso, ela girava em torno do orgulho dos colonos por sua ligação com o Estado nacional extremamente bem-sucedido da Grã-Bretanha

O povo predominantemente inglês que criou e organizou todas as colônias inglesas ou, depois de 1707, britânicas na América trazia consigo para o novo lar vínculos explícitos e profundos para com a cultura que deixava para trás e para com a identidade nacional implícita nela. Aonde quer que fossem com a intenção de colonizar, eles manifestavam a poderosa determinação de expressar e preservar sua qualidade de ingleses com o reordenamento de paisagens físicas e culturais existentes de acordo com tradições inglesas, impondo-lhes seus modelos de ocupação da terra, de organização social e econômica, práticas culturais e sistemas políticos, jurídicos e religiosos, enquanto tornavam o inglês a língua da autoridade. É provável que em nenhum outro momento da era colonial o nacionalismo e o patriotismo britânicos tivessem sido mais fortes do que no final da Guerra dos Sete Anos.

Para os colonos ingleses e seus descendentes, porém, uma variedade de condições atuou durante os longos anos dos tempos coloniais, tanto para tornar discutíveis as reivindicações coloniais a uma identidade inglesa quanto para aumentar a premência dessas reivindicações entre imigrantes e seus descendentes. Essas condições incluíam a enorme distância física dos colonos em relação à Inglaterra. Os constantes conflitos com a pátria de origem para determinar se eles como colonos, tinham direito às leis e aos privilégios ingleses; e, se talvez o mais importante de tudo, uma tendência geral entre o povo nas ilhas de origem de considerá-los como “outros”, que se encontravam consideravelmente abaixo dos padrões da metrópole.

No fundo, os colonos faziam objeção à cobrança de impostos e à intromissão do governo em assuntos internos sem seu  consentimento exatamente porque, por serem contrárias aos direitos e às garantias legais a que tradicionalmente faziam jus os britânicos livres ou “independentes”, essas medidas colocavam em dúvida sua identidade como britânicos. De fato, o que veio a ser conhecida como Revolução Americana foi até um nível significativo, uma decorrência direta da resistência colonial àquelas medidas e deveria ser entendida como um movimento dos habitantes britânicos das colônias para garantir o reconhecimento de sua identidade britânica da metrópole. Por mais importante que fosse, a identidade que os colonos compartilhavam como britânicos protestantes, nascidos livres, sempre foi mediada por um conjunto de identidades coloniais. Ao longo dos anos, cada colônia, como entidade social e política separada e semi-autônoma, desenvolveu uma específica identidade coletiva. Enraizadas num determinado espaço físico manifestadas através de uma forma específica de organização socioeconômica, ampliadas, modificadas e refinadas por décadas de experiência coletiva, e internalizadas por várias gerações de crioulos e imigrantes, essas identidades coloniais e as lealdades e compromissos a elas associados, já na época da Revolução Americana, estavam profundamente entricheiradas. Ser da Virgínia era diferente de ser da Pensilvânia ou de Rhode Island. Se os colonos se empenharam em resistência política para defender sua reivindicação do direito a uma identidade britânica, eles também trouxeram para essa resistência identidades provinciais bem desenvolvidas e profundamente arraigadas, com as quais se sentiam à vontade, das quais tinham orgulho e a respeito das quais podiam ter uma atitude extraordinariamente defensiva.

Por esse motivo, quando os colonos abandonaram sua ligação formal com a Grã-Bretanha, não se tratou tanto de eles terem renunciado a sua identidade britânica nacional, mas de reafirmarem sua adesão aos principais componentes daquelas identidades, bem como, seu uso como exemplo. Aos olhos do advogado da Pensilvânia, Joseph Galloway, essa desunião tinha dois efeitos potencialmente danosos. Em primeiro lugar, ela tornava as colônias “fracas em si mesmas”. Muitas delas, observou ele ao chamar atenção para a onipresente instituição da escravidão na América do Norte, já traziam “nas Entranhas um Inimigo pronto” para destruí-las. Em segundo lugar, isso as tornava arenas em potencial para guerras civis. Quando irrompessem entre elas “Controvérsias baseadas no Interesse, na Religião ou na Ambição”, advertia Galloway, as colônias se tornariam “Presa Fácil para qualquer Invasor estrangeiro”.
O entusiasmo “nacional” era sempre moderado pelo reconhecimento da incrível diversidade entre as colônias. À medida, porém, que foram se familiarizando mais umas com as outras, estudando o “Caráter e Temperamentos”, bem como os “Princípios e Opiniões” de seus colaboradores, e aprendendo cada vez mais sobre os modelos distintos de “Comércio, Política e Pleno Interesse de uma Dúzia de Províncias [separadas], elas também chegaram rapidamente à percepção de que “as diferentes formas de governo nas diversas colônias, a educação, os livros e a sociedade diferentes provocavam naturalmente que visão de objetos políticos nem sempre fosse a partir da mesma perspectiva.

Essas diferenças proporcionaram a base para comparações desfavoráveis e o aumento da inveja. Como era objeto das Leis Intoleráveis de 1774, Massachussets estava no centro do furacão da resistência, e os representantes da Nova Inglaterra “encontraram uma forte inveja de nós, da Nova Inglaterra, e do Massachusetts em especial”. A nomeação de Washigton pode ter de fato consolidado as relações entre Virgínia e Massachussetts, as duas colônias que ao longo da década anterior tinham disputado a liderança da resistência aos esforços britânicos para cobrar tributos das colônias e controlar melhor a administração colonial, mas ela de modo algum eliminou as profundas invejas e dissensões entre as regiões. As colônias da Virgínia, das duas Carolinas e da Nova Inglaterra se prontificaram, com relativa rapidez, a apoiar o movimento pela independência, mas algumas das colônias do meio, que incluíam principalmente Maryland, Pensilvânia e Nova York, agiram com muito mais deliberação. Foi assim que James Duane, em maio de 1776, aconselhou seu companheiro representante de Nova York, John Jay, a não se pronunciar rápido demais pela independência. Deveríamos esperar para ver “a Conduta das [outras] colônias do meio antes de chegarmos a uma decisão”, escreveu ele. Esse comportamento cauteloso não granjeou para os nova-iorquinos a simpatia dos outros líderes da resistência. Nova York é a última colônia a decidir pela independência.

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