Juventude Hitlerista: a história dos meninos e meninas nazistas e a dos que resistiram
Por: T4541 • 8/9/2019 • Trabalho acadêmico • 1.880 Palavras (8 Páginas) • 206 Visualizações
BARTOLETTI, Susan Campbell. Juventude Hitlerista: a história dos meninos e meninas nazistas e a dos que resistiram. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006. |
O sistema de polícia – gulag
O autor inicia mostrando uma diferença de classe sócio-econômica na Rússia staliniana, e essa classe mais baixa refere-se aos habitantes do vasto sistema de campos de trabalho forçado ou gulag (sigla para “administração estatal dos campos”). Não se saber estabelecer precisão a quantidade da população do gulag e, comparar com a população das outras classes sociais torna-se difícil por causa da anormal taxa de mortalidade no gulag. Para manter essa população era necessário substituir os mortos ou, os poucos sobreviventes que eram soltos. Era exigido um número maior de pessoas nessa classe do que em outras.
O polonês S. Swianiewicz, mesmo internado no início dos anos 40, fez uma análise social do gulag Swianiewicz considera ter assistido à “formação de uma nova classe social, no nível mais baixo da pirâmide social". Descobriu que a maior parte dos prisioneiros, oriundos antes da prisão de posições humildes”,
“pareciam aceitar o próprio destino. Ouvia-se dizer que, no final das contas, a natureza dividiu a sociedade em homens livres e em abandonados que, submetidos à coerção, devem carregar o fardo do trabalho mais pesado (...). Esperavam alguma reforma que melhorasse a sua condição, mas não ousavam pedir a libertação total. De fato, paulatinamente, estavam adquirindo a mentalidade dos escravos”.
Na União Soviética, foi publicado em 1934, um volume extremamente oficial, com o título O canal Mar Branco-Báltico que tem o nome de Stalin: a história de sua construção. A obra foi “editada” por Máximo Górki, pelo eminente crítico literário L. Averbach e por um funcionário do gulag, S. G. Finn. Dirigiam uma equipe de trinta e quatro escritores, entre os quais Górki e Averbach, além do famoso historiador da literatura, D. Mirski (outrora Príncipe Mirski), e o maior escritor satírico soviético, M. Zotchenko. A explanação interrupta do modo pelo qual o canal entre o Mar Branco e o Báltico fora construído em apenas quinhentos dias era uma sincera homenagem ao gulag, chamado aqui por seu verdadeiro nome e descrito sem subterfúgios como um ramo da GPU, a polícia política da época. Mesmo dedicado a apenas um episódio da história do gulag, o livro é precursor do relato em vários volumes de Soljenitsin, e grande parte da descrição do gulag por esse autor é confirmada na obra de Górki e de seus colaboradores, para os quais a essência do gulag reside na luta de classes. A polícia varre os inimigos de classe derrotados naquela luta e, através do poder purificador do trabalho coletivo, transforma-os em dignos habitantes da sociedade socialista.
Os instrumentos fundamentais de persuasão aplicados a sociedade não-penal staliniana são: disciplina do trabalho, emulação socialista, propaganda, modestas retribuições. O processo da construção é tão importante quanto à coisa construída, já que é o processo que completa a vitória sobre os elementos de classe estranhos na sociedade, mas também no interior do indivíduo. É atribuída a máxima importância à função dos inimigos de classe mais ferrenhos, sabotadores ativos, nessa transformação: nas palavras do autor coletivo, eles são “reforçados”. O gulag, portanto, é o final humanitário e glorioso da luta de classes. Segundo Górki e seus colaboradores, “Stalin foi o promotor das comunidades de trabalho da GPU e da política de reforma através do trabalho. Foi Stalin quem lançou a idéia de construir o canal Mar Branco-Báltico aos prisioneiros, pois graças às suas diretivas esse método de reforma revelava-se possível”. Stalin, sem dúvida, considerava necessário envolver a polícia e os campos de trabalho na luta de classe. Desde a abertura do processo contra os “sabotadores”, em 1928, reafirmara o contínuo perigo representado pelos inimigos de classe no interior e no exterior. A grande expansão do gulag obtida graças à “eliminação dos kulaks como classe” prosseguia essa lógica. Porém, uma vez esmagados esses vestígios da ordem social pré-revolucionária, não deveria por acaso diminuir a luta de classe na URSS. Numa importante declaração de janeiro de 1933, na qual celebrava o triunfo do primeiro plano qüinqüenal, proclamou que “a abolição das classes não se obtém através da extinção da luta de classes, mas através de sua intensificação”. Essa tese foi reafirmada e elaborada em sua única declaração pública sobre os eventos que, em geral, chamamos de “expurgo” ou “terror”.
Em dezembro de 1937, no auge da nova onda de prisões entre os membros da nova intelectualidade, celebrava-se o vigésimo aniversário da fundação da polícia. Na principal declaração pública em honra a essa organização, sublinhavam-se os sucessos obtidos na identificação dos que faziam “jogo duplo”, os quais, “escondendo-se” por trás da carteira do Partido, infiltraram-se no Partido. Toda a história do Partido parece ter sido uma luta contra os inimigos de classe no interior do próprio Partido, tudo isso punha o Partido numa posição ambígua. Por um lado, era a criação de Lênin e de Stalin, a vanguarda do proletariado. Na imagem difundida no final dos anos 30, porém, era também uma organização envenenada pelos agentes do inimigo de classe, desde a célula local até o Politburo. É presumível que as forças do bem estivessem vencendo a luta pelo controle do Partido, mas o sentido da campanha lançada por Stalin residia no fato de que o Partido não era de todo confiável.
A subordinação, em final dos anos 30, do Partido à polícia foi, em sentido genérico, a acusação principal que Kruschev dirigiu contra Stalin em seu relatório secreto de 1956, e era uma acusação mais do que justificada. Naquele período, o Partido perdeu todo direito de decidir por sua própria iniciativa quem era digno de se inscrever nele (e
até mesmo de continuar a viver) e quem não o era. O “expurgo” do Partido (chistka, ou, literalmente, limpeza), através do qual os organismos internos do Partido enfrentavam esse problema, foi substituído pela Ezovtchina (ou, literalmente, “o reino de Ezov”, o chefe da polícia entre 1936 e 1938). O livro sobre o canal entre o Mar Branco e o Báltico definira a política como “guarda pessoal do proletariado”.
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