O PAPEL DA MÍDIA NA CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
Por: Diego Velho • 30/1/2018 • Artigo • 1.998 Palavras (8 Páginas) • 430 Visualizações
O PAPEL DA MÍDIA NA CRIMINALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS.
Diego Ricardo de Assunção Velho[1]1
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo analisar qual o papel da mídia na criminalização dos movimentos sociais, observando a maneira como os conteúdos vinculados pelos diversos meios de comunicação é absorvido pela sociedade. Através de uma adaptação da cultura levada aos lares brasileiros a mídia tradicional, em muitos momentos é vista como o único meio de contato com a cultura e com uma realidade diferente da vivida pela maioria dos brasileiros, acabando em diversos momentos recebendo uma cultura imposta por uma mídia descomprometida com a realidade local. Um dos objetivos desse pequeno artigo é analisar que que maneira a mídia tradicional interfere diretamente no pensamento político social do indivíduo e como isso favorece na atuação dos interesses da uma classe sobre as outras.
Palavra-chave: Mídia, Movimentos sociais e Criminalização.
INTRODUÇÃO.
“Os protestos sistemáticos contra os centros de poder global multiplicam-se. Os fóruns sociais mundiais, continentais e nacionais construíram-se como lugares de convergência dos movimentos e organizações que estão lutando contra o neoliberalismo. Trata-se de esboçar um quadro geral de reflexão sobre o andamento desses eventos”. (Houtart, 2006).
No decorrer do processo de formação histórica do nosso país, podemos afirmar que os movimentos sociais sempre estiveram presentes nesse cenário. Na formação da identidade brasileira, os movimentos sociais adquiriram diferentes formas e organizações ajudando na compreensão de cada período histórico. Estudar os movimentos sociais não se trata apenas de estudar os atos, manifestações e passeatas propriamente ditas, mas buscar compreender todos os atores e a pluralidade que se fazia presente nesses movimentos e que acabaram por desencadear determinados tipos de ações. Faz-se necessário para que entendamos o objeto deste estudo a apresentação do conceito sobre movimentos sociais que utilizaremos.
“Movimentos sociais são ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas”. (Gohn- 2013)
Recentemente, o Brasil viveu um momento que entrou para a história como uma das mais importantes das ações dos movimentos sociais em nossa sociedade, como podemos observar na gama de publicações de artigos a respeito das jornadas de um junho de 2013. Partindo desses acontecimentos surgem uma série de questionamentos a respeito de como a sociedade brasileira se enxerga hoje no cenário nacional? Será que podemos afirmar que nessas últimas décadas o povo brasileiro se tornou mais crítico e consciente politicamente de seu papel como cidadão?
Esses levantamentos nos levam a pensar na questão da formação do sujeito histórico e na construção de um pensamento crítico por parte da sociedade. O sujeito histórico como nos afirma Houtart, “ não era o único sujeito. O autor chama atenção para o surgimento de uma nova classe, que se transforma em sujeito histórico quando se constituiu no seio das lutas, passando do estatuto de uma classe em si a uma classe para si”. Ou seja, esse sujeito se constrói a partir das lutas que são travadas dentro dos organismos sociais, mas muito além disso, esse sujeito se transforma de fato em um sujeito histórico no exato momento em que ele começa a exercer a sua consciência de classe. É importante destacar que a nova classe à qual o autor se referiu é a classe operaria. Esse entendimento a que classe o autor se refere é importante para que entendamos o diálogo existente entre as diversas teorias dos movimentos sociais. Não podemos achar que os movimentos sociais são fruto somente de uma articulação crítica de parcela da sociedade como posicionamento à esquerda, pelo contrário, há movimentos diversos que se traduzem no seio da sociedade e mostram a variedade de posições políticas, ideológicas ou filosóficas e inclusive de caráter xenófobos e etc.
Na busca por desenvolver um trabalho que tenha um real valor teórico para a sociedade acabamos por buscar métodos e maneiras através de categorias para facilitar o desencadear de nossa pesquisa, nem sempre escolhemos as corretas, pois cada uma requer uma decisão a ser tomada, que nem sempre condiz com a melhor analise do objeto que estamos estudando. É nesse sentido que interpreto categoria partindo da concepção de MARX (1982) para o termo, no qual ele afirma se tratar de relações sociais e não formas de analise, sendo elas responsáveis pela produção da vida dos homens. Entendemos essas que essas categorias sofrem mudança ao longo da história da humanidade, por tanto são produtos históricos e transitórios e a partir desse entendimento não podemos eleger uma única categoria existente para analisarmos um acontecimento, aqui os movimentos sociais, pois as categorias sociais expressas no século XX, por exemplo, são diferentes das expressas atualmente. Podemos, no entanto, fazer um retorno a essas categorias analisadas no passado para buscarmos ferramentas que nos possibilite analisar com clareza as categorias que agora nos sãos colocadas.
Nesse sentido, podemos observar o próprio emprego do termo classe no decorrer da história. Segundo Badaró (2007) durante o século XVIII o termo classe era usado como sentido de categoria, em contraste com a ordem ou Estado, que definiam grupos de acordo com os critérios de hierarquia, hereditariedade e solidariedade. O autor continua fazendo uma análise do uso do termo classe, afirma que durante o século XIX na França o termo era usado para expressar relações entre grupos baseados em desigualdades, como “classe dominante”, “classe burguesa”, e “classe trabalhadora”. Porém, afirma Badaró que a maioria dos trabalhadores usava o termo classe como sinônimo de profissão.
Durante o final do século XIX, por volta de 1840 na Inglaterra é que podemos observar uma modificação no uso do termo classe trabalhadora sendo expresso para indicar solidariedade interna ou grupo social em oposição e outros grupos, sendo usado o termo classe trabalhadora em um sentido amplo, talvez nesse momento comece a nascer o que mais tarde Marx classifica de uma classe em si para uma classe para si.
“As condições econômicas transformam primeiro a massa da população do pais em trabalhadores. A dominação do capital criou para essa massa uma situação comum, interesses comuns. Essa massa é, portanto, já uma classe no que se opõe ao capita, mas não é ainda uma classe para si. Na luta, da qual nós destacamos apenas umas poucas fases, essa massa se unifica, e constitui como uma classe para si. Os interesses que defende se tornam interesses de classe. Mas a luta de classe contra classe é uma luta política. ” (MARX, 1847)
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