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O Reino Congo

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Por:   •  28/9/2013  •  2.162 Palavras (9 Páginas)  •  775 Visualizações

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Uma hegemonia: o Reino do Congo

Embora a influência árabe seja incontestável na zona sudano -saheliana – ainda que vários reinos tenham aparecido antes da introdução do Islã na região –, somos obrigados a convir que Estados como o reino do Congo, o Zimbábue e o Monomotapa (Mwene Mutapa) praticamente não sofreram a influência do Islã.

Nos séculos XV e XVI, o Congo era o único Estado capaz de exercer sua hegemonia sobre toda a região, entre o planalto de Benguela e os planaltos bateke, e desde o mar até além do rio Cuango. Por volta de 1500, as fronteiras do estado beiravam o rio Zaire, do estuário até sua confluência com o Inkisi e, em alguns lugares do Norte, estendia -se além do rio, notadamente no Manyanga. Incluía a bacia do Inkisi e todas as terras do Sul, até o Loje. Expandia -se em direção ao Sul, e talvez rumo ao Cuango. Ademais, influenciava todas as entidades políticas, exceto o reino tio, e por vezes arrecadava tributos delas. O reino propriamente dito era muito povoado, mas apenas dispomos de estimativas muito aproximativas para determinar o número de seus habitantes. A maioria dos especialistas aceita uma estimativa em torno de 2 milhões. Porém, certo autor sustenta que teriam sido 4 milhões, e talvez até 8 milhões, ao passo que outro se recusa a ultrapassar meio milhão.

As regiões influenciadas pelo Reino do Congo tiveram, no máximo, uma população de mesmo tamanho. A do reino tio devia ser muito baixa, a não ser nos arredores do Pool Malebo. Visto o papel crucial do Congo na evolução histórica da região, convém apresentar o esquema de sua organização.

De início, era dividido entre uma grande cidade, a capital Mbanza Kongo, e o campo. Ali coexistiam três camadas sociais bem definidas. A nobreza, os aldeãos e os escravos diferenciavam -se por seu estatuto legal, suas atividades e seu estilo de vida.

A própria língua expressava essas diferenças graças a uma terminologia que opunha as noções de “civilização” e de “educação”, ligadas à vida urbana, ao conceito de “rusticidade”, própria do campo. O mesmo vocábulo significava “escravo” e “cativo de guerra”, indicando assim a procedência dos escravos.

A nobreza constituía a ossatura do reino, e a cidade a corrente de transmissão. Os nobres viviam nas cidades, exceto quando deviam ocupar cargos de comando nas províncias. A alta nobreza compunha -se dos parentes do rei ou de um de seus predecessores. Constituía -se em casas bilaterais ligadas entre elas por alianças matrimoniais e pelo fato de alguns indivíduos pertencerem simultaneamente a várias casas. Frente às aldeias a nobreza formava um bloco. A matrilinearidade determinava o acesso às terras, o lugar de residência e a sucessão à frente da aldeia. A coesão social era muito mais fraca entre as aldeias do que no seio da nobreza. O rei nomeava seus parentes próximos para os cargos chave do governo das províncias, da magistratura superior e da administração fiscal. A realeza baseava -se em eleições: o conselho real comportava 12 membros – dos quais 4 eram mulheres – que representavam, segundo Hilton, os clãs dos avós do rei. Apesar dessa instituição, as lutas de sucessão eram corriqueiras. Depois de uma dentre elas, opondo os senhores do Norte aos da capital e do Sul, Nzinga Mbemba, conhecido como Afonso I, sucedeu a seu pai, Nzinga Nkuwu, em 1506. Os reis, por serem grandes polígamos, tinham vários filhos, e sua casa alcançava rapidamente grandes proporções. Após vinte e cinco anos de reinado, Afonso já tinha 300 netos e bisnetos, e certamente o mesmo número de sobrinhos em primeiro e segundo graus. A esposa principal do rei devia ser a filha ou a irmã do governador de Mbata, província esta em que o governo era hereditário dentro do parentesco matrilinear dos Nsaku Lau. O príncipe reinante ali se casava, por sua vez, com uma parente próxima do rei. O dignitário religioso supremo do reino, o mani kabunga (senhor) de Mbanza Kongo era oriundo de um ramo de parentesco deste príncipe, os Nsaku Vunda. Tal dignitário era responsável pelo culto do espírito territorial da região da capital. Os dois senhores dos Nsaku coroavam o rei. Vê -se então claramente como se constituiu o reino em sua origem. O Reino do Congo, apesar de ser governado por uma rede de parentes do rei, permanecia fortemente centralizado. O rei nomeava os governadores territoriais, à exceção daquele de Mbata e, após 1491, daquele do Soyo onde se encontrava o porto do reino, em Mpinda. Podia demitir os governadores e outros funcionários a seu bel -prazer. A nobreza não tinha cargos hereditários e vivia no esquecimento em Mbanza Kongo: a cada geração, sua hierarquia era redefinida em relação aos novos reis. A centralização era ainda reforçada pela existência de uma moeda cuja emissão o rei controlava. Tratava -se de conchas de olivancilaria nana, chamadas de nzimbu, procedentes das pescarias de uma ilha que fazia parte do reino, a de Luanda. A centralização também era perceptível em nível militar. Cerca do fim do século XVI, a guarda real era composta por 16.000 a 20.000 escravos e constituía a única força armada permanente do reino. Em caso de guerra no exterior, o recrutamento dos camponeses organizava -se em unidades territoriais. Cada casa de nobres, organizada em torno de um grande homem, também tinha seus próprios homens (subordinados e escravos), e a casa real disponha, além do mais, de escravos enviados por toda a nobreza.A ideologia da realeza (nkisi) decorria das concepções religiosas gerais. Três cultos importantes nela desempenhavam um papel: o dos antepassados cujo lugar sagrado era o bosque do cemitério real, o dos espíritos territoriais (o espí-rito de Mbanza Kongo era zelado pelo mani kabunga, o clero encarregado dos espíritos, tanto no nível da aldeia quanto do reino) e o dos sortilégios reais. Essa noção de nkisi era fundamental. Os cristãos retomaram esse termo com o sentido de “sagrado”. Chamavam a igreja de “casa do nkisi”, a bíblia de “livro do nkisi”o sacerdote de nganga do nkisi, nganga sendo por sua vez o termo consagrado para desgelar um especialista em religião, principalmente em nkisi. Atribuíam-se as doenças e desgraças aos ndoki (feiticeiros), estes últimos podendo ser descobertos pelos nganga ngombo (adivinhos), por vezes com a ajuda de ordálios. O emprego de oráculos, inclusive o do veneno na administração da justiça, assim como a eterna suspeita de que o rei seria um feiticeiro, remetiam a essa noção de nkisi. A realeza era sagrada. Endereçava -se ao rei chamando -o de Nzambi Mpungu (criador supremo). Esse caráter sagrado expressava -se pela etiqueta e pelas cerimônias da corte, principalmente a cerimônia de investidura. Ao dar sua tumba (benção), o rei protegia os oficiais reais e, em

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