O TEMPO SOCIAL E FÍSICO: RELAÇÕES DE PERMANÊNCIAS E RUPTURAS
Por: Marcia Fatel • 23/4/2018 • Trabalho acadêmico • 5.885 Palavras (24 Páginas) • 329 Visualizações
Tema 01: O TEMPO SOCIAL E FÍSICO: RELAÇÕES DE PERMANÊNCIAS E RUPTURAS.
I – INTRODUÇÃO.
O tempo é dependente de vários fatores para que seja medido. Já na antiguidade, com os filósofos como Aristóteles o tempo era utilizado como medida para definir o espaço e o movimento dentro dele. As formas de mudar o tempo têm variado muito desde que o ser humano começou a percebê-lo, indo da observação dos astros celestes até a olhada no relógio. As sociedades, e também as pessoas, possuem formas de organizar a vida e os rituais diários e específicos através do tempo: a comemoração de datas que acontecem somente uma vez por ano, a rotina semanal, o horário do ônibus.
O tempo é o fator que determina o ritmo de uma sociedade. O mundo ocidental tem sua perspectiva de mundo baseada no trabalho. Desde a Revolução Industrial a sociedade vem organizando-se de acordo com os regimes impostos pela rotina do trabalho. O acordar, o almoçar, o dormir, todas as atividades pessoais acontecem de acordo com a rotina do trabalho, sempre vivendo pelo relógio.
O tempo do indivíduo, além de estar marcado pelo ritmo do social, está marcado pelo tempo biológico. O trabalhar em sociedade faz parte de um período de desenvolvimento pelo qual o ser humano passa desde seu nascimento até sua morte como parte de seu trajeto em uma sociedade. O tempo biológico determina se o indivíduo está pronto para determinadas atividades na sociedade e no espaço que habita. É necessário entender que os seres humanos são resultado da sociedade em que estão inseridos. É a partir da convivência e das experiências do ser humano dentro da sociedade que ele ganha suas características próprias que acabam por formar sua identidade.
II – TEMPO CRONOLÓGICO E TEMPO HISTÓRICO
Para efeitos de estudo, o tempo pode ser medido de acordo com a maneira como as sociedades o enxergam. Desde as primeiras civilizações e as observações do ser humano sobre a passagem do tempo, sua forma de situar-se dentro dele tem se diferenciado. É difícil saber ao certo quando o ser humano começou a medir o tempo da maneira como conhecemos hoje, com várias unidades de divisão (horas, minutos, segundos). É sabido que há mais de 4 mil anos as pessoas já mediam o tempo através da observação dos astros. Algumas sociedades entendem o tempo como uma linha, que possui começo, meio e fim, tendo o tempo nascido juntamente com o mundo. Para esses grupos haverá um momento em que o tempo chegará ao fim, assim como começou. Outras possuem uma visão de que o tempo e os eventos nele contido repetem-se na existência do cosmos. Isso significa que o tempo tem um fim, porém ele tem um começo novamente, pelo fato de ser algo cíclico e continuo.
Para o historiador, o trabalho com o tempo nem sempre está relacionado com a sua duração e passagem pelo relógio. Esse é apenas o tempo cronológico, que determina a ordem de fatores no espaço. O trabalho do historiador está focado no tempo histórico, ou seja, o tempo decorrente da duração dos eventos a serem estudados. Um bom exemplo é o que o historiador inglês Eric Hobsbawm propõe em seu recorte temporal para a composição de seu livro Era dos Extremos: O breve século XX. Nele o historiador propõe o entendimento do século XX não como o período que começou no ano de 1901 e durou até o ano 2000, já que essa é a apenas a medida do tempo de um século cronológico. Para Hobsbawm o século XX deve ser definido pelos eventos que o marcaram e que o moldaram, sendo seu início somente em 1914, quando a maneira de fazer guerra e a metodologia para a morte de pessoas altera-se consideravelmente, principalmente no que diz respeito à impessoalidade e facilidade de extermínio proporcionada por armas capazes de destruir vidas humanas ao simples pressionar de um botão ou comando. Da mesma forma, o século teria seu fim e mudaria drasticamente com o fim da união Soviética em 1991, o que acabou com o conceito de Mundo bipolar e com os ideais da Guerra Fria, dando novos rumos para a sociedade.
O tempo histórico também é marcado por permanências que devem ser observadas, já que é praticamente impossível uma sociedade alterar todos os seus costumes, seu modo de vida e sua cultura em um único evento que ditará a maneira como seus indivíduos passarão a se comportar. A transição entre eventos sempre deixa vestígios de um período anterior em meio às mudanças trazidas por um novo evento histórico.
III – A PASSAGEM DO TEMPO.
Os seres humanos buscam desde a antiguidade por maneiras eficientes de entender e marcar a passagem do tempo. Pouco a pouco foi estabelecendo as diferenças e a divisão entre os diferentes ciclos da natureza, os anos, os meses, as semanas, os dias, as horas. Quando o ser humano dependia da agricultura para garantir sua sobrevivência, tornou-se crucial entender o momento certo durante a passagem do ano para depositar no solo as sementes e garantir após determinado período a colheita, certificando-se das condições climáticas através das quais a planta iria desenvolver-se.
Ao entender que o Sol movimentava-se com um ritmo constante no céu, foi possível ao ser humano criar relógios capazes de marcar momentos do dia com a ajuda do Sol, aproximadamente 3000 anos atrás. Outras maneiras de marcar o tempo podem ser utilizadas sem a luz solar. A ampulheta é um objeto que consiste em um punhado de areia ou pequenos grãos, que passa de um recipiente a outro de maneira uniforme. Outras invenções da antiguidade são o relógio de água ou clepsidra e o relógio de fogo.
O relógio de fogo pode ser feito utilizando cordas com nós, velas ou azeite como combustível. Os primeiros relógios mecânicos surgiram por volta do século X, sendo atribuída a sua invenção ao Papa Silvestre II, no ano de 990 d.C. Por volta do ano 850 d. C., apareceu um relógio puramente mecânico, construído pelo arcebispo de Verona, Pacífico, que consistia num conjunto de engrenagens movidas por pesos. Mas certos historiadores referem que o primeiro relógio mecânico foi construído pelo Papa Silvestre II no ano 990 d. C. Só no final do século XIII começaram a surgir relógios mecânicos em maior quantidade, muitos deles instalados nas torres das Igrejas ou nas torres públicas das cidades. Em 1386, foi construído na torre da Catedral de Salisbury, em Inglaterra, um relógio cujo tempo era medido pelo movimento oscilatório de uma pesada barra.
IV – INFLUÊNCIAS DA HISTÓRIA: O TEMPO SOCIAL E O TEMPO FÍSICO POR MEIO DA ORDENAÇÃO, DURAÇÃO E SIMULTANEIDADE.
Tomando-se como referencial a Escola dos Annales em 1929 dar a noção exata de tempo social e tempo físico torna-se bastante necessário nos anos iniciais dimensionar o educando dentro do domínio desses dois contributos históricos. O tempo cronológico é o tempo matemático, irreversível, contínuo, nessa perspectiva, podemos afirmar que existe um tempo histórico de natureza cronológica, ou seja, o tempo das datas o qual trabalha-se nas classes, por outro lado, existem um tempo histórico cultural de natureza qualitativa, múltiplo, descontínuo, é um tempo reversível, circular aspiral, pois, tem como norte formador ações dos sujeitos históricos carregadas de valorações e dimensionamentos, logo, é o tempo da história das mentalidades.
...