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OS DOIS ADEMARES: CONSPIRAÇÃO, CORRUPÇÃO E MITOS SOBRE O GOLPE DE 64 E A DITADURA MILITAR

Por:   •  26/7/2019  •  Artigo  •  588 Palavras (3 Páginas)  •  324 Visualizações

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OS DOIS ADEMARES: CONSPIRAÇÃO, CORRUPÇÃO E MITOS SOBRE O GOLPE DE 64 E A DITADURA MILITAR

Glauber de Oliveira Montes

Muitos estudos já desmontaram mitos como o de que o golpe de 1964 teria sido simplesmente uma reação de última hora dos militares frente a atitudes do governo que eles consideravam inaceitáveis, quando se sabe que, junto com esse sentimento de reação (que realmente havia), e de militares que tomaram partido pelo golpe de última hora, existia também um longo histórico de conspiração e de golpismo por parte de militares e civis desde o início do governo Jango, e mesmo antes dele.

Outro mito já bastante muito utilizado inclusive como pretexto e justificativa para o golpe e as ações da ditadura (e repetido até hoje), é que o golpe e a ditadura existiram para combater a corrupção, no que teriam tido pleno sucesso, chegando algumas pessoas ao extremo de dizer “que não havia corrupção naquela época” (risos). Várias pesquisas também já demonstraram que isso é uma grande bobagem. Mas é interessante quando as falas de alguns dos próprios  agentes do golpe de 1964 deixam isso mais claro ainda.

O general Antônio Carlos Muricy (que comandou o destacamento militar organizado pelo general Mourão Filho para marchar até o Estado da Guanabara e tomar à força o poder do presidente João Goulart), em entrevistas de 1981 (bem como o general Mourão em seu livro) admite várias vezes que ele e outros generais conspiravam (usando exatamente esse termo) contra o governo, alguns de longa data, e que sabiam que estavam agindo contra a lei. Falando de sua participação e de outros na conspiração, ele diz que:

Antonio Muricy - [...] Como eu disse, cada um atuava dentro de uma área. Eu vim para o Rio e me entrosei dentro do grupo onde, na parte... Aqui no Rio havia ações nos meios militar e civil. A ação no meio militar era feita principalmente através do [general] Ademar [de Queirós]. E no meio civil, através do [general] Cordeiro [de Farias]. Pelos fatos de ter sido interventor, ter sido afastado e não estar em função, o Cordeiro não tinha acesso direto a certos comandos, o que não acontecia com o Ademar que já era um velho conspirador dos outros tempos. Então, aquela sua turma antiga de conspiração cerrou em torno dele e o Ademar e o Cordeiro viviam juntos.

Entrevistadora - A turma antiga é aquela do tempo do governo Juscelino? 

General Muricy - Exato. Toda aquela gente do tempo do Juscelino. 

Mais à frente, um outro trecho é revelador de que busca por honestidade podia ser facilmente relativizada se a pessoa estivesse do lado certo (o deles):

General Muricy - Ah! Então a situação de São Paulo foi se compondo.

Entrevistadora - Sabia-se de algum problema entre o [general Amauri] Kruel e o Ademar de Barros [governador de São Paulo e um dos principais líderes civis do golpe]?

General Muricy - Não tenho notícias de choques anteriores entre eles, mas não havia afinidade.

Entrevistadora - Não havia aproximação?

General Muricy - Não. E havia muita desconfiança de lado a lado. De um lado, o Ademar tinha aquele "rouba mas faz"... Mas ele estava profundamente empenhado na revolução. Ele se jogou para valer. De outro lado, Amauri era fechadão, um pouco rígido demais. [...]. E foi o Costa que, indo a São Paulo nas férias de 1964, conseguiu botar os dois tomando café juntos. Nós ficamos radiantes.

Fonte: MURICY, Antônio Carlos da Silva. Antônio Carlos Murici I (depoimento, 1981). Rio de Janeiro, CPDOC, 1993. 768 p. dat.

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