Os antecedentes da reforma protestante
Por: fnlcunha • 10/5/2017 • Monografia • 3.181 Palavras (13 Páginas) • 915 Visualizações
Flávio Teixeira da Cunha
Os antecedentes da Reforma Protestante
1ª Edição
Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2009
RESUMO
O presente artigo tem como principal objetivo, não fazer uma ampla abordagem da Reforma Protestante, que iniciou oficialmente a partir da pregação das 95 teses atribuídas a Martinho Lutero em frente à Igreja de Wittenberg, em 1517, mas sim uma tentativa de entender e analisar os seus antecedentes, as conjunturas econômica, política e religiosa, bem como as idéias humanistas da época, que permitiram, ou que proporcionaram o rompimento de Lutero com Roma e a eclosão da Reforma Protestante. Em suma, este artigo tentará demonstrar as razões da Reforma, os porquês dela.
Palavras-chave: Conjunturas. Humanismo. Igreja. Reforma.
ABSTRACT
This article has not as objective a wide approach of Protestant Reformation, that has beginning officially from the preaching of the 95 theses referred to Martin Luther in front of the Wittenberg Church, in 1517, but a attempt to understand and to analyze its precedents, the economic, political and religious context, and also the humanistic ideas of the age, that allowed, or that provided the disrupt of Luther with Rome and the outbreak of Protestant Reformation. To summarize, this article will try to aim the Reformation reasons, particularly the whys of it.
keywords: Context. Humanism. Church. Reform.
OS ANTECEDENTES DA REFORMA PROTESTANTE[1]
Flávio Teixeira da Cunha[2]
É evidente que a reforma religiosa ocorrida no século XVI foi um acontecimento histórico de extrema relevância na composição do que se define como Idade Moderna, e que esse movimento teve vários desdobramentos, como por exemplo: na área política, teve um papel imperativo para o fortalecimento das democracias no Ocidente - na área religiosa, o enfraquecimento do poder de Roma possibilitou a ascensão de diferentes ordens religiosas, com propostas de visão de mundo sob uma nova ótica; no campo das idéias, a grande influência dos humanistas que, com suas teorias, proporcionaram o investimento maciço em educação e, consequentemente, a economia veio a colher os seus frutos. Isso tudo é inquestionável.
Para que se tenha a compreensão do que representou a Reforma Protestante do início do século XVI, entretanto, é imprescindível saber as suas razões, os tantos porquês que a tornaram possível, as conjunturas pelas quais passava a Europa Central naquele momento, o caldeirão sócioeconômico, político e religioso que se transformou essa região e que permitiu a eclosão do movimento reformista liderado por Martinho Lutero, não permitindo uma reação de Roma a tempo de abafá-lo, como já ocorrera anteriormente.
É essa a proposta do presente ensaio: fazer uma análise das conjunturas que levaram à fratura da Igreja Apostólica Romana, o maior poder do Ocidente da época. Importante salientar que foi um movimento de periferia ocorrido dentro de uma universidade de periferia e que, com o apoio de parte da intelectualidade iluminista, em pouco tempo atingiria o centro, no caso Roma.
Para tentar explicar os antecedentes da Reforma, Martin Dreher vai afirmar que:
A Reforma não pode ser explicada a partir de um único acontecimento ou a partir da ação de uma única pessoa. Quero afirmar categoricamente que a Reforma não iniciou com a divulgação das 95 teses de Lutero no dia 31 de outubro de 1517. Muito antes de Lutero haviam se criado situações, haviam sido difundidas idéias, despertados sentimentos que provocaram e possibilitaram o conflito com a Igreja de então. Podemos até dizer que tais sentimentos estavam a exigir o que acabou acontecendo no século XVI.[3]
Desde meados do século XIV que a Europa já vivia uma aceleração da vida urbana, com um gradativo crescimento das cidades e uma notável urbanização, proporcionada pela transferência maciça da população camponesa para os centros urbanos, devido, principalmente, ao desgaste do modo feudal de produção, associado a uma série de fatores climáticos que ocasionaram quebras sucessivas de safras, como enchentes, invernos rigorosos e secas. Some-se a isso o fato de a Igreja ser detentora de grande parte das terras agricultáveis da Europa Central, cobrando um percentual relativamente alto pelo usufruto, agravando a crise campesina, desestimulando a produção agrária e, consequentemente, empurrando uma multidão para as cidades, na expectativa de melhorar de vida.
Esse deslocamento ocasionou uma crise agrária, cujas consequências foram a falta de alimentos e uma imediata alta de preços. A partir daí, com uma população empobrecida e faminta, começaram a aparecer doenças que se alastraram rapidamente, tomando proporções avassaladoras. A peste negra se espalhou por quase toda a Europa e ocasionou muitas mortes. Ela foi vista pela grande maioria da população como um castigo de Deus.
A Igreja vê aí o espaço para estabelecer uma “matemática da salvação” (CHIFFOLEAU, 1980, Apud. LINDBERG, 2001, p. 45), com a venda de sacramentos, no caso a extrema unção, para que os mortos pudessem fazer a passagem deste mundo para o outro. Sobre este aspecto, Lindberg comenta:
Esse deslocamento das tradicionais obras de misericórdia para a missa em favor dos mortos indicou não só a capacidade da Igreja de adaptar-se a uma nova situação, mas também a crescente influência de uma mentalidade de mercado com sua orientação para o cálculo de contas [...]. A missa tornou-se a preparação essencial para a jornada que conduzia, através da morte, até o céu, estabelecendo, ritualmente, elos poderosos entre este mundo e o próximo – elos estes que seriam explorados pelas doutrinas do purgatório e das indulgências.[4]
A Igreja começa a institucionalizar práticas religiosas opressivas, com a cobrança de dízimos e a venda de sacramentos, além da venda de relíquias e de indulgências, dando cada vez mais poder ao papado, transformando a instituição em um ‘império’ onde a luxúria e a vida mundana suplantavam cada vez mais as questões teológicas. Desenvolviam-se mecanismos administrativos cada vez mais eficientes para coletar mais e mais impostos, misturando-se as funções religiosas com as de Estado. Além disso, havia ainda a questão da aquisição de terras. A Igreja é detentora de grandes áreas rurais da Europa Central e cobra taxas altíssimas pelo usufruto. Cada vez mais as práticas eclesiásticas se distanciavam dos ideais de pobreza e da vida monástica apregoadas pela própria instituição.
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