RELAÇÕES DE GENÊRO NO BRASIL
Trabalho Escolar: RELAÇÕES DE GENÊRO NO BRASIL. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Dinha326 • 3/10/2013 • 5.165 Palavras (21 Páginas) • 425 Visualizações
RELAÇÕES DE GÊNERO NO BRASIL
Muitas mulheres, trabalhadoras e, especialmente, as feministas, tem lutado nas últimas três décadas pela construção de uma esfera pública democrática. Elas querem afirmar a questão feminina e assegurar a conquista dos direitos que se referem à condição da mulher. Por isso mesmo é importante que possamos estabelecer as pontes que ligam as experiências da história recente com a do passado, acreditando que nos acercamos de um ponto seguro e nos fortalecemos para enfrentar os inúmeros problemas no presente. (RAGO, 2004, p. 604,605).
O trabalho das mulheres no início do século XX
No início do século XX, de acordo com Fonseca (2004), muitas mulheres eram obrigadas a trabalhar para ter alguma forma de renda e escapar da miséria, pois os maridos recebiam um salário baixo que não chegava para o sustento da família. Havia, ainda, aquelas que tinham sido abandonadas por eles.
Apesar de ser evidente que muitas mulheres traziam o sustento principal da família, mesmo assim seu trabalho não era considerado como uma profissão, pois esse trabalho nem nome merecia, era ocultado, minimizado em conceitos gerais como “serviços domésticos” ou “trabalho honesto” (FONSECA, 2004 ) .
Ironicamente, apesar de ser evidente que em muitos casos a mulher trazia o sustento principal da casa, o trabalho feminino continuava a ser apresentado pelos advogados e até pelas mulheres como um mero suplemento à renda masculina. Sem ser encarado como uma profissão, seu trabalho em muitos casos nem nome merecia. Era ocultado, minimizado em conceitos gerais como serviços domésticos e trabalho honesto. (FONSECA, 2004, p. 516, 517).
O padrão do início desse século era que os homens trabalhassem para o sustento da família enquanto as mulheres tinham a obrigação de ficarem em casa, cuidando dos filhos e dos seus maridos. Apesar desse padrão, constata-se que as mulheres das famílias pobres trabalhavam em serviços domésticos (para outras famílias) ou eram lavadeiras e engomadeiras.
A sociedade tinha um preconceito muito grande com as mulheres trabalhadoras, pois, pelo padrão da época, cabia às mulheres a obrigação de cuidar da casa, do marido e dos filhos. Muitos acreditavam que o trabalho da mulher fora de casa destruía a família, tornaria os laços familiares mais frouxos, as crianças cresceriam mais soltas, sem a constante vigilância das mães. Deixariam de ser mães dedicadas e esposas carinhosas e muitas delas não se interessariam mais pelo casamento e maternidade. Na realidade, muitas vezes, essas mães tinham que deixar seus filhos aos cuidados de outras pessoas, para poderem trabalhar. Algumas dessas mulheres que trabalhavam, sofriam assédio sexual dos seus chefes, por isso tinham que defender sua reputação contra essa moralidade. Ao invés de serem admiradas por serem trabalhadoras, eram acusadas de serem mães relapsas. (RAGO, 2004).
O número dessas mulheres não era pequeno. Nas primeiras décadas do século XX no Brasil, elas e as crianças chegaram a compor a metade da força de trabalho nas indústrias, principalmente, as têxteis.
Os empregados preferiam mulheres e crianças justamente por serem uma mão de obra mais barata. Trabalhavam nas fábricas de fiação e tecelagem que possuíam escassa mecanização. Já os setores de metalurgia, calçados e mobiliário são, predominantemente, ocupados pelos homens.
Em 1894, dos 5.019 operários empregados nos estabelecimentos industriais localizados na cidade de São Paulo, 840 eram do sexo feminino e 710 eram menores, correspondendo a 16,74% e 14,15%, respectivamente, do total do proletariado paulistano. Na indústria têxtil, encontravam-se 569 mulheres, o que equivalia a 67,62 % da mão-de-obra feminina empregada nesses estabelecimentos fabris. Nas confecções, havia aproximadamente cera de 137 mulheres. Já em 1901, um dos primeiros levantamentos sobre a situação da indústria no estado de São Paulo constata que as mulheres representavam cerca de 49,95% do operário têxtil, enquanto que crianças respondiam por 22,79%. Em outras palavras, 72,74 % dos trabalhadores têxteis eram mulheres e crianças. (RAGO, 2004, p. 580, 581).
Falar das trabalhadoras urbanas do Brasil, nessa época, significava retratar um mundo de opressão e exploração. Nas fábricas, as jornadas de trabalho eram longas, os salários baixos, havia maus tratos de patrões e, inclusive, assédio sexual. Apesar disso, elas não deixaram traços na memória do país. “Sem rosto, sem corpo, a operária foi transformada em uma figura passiva, sem expressão política nem contorno pessoal.” (RAGO, 2004, p. 579). Por outro lado, conforme Fonseca (2004), o que a mulher recebia pelo seu trabalho era mais um suplemento ao salário do marido (quando o tinham), pois seu rendimento mal dava para o seu próprio sustento, do que dirá sustentar os filhos.
Além do trabalho nas fábricas têxteis, outra opção para as mulheres das famílias pobres era o trabalho a domicílio para fábricas de chapéu ou alfaiataria. Eram costureiras que trabalhavam em casa cerca de 18 horas por dia. De acordo com Rago (2004), em 1913, foram milhares em São Paulo que dessa forma completavam o orçamento doméstico.
Apesar do elevado número de mulheres trabalhadoras nos primeiros estabelecimentos fabris brasileiros, elas não foram progressivamente substituindo os homens e conquistando o mercado de trabalho, ao contrário, os homens que voltaram da Primeira Guerra Mundial, acabaram substituindo e expulsando as mulheres que trabalhavam nas indústrias. Com isso muitas delas voltaram a trabalhar nos nichos ocupacionais da época, ajudando a construir o país trabalhando em serviços domésticos, como lavadeiras, costureiras, cozinheiras, no campo, trabalhando nas plantações e nas colheitas. (RAGO, 2004).
Muitas foram as barreiras enfrentadas pelas as mulheres para participar do mercado de trabalho, independente da classe social. Receberam os menores salários, foram desqualificadas intelectualmente, sofreram assédio sexual, foram hostilizadas dado que o trabalho feminino fora do lar não era respeitado pelas famílias.
No entanto, o começo do século XX também trouxe mudanças. De acordo com Rago (2004), a crescente urbanização das cidades e o início do processo de industrialização do Brasil não só abriram novas perspectivas de trabalho, como o trabalho nas fábricas, mas, também significaram a introdução de novas idéias no país.
Os trabalhadores imigrantes e os nativos desenvolviam uma cultura própria nos centros de cultura social, nos quais circulavam as idéias anarquistas trazidas pelos italianos. As operárias também participavam junto com seus namorados ou maridos desses centros.
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