Resenha Sobre Alta Idade Media ou Idade das Trevas
Por: Rodrigo frança • 15/8/2016 • Resenha • 1.442 Palavras (6 Páginas) • 929 Visualizações
Entre Antiguidade Tardia e Alta Idade Média
Resenha
Rodrigo França de Menezes
O artigo do Dr. Marcelo Cândido da Silva trata-se de um debate historiográfico a respeito de duas correntes históricas, uma que defende a ideia de Antiguidade tardia e outra a Alta Idade Média.
A Antiguidade Tardia corresponde a uma periodização aproximada entre 300 e 476 D.C usada por historiadores e outros estudiosos eruditos para descrever o intervalo entre a antiguidade clássica Greco-romana e a Idade Média, tanto nas regiões da Europa continental quanto no mundo mediterrâneo. Geralmente esse período é marcado entre o suposto declínio do Império Romano do Ocidente do século III em diante, até a refundição da Europa Oriental sob o comando do Império bizantino que foi a continuação do Império Romano durante a Antiguidade Tardia e Idade Média e a conquista islâmica que começou logo após a morte do profeta Maomé que havia estabelecido uma nova organização política unificada na península Arábica sob o domínio dos Califas.
O termo Spätantike, literalmente “antiguidade tardia", tem sido usado por historiadores de língua alemã desde a popularização por Alois Riegl no inicio do século XX. Em inglês o conceito teve como principal defensor Peter Brown, cujo levantamento The World of late antiquity (1971) que ofereceu um novo paradigma para a transformação na cultura ocidental.
Brown em sua publicação elaborou uma definição de Antiguidade Tardia como sendo distinto na historia do mediterrâneo, durante o qual se desenvolveria a partir da idéia de um novo mundo uma dupla revolução, social e espiritual. Período esse que iria do século II até o século VIII, caracterizado pela lenta passagem de um modelo clássico de identidade cívica para um modelo de identidade religiosa. A antiguidade tardia não deveria ser alguma outra coisa alem da continuação ou senão a ultima antiguidade, esta que mesmo com novas características, tendo adotado uma singularidade, ainda conserva as formas mais antigas de mentalidade.
A respeito da Alta Idade Média, logo no começo do artigo o autor nos traz uma abordagem que recorre nos livros didáticos ate a década de 1980, em que se dava ênfase à dimensão cronológica do fenômeno como sendo um simples período situado entre a novamente suposta queda do Império Romano e o século XI.
O autor traz também exemplos de escritores de livros didáticos que consideram a Alta Idade Média como o lócus da formação do feudalismo, uma espécie de antecâmara da Baixa Idade Média. Ele nos trouxe o exemplo do livro de Claudio Vicentino, que traz a seguinte afirmação:
O feudalismo foi um sistema econômico, social, político e cultural predominante na Idade Média. Ou seja, foi à forma de vida assumida pela maioria da população europeia durante parte do período medieval. A sua formação foi lenta e progressiva, durante toda a Alta Idade Média, alcançando o seu apogeu entre os séculos VIII e XIIII (VICENTINO, 1995, p. 122).
Pensar um período tão longo apenas como uma passagem para modelos posteriores é ser bem simplista e não dar a devida dimensão há esses séculos, mesmo não havendo vestígios de cultura original produzida. Acredito que analises mais profundas das poucas fontes referentes a essa época traga consigo mais detalhes e talvez algo específico no que se refere às áreas denominadas por Alta Idade média. De fato algo foi produzido nesse tempo, porém devido à época não ser favorável à busca do conhecimento por conta da igreja que decretava e perseguia como hereges todos aqueles que buscavam conhecimento fora dos ditos da igreja.
Também com o cenário catastrófico do Império Romano Tardio com as epidemias devastadoras, invasões bárbaras e guerras civis. Este ponto de vista que refletiu na popularização das teses dos marxistas adeptos ao materialismo histórico sobre a formação da Idade Média, para o qual o escritor Perry Anderson recebeu uma grande contribuição para escrever seu livro Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Esse autor retomou os postulados clássicos do materialismo histórico e dialético. Com suas citações Marcelo Cândido afirma que a Alta Idade Média seria então o teatro de choque entre o modo de produção primitivo e o modo de produção escravista, cuja síntese seria o feudalismo.
Os autores marxistas ao afirmar que esse período seria a fase de gestação do feudalismo, seria apenas uma fase de transição passageira, que segundo o próprio Cândido diz como sendo uma passagem um tanto longa para apenas uma fase de transição.
Entre os marxistas há uma abordagem da Alta Idade Média determinista profundamente marcada pela teleologia. Estudiosos como Ferdinand Lot que estabelece uma relação de causa e efeito entre a crise do século III e o inicio da Idade Média, ele afirma que a desvalorização da moeda e o esgotamento das reservas de metal precioso teriam incentivado as praticas de troca, pagamentos de impostos e de serviços, sendo todas essas características típicas do período medieval. Constantino e Diocleciano após o empreendimento de suas reformas teriam forçado o estado a restringir seu campo de ação, que acabara por fragmentar o Ocidente em uma serie de pequenos Estados governados agora pelos povos Germânicos e Romanos.
Estudos a respeito da decadência ou fim do Império Romano fazem com que esse período seja cada vez menos visto com negatividade, a crise do século II vem sendo questionada, pelo fato de que mesmo com as invasões bárbaras são poucos os estudiosos que acreditam que eles tenham provocado uma ruptura no legado de Roma.
As continuidades
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