Resumo América
Por: Maria Sans • 19/1/2021 • Trabalho acadêmico • 2.231 Palavras (9 Páginas) • 137 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: HISTÓRIA DA AMÉRICA II
MARIA EUGÊNIA GOMES SANS
Resumo de apresentação do Seminário Internacional 50 anos da Unidade Popular no Chile.
RESUMO: Carine Dalmás (UEMA, Brasil) – Brigadas Ramona Parra e a representação das mulheres na experiência chilena (1970-1973)
A palestrante inicia a apresentação expondo uma fotografia, que faz parte de um grupo de seis imagens, registrando a produção de um mural de propaganda política feito por uma brigada Ramona Parra, na qual fazem parte da fotografia uma mulher jovem e dois companheiros homens, todos vestidos com trajes específicos das brigadas. Tal fotografia, como outras coletadas pela palestrante, servem como documento de comprovação de uma participação efetiva de mulheres na luta política, característica da disputa eleitoral e do governo de Salvador Allende no Chile, de 1970 a 1973.
Antes de partir para as brigadas Ramona Parra propriamente ditas, Carine Dalmás vê a necessidade de se explicar o que foram as brigadas muralistas em um aspecto geral. As brigadas muralistas se configuraram como um movimento de propaganda política, compostas majoritariamente por jovens militantes dos principais partidos de esquerda chilenos, especialmente o Partido Comunista (PC) e o Partido Socialista (PS). Os murais eram pintados coletivamente nas ruas do país em muros e paredes, sendo pintadas recorrentemente mensagens de apoio ao candidato Salvador Allende. Os locais escolhidos pelos brigadistas para a pintura de murais, geralmente, eram os considerados de maior movimentação de trabalhadores - como pontos de ônibus e locais de alto tráfego de pessoas, por exemplo. Tal movimentação das brigadas teve seu início na disputa eleitoral pela presidência chilena em 1964 e foi retomada, obtendo sua consolidação, após a vitória eleitoral da coligação Unidade Popular, em 1970[1], havendo a mobilização dos brigadistas para a conquista do apoio eleitoral à tal coligação.
As brigadas Ramona Parra, que assim como as demais brigadas muralistas, produziam murais em apoio ao programa da Unidade Popular e eram organizadas pelo grupo Juventudes Comunistas do Chile (JJCC)[2]. Tiveram destaque por sua estrutura nacional e pela busca da legitimação da pacificidade como meio de luta política. Os dirigentes das brigadas Ramona Parra atribuíram à proposta da confecção de murais um sentido pedagógico/cultural, mesmo que o intuito primário destes fosse a propaganda política. Ou seja, além de realizar a propaganda das conquistas e propósitos da Unidade Popular, consideraram o papel dessas brigadas como importantes para o processo de democratização das artes plásticas e a atribuição, num contexto de um processo de mudança social em andamento no Chile, destas a instrumentos de conhecimento, mensagem e meio de propagação de demandas populares[3]. Os murais das brigadas Ramona Parra viriam, inclusive, entre 20 de abril e 20 de maio de 1971, a ser expostos no Museu de Arte Contemporânea da Quinta Normal, em Santiago, sendo a exposição visitada por figuras importantes da cena cultural e política chilena.
Apesar da efemeridade dos murais, a produção muralista das brigadas Ramona Parra, e sua movimentação política e cultural, marcaram de maneira considerável a memória da “via chilena para o socialismo”. A palestrante ainda ressalta a retomada dessa prática muralista no pós-ditadura, dando origem ao coletivo BRP, que é atuante até o dia de hoje.
Após uma rápida apresentação sobre o que são as brigadas muralistas e as brigadas Ramona Parra, a palestrante propõe uma análise acerca de mensagens e símbolos difundidos pelos murais de propaganda das brigadas Ramona Parra, considerando uma perspectiva de gênero. No intuito de expor tal análise, foram selecionadas quatro imagens, as quais permitem explorar de diferentes maneiras como as mulheres foram representadas nos murais, elaborados para defender o governo de Salvador Allende. A palestrante parte do pressuposto que a presença recorrente de mulheres na confecção de mensagens, produzidas pelas brigadas muralistas, e em cartazes de propagandas oficiais do governo, acabam por produzir uma questão acerca dos imaginários sociais movimentados pela propaganda da esquerda chilena entre 1970 e 1973: apesar de as imagens de propaganda - produzidas pelas brigadas comunistas e, mais precisamente, as brigadas Ramona Parra - incluírem mulheres nas representações das lutas e transformações político-sociais que estavam a ocorrer no território chileno, as perspectivas tradicionais de gênero - que estabelecem o lugar social das mulheres e dos homens na sociedade chilena - permaneceram intocadas.
A palestrante delimita a noção de gênero, para sua análise, como construção social da diferença sexual, geradora de símbolos, imaginários e representações diferentes em cada contexto histórico, baseados na dicotomia homem e mulher. Também ressalta que falar em perspectiva de gênero significa reconhecer a permanência de desigualdades entre homens e mulheres nas políticas governamentais, sindicais ou de partidos políticos, que puseram mulheres em situação de vulnerabilidade durante o processo de transformação política chilena mas, que ao mesmo tempo, pressupõe superar a ideia de divisão de gênero que separa a sensibilidade política das mulheres da dos homens por critérios como a religiosidade, de um conservadorismo intrínseco ou pelo fracasso de políticas governamentais inclusivas às mulheres. As imagens produzidas nos murais pelas brigadas Ramona Parra são tomadas como instrumento para o estudo das perspectivas de gênero, presentes nas concepções políticas e culturais das Juventudes Comunistas e do Partido Comunista do Chile. Também serão analisadas de que formas os murais dialogam com a sociedade e produzem sentidos na busca pela mobilização a favor de valores, associados ao socialismo.
Para a palestrante, o próprio nome das Brigadas Ramona Parra aponta um grande fator acerca da representação das mulheres neste contexto de propaganda da Unidade Popular. Tais brigadas receberam o nome de uma mulher, militante das Juventudes Comunistas, que foi assassinada por policiais, em 1946, com apenas 19 anos. Ramona Parra se tornou um mártir do movimento comunista chileno, tendo seu nome atribuído às brigadas e à revista da Juventude Comunista. Em 1972, a revista Ramona resgatou o significado da trajetória da militante ao publicar uma entrevista com a irmã de Ramona Parra. Através desta entrevista, notou-se um ímpeto revolucionário de Ramona à luta política desde cedo, e também como o contato da militante com o operariado serviu de catalisador à sua defesa aos direitos dos trabalhadores. No fim da entrevista, foi agregado o apreço de Ramona à sua família, sua formação em escolas católicas e sua quase inserção na vida religiosa, havendo a sugestão de que esses valores também tinham instigado Ramona à militância política. Houve a tentativa pela entrevista de combinar a postura revolucionária da militante com as estruturas tradicionais associadas ao lugar social da mulher, algo que faz parte de um esforço recorrente da propaganda esquerdista deste contexto: a necessidade de conquistar o apoio de vários setores sociais, sobretudo das camadas populares, às suas causas políticas[4]. Tais artifícios de sustentação de uma perspectiva política em valores tradicionais compuseram propagandas oficiais da Unidade Popular, sobretudo em cartazes e a participação das mulheres na “via chilena para o socialismo” também foi negligenciada pela propaganda de brigadas muralistas.
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