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A História Das Ideias Linguística

Por:   •  11/1/2024  •  Resenha  •  1.189 Palavras (5 Páginas)  •  53 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM

DISCIPLINA: HISTÓRIA DAS IDEIAS LINGUÍSTICA

ALUNO: LUCIANO ARÊAS DO NASCIMENTO

RESENHA 01

NITERÓI, RJ

1º SEM / 2023

RESENHA: ALTHUSSER, Louis. A corrente subterrânea do materialismo do encontro (1982). In: Crítica marxista. São Paulo: Ed. Revan, v. 1, n. 20, 2005. pp. 9-48.

MATERIALISMO DO ENCONTRO: O CAMINHO SE FAZ AO ANDAR

Caminante, son tus huellas

El camino y nada más

Caminante, no hay camino

Se hace camino al andar[1]

Antonio Machado

        O aleatório. A contingência. A chuva. O desvio. O encontro. Diante de teorias nas quais espelhava-se um mundo logicamente fechado, pré-determinado, era necessário estabelecer um fazer filosófico capaz de contemplar as incertezas, a resistência política, bem como a possibilidade de mudança.  Em A corrente subterrânea do materialismo do encontro (1982), Louis Althusser tece um movimento de ruptura com uma corrente dominante no pensamento filosófico ocidental: uma tradição de base racionalista, teleológica, logocêntrica. Por esta corrente hegemônica, destaca-se a construção de que os sujeitos e as coisas no mundo estão previamente constituídos, pré-determinados, delimitados por conceitos universais.  

        Através dessa tradição dominante, o fazer filosófico está vinculado à necessidade, ao necessário. Como nos explica Chauí (1996), ao citar Aristóteles, é considerar apenas “o que não pode ser objeto de uma escolha”, obrigando o ‘agente ético e político’ “a seguir leis (naturais) e regras (históricas)” (CHAUÍ, 1996, s/p). Desse modo, a ciência filiada a esta tradição da necessidade estaria vinculada a um determinismo político-social e, consequentemente, a serviço de um mundo ordenado, eficaz, sem desvios ou conflitos, submetido a ideia de razão, progresso e ordem.  

Como explicar a inquietação sobre os rumos da humanidade, se o primado do racionalismo e do idealismo enredaram a filosofia e a ciência a um efeito de ‘transparência’ da essência, da ordem, da finalidade? Como significar um mundo em crise, em plena Guerra Fria e desmanche de grandes utopias, tal como se configurava no final dos anos 1970 e início da década de 1980? Nesse cenário, era fundamental uma formulação teórica que contemplasse a incerteza, a possibilidade de resistência, a admissão do fluxo, da mudança.

Assumindo sua própria crise pessoal e suas incertezas, Althusser propõe em seus escritos um desafio: pensar filosoficamente pela contingência. Desse modo, o que está em jogo não é “nenhum Sentido, nem Causa, nem Fim, nem Razão” (ALTHUSSER, 2005, p. 10), muito menos a busca de uma origem ou essência imanente para as coisas no mundo. Seria assim traçado um caminho de ressignificação da filosofia e do próprio marxismo, delimitado, até então, segundo Althusser, a um “materialismo de essência”.

        Contudo, para essa empreitada, Louis Althusser descreve a existência de uma corrente subterrânea, maldita, cujo fazer filosófico está centrado no aleatório, ou seja, na contingência, como verdadeira força motriz na construção das relações entre os homens e as coisas no mundo. Sob essa corrente subterrânea, estariam reunidos nomes como Epicuro, Maquiável, Hobbes, Rousseau, Marx, Heidegger e Derrida, autores esses que “têm em comum a resistência, a irredutibilidade, a uma história do pensamento ocidental entendido como uma história da razão ou da metafísica” (MORFINO, 2006 p. 11)

        A espinha dorsal desse trabalho de Althusser é uma “rejeição radical a qualquer filosofia de essência” - seja racional, moral, religiosa ou estética -, defendendo o pensamento de que só há o encontro, totalmente aleatório, tanto em sua origem, quanto em seus efeitos:

Cada encontro é aleatório; não somente nas suas origens (nada garante jamais um encontro), mas nos seus efeitos. (...) cada encontro, embora tenha acontecido, poderia não ter acontecido, mas sua possível negação esclarece o sentido de seu ser aleatório. E todo encontro é aleatório em seus efeitos pelo fato de que nada nos elementos do encontro desenha, antes do encontro mesmo, os contornos e as determinações do ser que surgirá.

(ALTHUSSER, 2005, p. 29)

        Com sua formulação sobre o encontro, Althusser rompe com um primado da forma sobre os elementos. Consequentemente, o importante não é mais dar sentido às coisas por uma essência, ou fim, subjugando-as a regras sobredeterminantes. Para Althusser, a capacidade e a potência de “enganchamento”, de “pega” dos elementos de um encontro, instaurador de uma nova estrutura, só podem ser analisadas em um momento posterior ao encontro, à ‘pega’. Só após a consolidação do encontro que “pegou”, constituindo uma nova forma, uma nova estrutura, serão possíveis aferir suas características, suas origens e os efeitos provocados por esse encontro. Desse modo, não se cai na armadilha do idealismo de uma ordem imanente, lógica.

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