A Literatura Africana
Por: Giuliana19 • 25/1/2023 • Ensaio • 2.113 Palavras (9 Páginas) • 177 Visualizações
GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ[pic 1][pic 2]
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI
CAMPUS PROFESSOR POSSIDÔNIO QUEIROZ
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LETRAS/PORTUGUÊS
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS PORTUGUÊS
Ensaio Literário da obra “A Confissão da Rosa Luaneira de Mia Couto”
Componentes: Beatriz
Débora Rocha
Gabrielly Rocha
Giuliana Sousa
Maria Daine
Maria Laura
Trabalho apresentado para a disciplina de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, bloco IV, manhã, orientado por Fúlvio de Oliveira Saraiva.
Oeiras - PI
2021.2
Este presente ensaio tem como objetivo analisar a obra A Confissão da Rosa Luaneira, tendo em vista o debate sobre gênero e violência feminina, identificar a representatividade que contém na sociedade, expor questões preconceituais relacionadas à estética. Mia Couto, autor moçambicano, aplicava em suas obras presença de neologismos, realismo mágico ou fantástico, uma vez que um dos seus públicos-alvo era o público infantil, busca da identidade nacional, marcas de oralidade, multiculturalismo, uso de alegorias, entre outros. O autor moçambicano, ao escrever esse texto, intentou realizar uma crítica aos preconceituosos, aos transfóbicos e homofóbicos, uma sociedade machista que perdura até os dias de hoje. O autor enfatiza que a felicidade que a escrita lhe dá, vem sobretudo do fato dele tornar-se outra pessoa, ou seja, ele se compromete diretamente com a sua obra.
Portanto, este ensaio tem por finalidade evidenciar o quanto a mulher é julgada e submetida a uma sociedade totalmente machista.
De início, há uma abordagem policial à personagem principal. Logo, ela se assusta ao perceber a presença do guarda no meio da noite, uma pessoa desconhecida, dado que as mulheres se sentem ameaçadas ao andar na rua, pois geralmente sofrem agressões. Segue o trecho do texto que evidencia essa fala:
“Senhor guarda, lhe explico, em pleno uso da sua razão: eu fugi de si, não foi por desrespeito ou por razão desconsiderável. O senhor desculpe mas, assim nessa farda, me pareceu uma alma depenada. Não é por maldade mas é como diz o ditado: à noite todos os gatos são leopardos. Foi motivo de susto, só e apenas.” (COUTO, p.1)
No texto é abordado o quanto um ser humano é julgado por suas vestes, sua sexualidade e ainda mais quando trata-se de uma mulher, pois percebe-se que a mulher é caracterizada como uma garota de programa, há indícios que mora na rua, e sofre bastante preconceito por parte da sociedade, uma vez que ser garota de programa traz uma alusão de que mulheres que se submetem a essa situação não são dignas de uma vida normal e tranquila. Sendo assim, sempre existirá o medo, a opressão. Por conseguinte, a personagem faz uma referência a ela “ser puta”, porém, a mesma enfatiza que ela é mulher, assim como qualquer outra mulher e nada mudará esse fato. Esta situação faz lembrar do quanto a mulher é julgada quando não está dentro dos padrões estéticos que a sociedade impõe. Com isso, a mulher passa a não ser incluída na sociedade devido a essas situações constrangedoras relacionadas a como uma mulher deve ou não se comportar. Observa-se o techo:
“Até que, hoje, o dia me ocorreu de afeição. Hoje despertei muito senhora, corpinho reboliço, capaz de atravessar a rua, para cá e para lá, sempre na direcção das clientelas. Sou puta, sim, com os devidos licenciamentos. Mas hoje não. Hoje sou Mulher, com “eme“ graúdo. Mulher com meu nome, minha idade, minha vaidade.” (COUTO, p.1)
A personagem, em conversa com o guarda, relata que já foi desejada por um outro guarda, porém este a iludiu, lhe prometeu uma nova vida. Diante disso, há uma reflexão alusiva no tocante a quantas mulheres sofrem ilusões, agressões físicas e verbais diariamente. Ainda, a personagem expõe que o guarda policial tinha medo de sentir paixão, porém, o policial sentia vergonha da mulher, ou seja, o homem apenas usou a personagem para satisfazer suas vontades, mas não teve coragem de assumir publicamente, visto que a mulher não era bem vista pela sociedade. Apesar de não ter uma autoestima baixa e desconsiderar o preconceito do guarda, a personagem se sente enganada por Evaristo, o policial , que a iludiu ao fazer grandes promessas com o propósito de, mais tarde, assumir o ato covarde de fugir da “amada”, deixando-a desprezada. Tais argumentos podem ser vistos nos seguintes parágrafos:
“O senhor já me explicou que está aqui substituindo o guarda Evaristo. Esse polícia, também me saiu uma boa ilusão. Primeiro, ele me desejou, me abusou. Prometia-me mundos sem fundos. Ele me prometeu sabe o quê? Que me levava desta ruela para a Avenida Principal, lá onde brilham as vitrines e por onde passa toda a estrangeirada. O meu sonho é me disposicionar lá, junto das minhas colegas mais fortunadas. Lá nem a polícia nos faz mal.” (COUTO, p.1)
“Pois esse Evaristo, de repente, se expulsou de minhas vistas. Pediu a transferência. Com medo de quê? É que ele me começava a amar. E ele tinha medo. Os homens têm medo das mulheres, isso lhe digo. Vocês só gostam de nós porque nós vos assustamos. E ainda pior é quando surge o amor. O amor é uma sangria nos vossos costados: vocês se sentem fracos, com receio de que tenhamos cuidar de vocês. Eu sei do que estou a falar, senhor guarda. Acredite que sei.” (COUTO, p.1)
O autor, nos trechos acima, retrata a situação das classes sociais, nas quais as privilegiadas são as classes dominantes, ou seja, a classe alta, os burgueses. Nota-se que a classe social influencia no comportamento de policiais e até mesmo da sociedade em si, pois o dinheiro está acima de vários setores sociais e políticos. Dessa forma, o preconceito social está presente no cotidiano de mulheres que são garotas de programa e de recurso financeiro escasso. Ademais, o autor pretende mostrar, com os questionamentos da personagem, que muitas mulheres são vítimas de falsas promessas dos homens, isto é, elas são conquistadas, usadas e marginalizadas. No trecho acima, Evaristo, para que não pudesse se apaixonar, deixou-a amada e abandonou-a de sua vida.
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