A Literatura de Cordel
Por: 591350 • 4/7/2019 • Artigo • 4.484 Palavras (18 Páginas) • 243 Visualizações
Literatura de cordel: uma abORDAGEM INTERDISCIPLINAR PARA O ESTUDO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Ana Milce Magno Cunha¹[1]
RESUMO
Dentre as diversidades de expressões da cultura popular, está a literatura. No cenário literal e popular encontra-se o Cordel. O presente artigo discute a importância do estudo de uma das mais sublimes literaturas culturais do Brasil, a Literatura de Cordel, onde apresenta à cultura do norte e nordeste brasileiro, como uma abordagem interdisciplinar em sala de aula. Para a contemplação desta temática, faz-se necessário conhecer este tipo de leitura que é tão rica de cultura, aspectos históricos, linguagens e fonte de informações. O objetivo do artigo é expor aos estudantes e educadores da área de Humanas sobre a conscientização e valorização do estudo da variação linguística interdisciplinarmente no ambiente escolar, perpassando sobre os fatores que podem contribuir para que ocorra o fenômeno linguístico, social, econômico e cultural. Esta abordagem permite ao público alvo conhecer os aspectos linguísticos adotados nas relações interpessoais a qual faz parte e, concomitante a isto, aproximar-se da cultura, neste caso, a arte cordelista. Deste modo, as descobertas da pesquisa apontam para a necessidade de se desenvolver uma pedagogia culturalmente sensível para lidar com a variação linguística.
Palavras-chave: Cordel. Linguística. Literatura. Nordeste.
INTRODUÇÃO
O presente artigo visa fornecer subsídios aos estudantes e educadores da área de humanas sobre a importância do estudo da variação linguística em sala de aula, perpassa pelos fatores que podem contribuir para que ocorra este fenômeno, como: o cultural, social e econômico.
O artigo foi baseado na pesquisa realizada em 2012.1, tendo como público alvo duas turmas do 1º ano do Ensino Médio Regular, que comportava 61 (sessenta e um) alunos na faixa etária entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) anos de idade, de uma escola estadual da rede pública localizada na zona central do município do Cantá – RR. As descobertas desta pesquisa apontam para a necessidade da escola contemplar o estudo da diversidade linguística de modo interdisciplinar.
A arte e a interatividade em sala de aula devem ser recursos utilizados para se chegar à compreensão dos complexos processos que envolvem os diferentes falares, esta abordagem especial permite aos discentes compreender o porquê dos aspectos linguísticos adotados por eles e concomitante a isto, aproximar-se de sua cultura. Faz-se necessário assim, enriquecer o desenvolvimento cognitivo do educando, ampliando o seu léxico de forma a contribuir com a fala e questões sociais que estão inseridos.
A arte cordelista é um tipo de poesia popular que apresenta marcas do discurso oral e os textos podem ser lidos de forma cantada. O cordel originou-se em Portugal em meados do século XVIII, sendo trazido ao Brasil por volta de 1932. O apogeu artístico ocorre nas regiões do norte e nordeste brasileiro.
Deste modo o presente artigo explana, de maneira sensível, o papel da escola na apreciação do estudo das variantes linguísticas, propondo a conscientização e a valorização deste tema de modo interdisciplinar e interacionista. Por isso, investigar a utilização da literatura de cordel como método de trabalho pedagógico, estabelece um elo entre os alunos e sua cultura.
1 UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR PARA O ESTUDO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
O que diferencia o homem dos outros animais é que ele possui a habilidade da fala. “Aristóteles afirma que o homem é um animal político, isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem.” (Chaui, 2005, p.147). O uso da linguagem permite aos indivíduos exprimir e possuir em comuns valores o que torna possível a vida social e política e, dela, somente os homens são capazes.
Seja por meio da linguagem oral, escrita ou de sinais, o indivíduo busca expressar seus pensamentos, ideais, a moral e a ética. Existem comunidades que não são letradas, mas todas fazem uso da linguagem oral.
A escola tradicionalmente confere a importância do domínio da escrita, propondo que basta a correção ortográfica para garantir a competência comunicativa. O estudo da fala não é contemplado pelo pressuposto de que o aluno já domina esta habilidade antes de ter acesso ao ensino escolar. Deste modo, variação linguística apresentada pelos alunos perde-se no anonimato.
Populismo à parte, a educação linguística nesse sentido (a educação escolar) é um exercício de confronto em que o aluno amadurece as condições de sua própria sobrevivência como portador de uma cultura desprestigiada e como o individuo cuja experiência, por mais densa que seja, perde-se no anonimato.
Contudo, nota-se de fato que a oralidade e a escrita não estão em competição. Cada uma tem sua história e seu papel na sociedade, por isso é válido analisar todos os pontos destas abordagens para encontrar a melhor forma de se trabalhar a fala e a escrita nas escolas, sempre tendo como parâmetro não apenas a norma culta da língua, mas também mostrar um leque de possibilidades e diversidades no âmbito da leitura.
Para Vigotski (1993), a escrita é uma decorrência da fala. Quando escrevemos, estamos colocando no papel uma ideia que se mostra a nós como uma ordenação de palavras, pelo pensamento, que o autor nomeia de fala interior. Esta passagem, da fala interior para a escrita, exige uma estruturação intencional dos significados, logo estas habilidades estão fortemente ligadas.
No entanto, vejo que há uma rigidez hierárquica imposta às áreas e disciplinas que compõem a grade curricular, ou seja, não existe abertura para a abordagem dos diferentes falares. Faz-se necessário que haja um rompimento desta rigidez, não significando deixar de ministrar os conteúdos, mas que este fenômeno possa, ao menos, fazer parte dos temas transversais a serem ofertados.
A questão não se restringe em ensinar o discente a falar certo ou errado, mas oferecer a ele a oportunidade de conhecer sua própria origem, pois a linguagem faz parte da identidade do indivíduo. Deixar de contemplar estes estudos é negar ao aluno a concepção de sua história e a reflexão sobre o “estar no mundo”.
Os falares não são realizados de modo igual por todos os alunos, visto que suas histórias e as contribuições sobre os aspectos social, econômico e cultural são distintas. Sendo assim, as relações sociais e experiências de vida são adotadas na linguagem utilizada por eles. O papel da escola é oferecer atividades que permitam aos alunos ampliar e valorizar os estudos sobre as expressões comunicativas, pois, conforme Marcuschi (2003) existem distintas variações de usos da língua sob sua forma dialetal e socioletal.
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