A RESENHA CABLOCOS
Por: Jamile Lorenzzi • 16/10/2022 • Resenha • 3.087 Palavras (13 Páginas) • 131 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERALDA FRONTEIRA SUL
CAMPUS Chapecó
curso de letras
história da fronteira sul
PROFESSOR: fernando vojniak
civilização cabocla na região sul
Jamile Lorenzzi Vieira
Yulimar Carolina Hidalgo
MARQUETTI, Délcio;SILVA Juraci Brandalize Lopes da. Cultura cabocla nas fronteiras do sul.In: História da Fronteira Sul. Organizadores: José Carlos Radin, Delmir José Valentini e Paulo A. Zarth. Porto Alegre: LETRA & VIDA: Chapecó: UFFS, 2015.
O texto sobre a Cultura cabocla nas fronteiras do sul, é de autoria de dois pesquisadores:DelcioMarquettique é mestre em história pela Universidade de Passo Fundo (UPF), doutorando pelo PPGH da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINUS). Ministra aulas no curso de História da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Juraci Brandalize Lopes da Silva é graduada em História pela Universidade do Oeste de Santa Catarina com especialização em Ciências Sociais e Educação Especial, ambas pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FACISA). Ministra aulas nas redes particular e estadual de Santa Catarina.
O artigo pode ser encontrado no capítulo 6 do Livro História da Fronteira Sul, lançado em 2015. Este trata-se de uma coletânea de textos de diversos pesquisadores que contribuíram com seus estudos para que fosse possível conhecermos um pouco da história regional.
No primeiro subtítulo, “Origem e uso do termo caboclo”, os autores apresentam a origem da etnia cabocla. A princípio, caboclo era a expressão utilizada para nomear o índio que habitava as terras do interior do Brasil em oposição ao que vivia na região litorânea, ou para citar ao homem da “floresta”, ou seja, que vivia retirado. Mais tarde, denominou-se o mestiço de ascendência indígena ou africana. Utiliza-se a expressão também para nomear o homem pobre da roça, sem distinção da sua etnia. O termo caboclo também pode designar uma posição social, isto é, “o homem pobre da roça, seja qual for sua etnia, ou pode ser sinônimo de caipira.” (p. 109).
Caboclo, como proposto pelos autores, é um dos residentes das fronteiras do sul do Brasil anterior à vinda dos colonizadores europeus. Despontam na região nas incursões de portugueses e escravos pelo interior do país a partir do século XVIII. Tais povos são “descendentes da miscigenação entre brancos com negros escravos ou libertos e indígenas, recebendo o nome luso-brasileiro.” (p.109).
Durante muito tempo, o termo caboclo esteve relacionado a algo negativo, à ideia de cultura pobre e primitiva. Nesse conceito, vindo a ter melhores condições de vida, deixava de ser intitulado “caboclo”. No Brasil, a expressão “branqueamento social” era referida a negros pobres em ascensão social e econômica.
Já os colonizadores eram vistos como desbravadores, que traziam o progresso e o desenvolvimento. Essas razões político – econômicas ocultavam as discriminações étnicas que fomentaram a desumanização dos caboclos e índios, delegando a estes estereótipos de acomodados ou incapazes submetendo-os à invisibilidade ou ao incomodo de sua presença. A forma de viver do caboclo era vista preconceituosamente “não se encaixavam na ideia de povoar e gerar desenvolvimento da região, por isso foram sendo compelidos para outra áreas.” (NODARI, 2009, p. 144).
Termos referindo-se aos caboclos como “doentes”, “fracos”, “desanimados”, “descrentes”, que viviam a “vagabundear pelas matas”, de sítio em sítio, eram de uso comum entre os jornais regionais, entre os anos de 1930 e 1950 segundo os pesquisadores. Em discursos mais recentes, buscou-se enaltecer o caboclo e suas colaborações, retratando-o como um homem ingênuo, despojado, que vive em sintonia com a natureza e que tornou-se vítima do processo de colonização que dispersou e desestruturou seu modo de vida.
Para Nodari (2009, p.146), “a recolocação da etnicidade cabocla foi alimentada no Estado Novo pela imprensa, para neutralizar as etnias europeias”. Dessa maneira, passou-se a elogiar a ingenuidade e pouco conhecimento do universo caboclo, dado o valor da cultura cabocla que deve ser preservado na história do país, o que antes era visto como pejorativo agora é enaltecido.
O segundo subtítulo, faz considerações sobre “cultura, identidade e História”. As reflexões feitas até aqui demonstram o conjunto de dificuldades enfrentadas na tentativa de enquadrar homens e mulheres em categorias socioculturais pré-determinadas, como as de índio, caboclo, branco ou negro, que se destinam a passar por rótulos, por vezes, bastante complexos.
Os grupos citados, ou quaisquer outros grupos, são geralmente considerados como existindo à primeira vista, de maneira homogênea como se fossem formados por seres absortos em uma cultura estática.
Ao idealizar um grupo étnico-sociocultural, deve-se ter consciência sobre a definição de etnia, mencionam os autores Stuart Hall (1997, p.67): "pelas características culturais língua, religião, costumes, tradição, sentimento de “lugar” que são partilhadas por um povo.” Consideram porém, que a identidade étnica vai se reconstruindo e reajustando ao longo do processo histórico. Não podemos interpretá-la como sendo algo presenteado, que foi plenamente definido desde o início da história de um povo.
Como Marquetti e Silva analisaram a relação entre grupos étnicos distintos, torna-se importante refletir sobre o termo “grupo étnico”. Para isso utilizaram como referencial Frederick Barth, que designa grupos étnicos como populações que se perpetuam biologicamente de modo amplo, compartilham valores culturais fundamentais, constituem um campo de comunicação e interação e possuem um grupo de membros que se identifica e é identificado por outros.
De acordo com a ideia da antropóloga Arlene Renk, os autores citam que a distinção entre grupos, tem uma cronologia. O que afasta os grupos étnicos não são as fronteiras biológicas e sim, as fronteiras sociais. Assim dizendo, é somente em situações próprias de interação e confronto entre indivíduos de um mesmo grupo com aqueles de outros que torna-se possível perceber a diferenciação cultural.
No início dos séculos XX e XXI, o passado ficou em evidência, exposto através de filmes, documentários, revistas e no afloramento de festas de família ou etnias que revivem as tradições. Mas essas tratativas sobre o passado não foram muito criteriosas, sendo que muitas narrativas sobre a história são ilusórias.
Esse apego ao passado, essas palavras que são frequentemente utilizadas “Resgate da Memória”, ou “Resgate Cultural” expressam a vontade de preservar, compreendem as festas étnicas e as reuniões familiares, etc. O notável de tudo isso é que nessas manifestações, muitos desses traços ou práticas culturais “salvos” foram inventados, para proporcionar maior restauração da legitimidade passada.
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