ANÁLISE POEMA TRANSFORMA-SE O AMADOR NA COUSA AMADA
Por: Dolores Pereira • 20/8/2016 • Resenha • 870 Palavras (4 Páginas) • 19.355 Visualizações
BIOGRAFIA DO AUTOR
Luiz Vaz de Camões
Camões nasceu provavelmente em Lisboa, em 1524 (não se sabe ao certo). Estudou em Coimbra, mantendo contato com escritores da antiguidade Clássica. Frequentou a corte até 1549, quando partiu para Ceuta, para servir como soldado.
Perdeu uma vista numa das batalhas que participou. Em sua volta para Lisboa em 1552, feriu Gonçalo Borges, um servidor do paço. Foi libertado, porém teve de servir como militar no Oriente, partindo para a Índia em 1553. Em uma viagem para Goa, naufraga e perde sua companheira Dinamene, mas salva seus manuscritos de Os Lusíadas. Viveu Málaga e nas ilhas da Malásia.
Volta para Lisboa em 1569, onde publica Os Lusíadas em 1572. Escreveu poesias líricas, épicas, de recorte medieval (redondilhas) e clássico (sonetos, oitavas, sextinas, églogas, canções, elegias). Morre pobre e na miséria em 1580.
ANÁLISE POEMA TRANSFORMA-SE O AMADOR NA COUSA AMADA
Luiz Vaz de Camões
Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como um acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,
Está no pensamento como idéia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
Percebemos que o Soneto “Transforma-se o amador em cousa amada”, escrito por Camões escritor renascentista português, é composto por dois quartetos (4 versos) e três tercetos (3 versos), não há utilização de rimas e transmite uma sonoridade de amor, alguém que ama e deseja ter esse amor retribuído.
Existe duas formas de união neste soneto, o amador e o amado, ambos os presentes na primeira estrofe “Transforma-se o amador na cousa amada”, a primeira é a união real, já a segunda é algo fictício, imaginário, essa pessoa amada é algo platônico. O amor que transforma aquele que ama na “cousa amada” infunde na alma do sujeito as qualidades percebidas no objeto.
Concordamos com Massaud “[...], Camões concebe e procura o amor na sua expressão plena, em que se misturam apelos sensuais e espirituais [...]” (pág.74). Por isso é que o meio de transformação é o “muito imaginar” assim, termina o primeiro quarteto tirando a conclusão óbvia: se há posse, deveria acabar o desejo.
No primeiro verso da terceira estrofe vejamos: “Mas esta linda e pura semidéia”, o autor faz exaltação à pessoa amada, onde, utiliza a expressão “semidéia” no lugar de semideusa, atribuindo um novo sentido a expressão já existente, comparando a pessoa amada ao divino. Trazendo o olhar à mitologia.
Já na primeira linha da quarta estrofe, encontramos o trecho “Está no pensamento como idéia”, que nos remete a idéia de algo imaginário, platônico já mencionado anteriormente.
Segundo Moisés Massaud, os sonetos de Camões são poesias “líricas amorosas”, inspiradas em outros autores. Esse soneto conforme aponta Massaud foi inspirado em Petrarca, a primeiro momento, mas desenvolvido na própria linha de raciocínio camoniana. O poema tem o caráter épico renascentista, seguindo a estética clássica, uma poesia onde predomina o “racional”.
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