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Análise Comparativa de Medeia

Por:   •  7/5/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.213 Palavras (9 Páginas)  •  295 Visualizações

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  1. As relações espaciais entre as dramatis personal e os objetos cênicos A cena se passa em Corinto, diante da casa de Medeia. O cenário representava, certamente, a porta da casa; a cena final, com a carruagem de Hélio, deve ter sido representada no teto da skené;
  2. Os movimentos corporais, gestriais, atitudes e mimica facial dos personagens
  3. Os fatores vocais (signos verbais)

Medéia, possui um enredo bastante teatral. Seus diálogos são bem elaborados. A peça de Eurípedes é escrita a partir do olhar de um homem, o qual define uma mulher e descreve seus comportamentos, estabelecendo um conflito que se resolve de maneira pela qual o autor imagina ser a conduta de uma mulher abandonada e traída. Um homem outorgando e dando sua voz e roupagem ao comportamento alheio, instaurando suas verdades e suas ideias acerca da mulher. Desde tempos remotos, o homem supõe que seu olhar sobre o feminino é o olhar válido. Tanto que o institucionalizou. O silêncio e impostos às mulheres resultam no olhar sobre Medéia, responsável por um ciclo aterrorizante de morte e destruição. A tragédia de Medéia, antes de traduzir um drama existencial e problematizar uma situação humana, seria então uma tragédia imposta à mulher pelo homem. Ele a silenciou e a conduziu: a voz de Medéia é uma voz colocada em sua boca, e seus gestos são elaborados por outrem.

Há falas de Medéia que possibilitam perceber os arquétipos existentes na concepção da personagem, como, por exemplo, seu comportamento de órfã, ao se sentir abandonada e à mercê de tudo. Na primeira aparição, já revela sua orfandade: “Ai de mim, desgraçada, miserável com mil chagas e penas. Ai, de mim! Quem me dera morrer!” (EURÍPEDES, 2004, p. 15) E prossegue: “Ai! Ai! Que as chamas celestes arrebentem minha cabeça, abram-na em duas! Que vantagem eu tenho 6 de viver ainda? Ai, pobre de mim! Só espero a morte chegar, me libertar, dar um fim a esta existência desprezível.” (EURÍPEDES, 2004, p. 17)

Medeia, usa um discurso que evidencia a condição de mulher, que expõe o que as mulheres sentiam. Pode-se pensar que Eurípedes usa essa fala para expor como toda mulher é má e odiosa frente a sua realidade e que procura assim desmantelar a ordem estabelecida no mundo grego

O próprio coro expõe isso, e leva à cena a voz de humanidade (do cidadão grego, da mulher grega assustada com as idéias da estrangeira bárbara). Eis que o coro representa a voz humana, e clama por uma humanidade que já está deixando Medeia. A heroína, não tem dilemas humanos, mas conversa com aqueles que os tem, estes são representados pelo coro. 

Já na peça baseada no conto de Leskov, encontramos um texto de narrativa tradicional com um distanciamento da analise psicológica, algo decorrido e aproximado do discurso oral, deixando a peça descontraída e em contato constante com o publico. Contem traços de oralidade, como interjeições, hesitações, além de manter o dialogo “ouvinte-publico”, dirigindo-se diretamente a ele quando faz o uso do “nos”, “imaginamos”, que pode expressar “narrador+vocês(ouvintes)” ou quando faz questionamentos dirigidos a ninguém em particular. Ele usa como base do dialogo, uma linguagem coloquial, com vocabulário mais comum, tornando o dialogo próximo a fala, aproximando ainda mais o texto do espectador. Além das falas comuns, encontra-se na apresentação muita musicalidade e coro.

Como característica da narrativa, diferente de Medeia onde há um certo fim para os personagens, a peça traz um texto aberto que faz com que ele se depreenda-se no tempo, deixando no ar ou como responsabilidade do ouvinte, interpretar certos fatos que não tiveram sua conclusão explicita como “Para onde Platonida fugiu?” “Oque aconteceu com Pizónski e as Órfãs?”.

  1. As personagens:

Protagonista fazia o papel de MEDEIA: Podemos defini-la de varias formas, entre elas, apenas uma mulher ferida pelo desprezo do marido e pelo ciúme, visão já presente na própria tragédia, ou uma espécie de demônio vingador, um instrumento dos deuses para castigar o comportamento ímpio de Jasão. A primeira definição é reforçada com a heroína dá a Jasão quando ele lhe pergunta se “o leito abandonado justifica o crime” (o filicídio): “Essa injúria é pequena para uma mulher?” (v.1560-1561). Já a favor da segunda hipótese está a Medeia ex machina do final, sobre o carro do Sol, dispondo sobre o destino das demais personagens, afirmando que no êxodo da tragédia a personagem transcende o humano. Uma outra visão que se tem é, está a estrangeira versada nas ciências mágicas, a feiticeira que domina as drogas e subjuga seus inimigos. Porém é inegável, seu pendor ao heroísmo, entendido como valorização da honra e busca de reconhecimento, onde o senso de glória e ressentimento contra os que a ultrajaram são notórios.; o deuteragonista, a AMA: Personagem humilde que ganha destaque na tragédia, o que era incomum nas obras gregas, junto do preceptor, vai compartilhar relatos e confissões sobre os acontecimentos. À criada de Medeia, testemunha natural de seu sofrimento, até porque transita entre o interior da casa e a rua, caberá esclarecer espectador e coro sobre o estado de ânimo da heroína, apresentando-a ora sob uma ótica simpática, a que sofre sem merecer, ora insinuando os riscos que seu caráter intempestivo oferece. Assim, ao mesmo tempo em que se apieda de sua senhora, aflige-se com o destino das crianças, antevendo que a fúria da mãe poderia atingir os filhos, a quem a ama busca proteger.

CORO DE MULHERES CORÍNTIAS: O coro é composto por mulheres coríntias que, desde o início, demonstram simpatia pela estrangeira que sofre em virtude das novas núpcias do marido. Medeia é hábil em conquistar-lhes a confiança, expondo as mazelas por que passam as mulheres na Grécia, muito embora ela não esteja sujeita a muitas delas (seu casamento, por exemplo, não foi um acerto entre homens, podendo-se dizer que ela firmou sua união em pé de igualdade, e nem houve pagamento de dote). O coro estará ao seu lado até o momento em que revela a intenção de matar os filhos, o que elas não podem apoiar. Mesmo assim, subsiste a piedade por todos os envolvidos na catástrofe (principalmente a empatia por Medeia). JASÃO: Herói grego notabilizado por liderar a expedição dos argonautas à Cólquida, cumprindo a tarefa dada por Pélias, seu tio, como condição para devolver-lhe o trono em Iolco. Jasão é tido como fraco e impotente, alguém que para conquistar seus objetivos vale-se da sedução amorosa (como atestaria sua ligação com Medeia, fundamental para a obtenção do velocino de ouro) ou da ajuda dos deuses (Hera e Afrodite contribuem para seu sucesso). Na tragédia de Eurípides, Jasão é descrito como “o pior dos maridos”: perjuro, cínico, ambicioso. Sobressai especialmente o contraste entre a “virilidade” de Medeia, ciosa dos valores heroicos, e a falta dela em Jasão, cuja atitude para com mulher e filhos lhe custa a honra. CREONTE: Rei de Corinto, Creonte dá sua filha em casamento a Jasão, que, por essa aliança, repudia Medeia e os filhos que com ela tivera. Ele pode ser considerado um governante fraco, que se deixa manipular pelo discurso. Sua decisão de banir a estrangeira baseia-se na ameaça que ela representa à sua filha e à casa real, tendo em vista sua “sabedoria”, uma alusão ao conhecimento que ela tem de drogas. Apesar de fundamentado o temor, ele concede à heroína mais um dia na cidade (intervalo temporal da maior parte das tragédias, note-se), o que permite a ela implementar sua vingança.

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