Analise Literária de memorias sentimentais de João Miramar

  INTRODUÇÃO

Como poucos, eu conheci as lutas e as tempestades. Como poucos, eu amei a palavra liberdade e por ela briguei.

Oswald de Andrade

Este trabalho foi elaborado por Daniela Felizardo Rodrigues, sob a orientação do professor Isaac Ramos, tendo como área temática a literatura. Serão apresentados alguns estudos críticos e analíticos do primeiro grande romance da prosa modernista brasileira, Memórias Sentimentais de João Miramar do autor Oswald de Andrade.

Podemos dizer que Memórias Sentimentais de João Miramar é riquíssimo no que refere à concepção literária, à estética literária modernista. Dessa forma com este trabalho pretendemos enfatizar as abordagens estéticas em uma obra modernista da Literatura Brasileira e apresentar algumas considerações de análise literária.

Segundo informações obtidas no livro Memórias Sentimentais de João Miramar, o romance teve sua primeira edição em 1924, com capa de Tarsila do Amaral, tendo sido o primeiro grande romance da prosa modernista brasileira. Redigido entre 1916 e 1923, a obra de leitura exigente, representa um dos pontos altos do radicalismo oswaldiano, que se destaca por uma série de procedimentos estruturais, sintáticos e porque não dizer narrativos.

A montagem fragmentária do romance impossibilita uma leitura tradicional e linear da história. Uma série de inventivos traços de estilo e um agudo senso crítico da sociedade da época faz desse texto uma obra de vanguarda. De fato, o estilo fragmentário e sintético do texto é revolucionário na prosa brasileira. Algum recurso parecido tinha sido visto somente em Machado de Assis, em suas Memórias Póstumas de Brás Cubas, como é o caso do capítulo somente com pontuações.

O romance em questão, apresenta como personagem principal João Miramar. As histórias são marcadas por determinados contextos: a infância, o casamento, as amantes, viagens à Europa e as aventuras financeiras no cinema até sua viuvez, Oswaldo, de certa maneira, cria um romance futurista. Esse título de futurista ele chegou a dar para Mário de Andrade, só que este não gostou nem um pouco do rótulo.

Pode-se dizer que essa é a primeira obra de ficção, na literatura brasileira, em que foram experimentados os princípios da prosa modernista de 1922 a 1930. É a fase combativa do modernismo em que o escritor está à procura de uma forma de expressão artística própria da vida moderna. Lançado apenas dois anos após a semana da Arte Moderna de 1922, o livro ainda hoje perturba pelo alto grau de novidade que introduziu no panorama da literatura brasileira, a ponto de ser considerado um dos textos mais importantes da ficção ocidental, sem nenhum exagero.

Assim a obra torna-se um perfeito relato da burguesia paulista e seus conflitos no princípio desse século às voltas com valores novos que colocavam em cheque todos os seus preconceitos. Portanto, observa-se que Oswald de Andrade faz uma crítica às bases da literatura da época, da sociedade burguesa e de seus valores morais.

O Objetivo geral deste trabalho é evidenciar o caráter revolucionário do texto ficcional oswaldiano em questão, principalmente em relação ao caráter fragmentário do romance.

A proposta de análise dessa obra começou, mais precisamente, no TCC I; posteriormente, foram feitas leituras recomendadas pelo orientador e alguns estudos críticos sobre a obra. Em seguida, partimos para o fichamento e resenha daqueles textos com o objetivo de dar sustentação teórica.

Observamos que a obra é de fato um marco na prosa modernista nacional; pudemos notar a existência de ruptura com os padrões artísticos da época, ou seja, com propósito de renovar, transformar o contexto artístico e cultural na literatura.

Para nos embasarmos teoricamente e compreendermos princípios básicos de análise literária, lemos alguns textos de teoria da prosa e de estudiosos como Todorov, D’Onofrio e Bakhtin.

Segundo Todorov, a análise estrutural terá um caráter essencialmente teórico e não descritivo. A obra será sempre considerada como a manifestação de uma estrutura abstrata, da qual ela é apenas uma das realizações possíveis. A literatura deve ser compreendida na sua especificidade, antes de se procurar estabelecer sua relação com algo diferente dela mesma.

No livro Evolução do Gênero Narrativo de D’Onofrio (1981, p.153) afirma que a narrativa ficcional em prosa, diferentemente relacionada com determinadas estruturas sociais, pode ser encontrada ao longo da história literária dos diversos países ocidentais, em variadas formas de expressão e com diferentes conteúdos ideológicos.

Segundo D’Onofrio, o romance corresponde à significação da vida no sentido mais exato, a imitação da realidade cotidiana, dos quais os personagens são apresentados como reais. Para a sua formação, imagina-se a existência de uma sociedade estável, de que os personagens literários são máscaras que expressam suas convenções.

No livro Questões da Literatura e de Estética (1988, p.104-05), Bakhtin fala sobre o prosador-romancista, que abrange em sua obra as diferentes falas e as linguagens da língua literária e extraliterária, sem que a mesma venha a ser enfraquecida que ela se torne mais profunda.

Nesta estratificação da linguagem, na sua diversidade de línguas e mesmo na sua diversidade de vozes, ele também constrói o seu estilo mantendo a unidade de sua personalidade de criador e a unidade de estilo. Aproveitamos para dizer que, mesmo tendo lido textos teóricos de formalistas russos como Chklovski, Enchenbaum e Tomachevski, optamos por apenas trazer pequenas citações, sem um aprofundamento maior, devido ao grau de dificuldade que sentimos nos referidos textos.

A Metodologia adotada foi de leituras, fichamentos e resenhas dos textos recomendados pelo orientador, principalmente, do romance em estudo. Tal investigação nos fez comprovar o caráter revolucionário dessa obra de Oswald de Andrade, conforme dito em outro momento, de fundamental importância para a literatura nacional e para o movimento modernista brasileiro.

Entendemos que a importância desse trabalho seja apresentar um conjunto de análises sobre a obra, a partir das evidências revolucionárias do texto de ficção, principalmente em relação ao caráter fragmentário do romance. Temos consciência de que nosso trabalho é marcado por um conjunto de resenhas de estudos críticos que, de certa forma, podem ajudar a iluminar nosso entendimento da obra.