Apostila de analise isolada
Por: suzanabenedita • 31/10/2016 • Ensaio • 3.468 Palavras (14 Páginas) • 423 Visualizações
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS A PARTIR DE ANÁLISES ISOLADAS
Roberto Remígio
Especialização em Letras, EJA, Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e Gestão Pública
Mestrado em Educação e Cultura (UNEB) e Inovação Pedagógica (UMa)
betoremigio@yahoo.com.br / roberto.remigio@ifsertao-pe.edu.br
Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.
A MAGIA DA POESIA – MÁRIO QUINTANA
1. Análise Estética (estrutural)
2. Análise Estilística (linguagem)
3. Análise Gramatical (morfossintática)
4. Análise Semântica (significado)
5. Análise Pragmática (contextual)
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- Análise Estética (estrutural)
- O estudo da estética aborda questões de formatação do texto, sua forma escrita, em verso ou em prosa, curto ou longo, poema clássico ou moderno, métrico ou não. Está ligado ao gênero textual e ao meio em que ele está veiculado. carta, artigo de opinião, bula de remédio, receita culinária, horóscopo, redação escolar, e-mail...
Os gêneros textuais aparecem em todos os momentos de nossas vidas, tratam-se de estratégias do uso da comunicação. São: carta, artigo de opinião, bula de remédio, receita culinária, horóscopo, redação escolar, e-mail, receita médica, cartaz, notícia de jornal, dissertação, tese, prece, letra de música, poema, texto de livro didático, romance, peça de teatro, conto, crônica (textos escritos), piada, fofoca (orais), fotografia, charge, desenho, semáforo, placa de trânsito (visuais), sinais, sons, sirene (sonoros), filme, teatro (verbo-visuais/áudio-visuais), programas de TV, aulas, missa/culto, palestra, dança, psiu...
SONETO XII – POEMA VIA LÁCTEA – OLAVO BILAC (BRASIL, 1965-1918) – INÍCIO DO SÉCULO XX
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas". (Olavo Bilac)
O POETA-OPERÁRIO (VLADIMIR MAIAKÓVSKI) - RÚSSIA, 1893-1930
Grita-se ao poeta:
"Queria te ver numa fábrica!
O que? Versos? Pura bobagem".
Talvez ninguém como nós ponha tanto coração no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés me faltam
talvez seja preciso ainda mais coragem.
Sei.
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira é para fazer lenha.
E nós que somos senão entalhadores
a esculpir a tora da cabeça humana?
Certamente que a pesca é coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe? Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do poeta é muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém acusar-nos de ociosos?
Nós polimos as almas com a lixa do verso.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico que produz comodidades?
Ambos!
Os corações também são motores.
A alma é poderosa força motriz.
Somos iguais.
Camaradas dentro da massa operária.
Proletários do corpo e do espírito.
Somente unidos,
somente juntos remoçaremos o mundo,
fá-lo-emos marchar num ritmo célere.
Diante da vaga de palavras levantemos um dique!
Mãos à obra! O trabalho é vivo e novo!
Com os oradores vazios, fora!
Moinho com eles!
Com a água de seus discursos
que façam mover-se a mó!
POEMA CONCRETO:
[pic 2]
José Paulo Paes (poeta, professor de teoria literária e crítico) (São Paulo 1926-1998) escreveu:
Anatomia do monólogO
ser ou não ser
er ou não er
r ou não r
ou não
onã
POR NÃO ESTAREM DISTRAÍDOS (Do livro PARA NÃO ESQUECER) – Clarice Lispector (1920-1977)
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
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