Atividade Textualização Oficina de Texto: Língua, texto e discurso

https://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2019/08/12/vespas-ajudam-policia-a-prender-fugitivo-na-alemanha.ghtml

Vespas 'ajudam' polícia a prender fugitivo na Alemanha.

Arrancou custosamente a rolha de uma garrafa de vinho, fechou as cortinas e sentou-se em sua poltrona predileta.  O sol raiava saudoso, indicando o início de um belo dia. Contudo, o que se percebia no interior do casebre em ruínas era nada mais que melancolia desalentadora, que, aliada à uma espécie de satisfação mórbida, materializava a figura de Joseph. Esforçou-se em olhar fixamente para a estante de livros à sua frente, por um minuto ou dois. Instantaneamente, sentiu-se orgulhoso do que havia feito. Não era a primeira vez, não seria a última. Com o passar do tempo, a sensação de júbilo transformou-se em algo corriqueiro, podendo compará-la, inclusive, a um emprego.

Emprego... Irônico o soar dessas palavras aos ouvidos de Joseph. Seu pai, que o havia criado sozinho, passou anos procurando um trabalho na Oldemburgo pós-guerra. Agora, 30 anos depois, tudo parecia mais difícil sem a figura paterna, ainda que hoje não tivesse de bater de frente com tribulações cruas, como a fome. O peso da vida lhe trouxe a sensação de que não importava o quanto comesse depois de adulto, por dentro sempre se sentiria mais e mais vazio. No entanto, Joseph tinha um hobby que o afastava de sua solidão: roubar livros.

A obra que furtara na tarde anterior não era muito valiosa, mas ao menos renderia o suficiente para sobreviver durante o restante daquela semana. Folheou o impresso. Edgar Allan Poe. Encontrou o título de um conto que lhe tomou a atenção, então decidiu lê-lo. ‘’O Gato Preto’’. Um homem que fora preso por um crime de que QUASE escapara. O novo bichano de estimação da casa havia sido emparedado junto ao corpo da esposa assassinada, uivando durante a busca policial e entregando, dessa maneira, o desalmado personagem da história. Impiedoso, pensou. Mas alguma coisa sobre o gato o incomodara desde a primeira página. Sua teimosia na aproximação com o agressor; seu sesto de observá-lo todo o tempo, quase como um fantasma.

Joseph fechou o livro de súbito. Levantou-se, guardou-o num saco preto – já estava destinado a um comprador conhecido – e decidiu abrir as janelas para apreciar o dia lá fora. Foi quando reparou. Havia uma viatura com dois policiais dentro, observando atentamente o que se passava dentro da casa. Muito quisera parecer normal, mas quando se deu conta, já estava com o semblante aterrorizado, como quem sabe exatamente o que fez e não se preocupa em esconder. Num segundo, o que viu foi uma conversa despretensiosa dentro do carro. No outro, já tinha começado a correr disparado em direção à saída dos fundos enquanto os oficiais tentavam arrombar a porta principal.

Escalou o muro da vizinha, que provavelmente ainda dormia, já que não passava das sete da manhã de um domingo. Subiu uma cerca de madeira de aproximadamente dois metros, que separava a casa dela de uma pequena floresta. Não havia muitos esconderijos favoráveis à fuga de Joseph, então se decidiu por continuar correndo, até que os policiais desistissem de encontrá-lo. Preso por furtar um livro? Que atitude vil. Enquanto alargava continuamente os passos, indagava-se sobre o que seu pai pensaria caso o estivesse observando naquele momento.