CARACTERÍSTICAS DO NATURALISMO DENTRO DO ROMANCE O PRIMO BASÍLIO
Por: jessicapelege • 11/9/2018 • Artigo • 2.534 Palavras (11 Páginas) • 389 Visualizações
CARACTERÍSTICAS DO NATURALISMO DENTRO DO ROMANCE O PRIMO BASÍLIO, DE EÇA DE QUEIRÕS.
Jéssica Pelege
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo, analisar as características do Naturalismo presentes no romance O Primo Basílio, de Eça de Queirõs, uns dos maiores representantes da Literatura Portuguesa, na sua época e até os dias de hoje, lembrado por mostrar e descrever, relatando em seus livros que tiveram grande repercussão, à família burguesa e a sociedade de Portugal daquele período, que se encontrava em decadência, e utilizar elementos naturalistas para enfatizar a verossimilhança com a realidade, e esses recursos serão explorados e analisados neste trabalho em questão.
PALAVRA-CHAVE
Eça de Queirõs; Naturalismo; O Primo Basílio; Portugal.
Introdução
Nesta análise evidenciaremos cuidadosamente como o Naturalismo esta presente no romance O Primo Basílio (1878), os elementos que constituem com este movimento confundem-se com o seu anterior, o Realismo, mas o primeiro vai além do segundo, e suas características, como comprovaremos com trechos deste romance, estão ao decorrer da obra, assim podemos comprovar o Naturalismo que é tema de análise de análise em estudo.
Ao analisarmos a obra Querosiana , deparamos com um romance de grande repercussão do autor, a família europeia foi usada para criticar a sociedade lisboetania, o caso entre Luiza e Basílio, que quando jovens foram namorados, e com o passar dos anos se afastaram. Ela se casa com Jorge, que após anos de casamento, viaja e deixa sua amada só, por um longo tempo. A moça fica sabendo que seu primo esta de volta, com as visitas de Basílio, ela não resiste e acaba caindo nos braços do antigo amor.
Ao decorrer do romance sua empregada fica sabendo desse caso secreto. Luiza pede ajuda de seu amante que ao saber, deixa-a sozinha. A mulher de Jorge consegue se livrar de Juliana com ajuda de amigos. Mas depois do acontecimento, Luiza cai doente e Jorge fica desesperado, vendo sua amada naquele estado, ele fica sabendo da terrível traição, mas não toma nenhuma atitude. Luiza acaba não resistindo e falece.
É de se notar, que os personagens e acontecimentos que são assuntos na obra, que os elementos Naturalistas estão presentes, como podemos analisar no comportamento da personagem principal Luíza, que tem esvaziamento psicológico descrito:
“Ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias, no seu roupão de manhã de fazenda preta, bordado a soutache3, com largos botões de madrepérola; o cabelo louro um pouco desmanchado, com um tom seco do calor do travesseiro, enrolava-se, torcido no alto da cabeça pequenina, de perfil bonito; a sua pele tinha a brancura tenra e láctea das louras; com o cotovelo encostado à mesa acariciava a orelha, e, no movimento lento e suave dos seus dedos, dois anéis de rubis miudinhos davam cintilações escarlates”. (p.11, QUEIROS)
Podemos perceber que o meio em que a personagem convive, o faz ser deste modo, a sociedade, os costumes, a herança genética, determina que a personagem não tenha um pensamento condensado, e sim com uma fraca perspectiva de vida, isso reforça seu pensamento fraco, que se preocupa com banalidades do cotidiano e ler seus romances, idealizando amores como conhecia em livros:
“Seu texto se concentra em duas frentes de combate: a crítica ao seu redor sobre a consistência moral de Luísa e sobre o recurso à carta roubada como defeito do romance; a acusação de moralismo estreito”. (p.178)
Diga-se de passagem, o narrador cria um ambiente para transcrever os aspectos do quarto em que vivia Juliana, ao retratar o lugar, ele é objetivo e descreve friamente como se encontra o estado daquele cômodo, sem rodeios e apego aos recursos para enfeitar, Eça relata como era as condições que a empregada da família, que há anos se encontrava na mesma situação, fazendo uma descrição minuciosa do espaço físico e da sociedade, característica do Naturalismo. Vejamos um trecho do romance que comprova esta afirmação.
“O quarto era baixo, muito estreito, com o teto de madeira inclinado; o sol, aquecendo todo o dia as telhas por cima, fazia-o abafado como um forno; havia sempre à noite um cheiro requentado de tijolo escandescido. Dormia num leito de ferro, sobre um colchão de palha mole coberto de uma colcha de chita; da barra da cabeceira pendiam os seus bentinhos e a rede enxovalhada que punha na cabeça; ao pé tinha preciosamente a sua grande arca de pau, pintada de azul, com uma grossa fechadura. Sobre a mesa de pinho estava o espelho de gaveta, a escova de cabelos enegrecida e despelada, um pente de osso, as garrafas de remédio, uma velha pregadeira de cetim amarelo, e, embrulhada num jornal, a cuia de retrós dos domingos. E o único adorno das paredes sujas, riscadas da cabeça de fósforos, - era uma litografia de Nossa Senhora das Dores por cima da cama, e um daguerreotipo onde se percebia vagamente, no reflexo espelhado da lâmina, os bigodes encerados e as divisas de um sargento”, (p.71, QUEIROS)
Com as condições do quarto da empregada, Eça descreve sem rodeios as condições que os patrões davam aos empregados. Juliana tinha descontentamento com sua realidade. O autor enfatiza isto, e coloca seu problema de uma forma individual. Para enfatizar o que foi dito, temos um trecho a seguir:
“A apresentação desse conflito, a rigor, é vista de ângulos falsos, porque Eça se interessou mais, em Juliana, pelo problema individual. Juliana não lhe serviu para figurar o elemento de trabalho que, em sua obra, ocupa lugar reduzido, quase nulo. Nem por isso, entretanto, as relações de classe são menos evidentes, em seus romances; surgem, por vezes, com uma clareza quase intencional, devido à sua aguda percepção das coisas e dos homens, e principalmente de seus motivos e ações” (p.118).
O sofrimento e o comportamento da emprega Juliana, é determinado pela sociedade que esta em seu redor. Seu descontentamento com sua realidade e a descrição que Eça de Queiroz o faz, afirma que a personagem em questão não teve outra escolha. O meio determinou seu destino, isso causou seu descontentamento com a realidade que se encontrava e pela vida e sempre levou.
“Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava de amos, mas não mudava de sorte. Vinte anos a dormir em cacifos, a levantar-se de madrugada, a comer os restos, a vestir trapos velhos, a sofrer os repelões das crianças e as más palavras das senhoras, a fazer despejos, a ir para o hospital quando voltava a saúde!... Era demais! Tinha agora dias em que só de ver o balde das aguas sujas e o ferro de engomar se lhe embrulhava o estomago. Nunca se acostumara a servir. Desde rapariga a sua ambição fora ter um negociozito, uma tabacaria, uma loja de capelista ou quinquilharias, dispor, governar, ser patroa; mas, apesar de economias mesquinhas e de cálculos sôfregos, o mais que conseguiria juntar foram sete moedas ao fim de anos; tinha então adoecido; com o horror do hospital fora tratar-se para casa de uma parenta; e o dinheiro, ai! derretera-se! No dia em que se trocou a ultima libra, chorou horas com a cabeça debaixo da roupa”. (p.75, QUEIROS)
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