CRÍTICA SOCIAL: CONDIÇÃO DE MISERABILIDADE E POBREZA
Por: bucenilde • 12/6/2016 • Trabalho acadêmico • 1.174 Palavras (5 Páginas) • 294 Visualizações
CRÍTICA SOCIAL: CONDIÇÃO DE MISERABILIDADE E POBREZA
Luiz Ruffato nascido em Cataguases, família humilde formou-se em comunicação na Universidade Federal de Juiz de Fora em 1961. Homem corajoso. Primeiro a ganhar o prêmio Herman Hesse. Se dedica a dividir com os leitores vários clássicos. Eles eram muitos cavalos é o primeiro romance escrito pelo autor mineiro. Lançado em 2001, o livro é composto 70 fragmentos que nos falam de um dia, 9 de maio de 2000, semana do Dia das Mães, na cidade de São Paulo. Possui aparência de recortes de um dia da vida cotidiana desta metrópole.
A leitura que se faz do romance não compactua com a facilitação, pelo contrário, o leitor precisa estar atento a todos os detalhes para garantir um certo entendimento. Note o que Debortoli p.12 diz: “A narrativa Eles eram muitos cavalos, num primeiro contato desestabiliza o olhar do leitor, exigindo uma atenção também diferenciada, amplamente contextualizada, a fim de garantir sua interpretação.”
O livro é constituído por uma narrativa que se apresenta como se estivéssemos assistindo a um documentário que nos desse acesso a tudo o que está acontecendo em uma metrópole em um único dia. A proposta é tecer a formação urbana de São Paulo. Tudo está ali, desde modelos frustradas até o retirante vindo em busca de uma vida melhor.
A literatura deixou de ser uma arte isolada, e única possuidora da palavra. Hoje ela funciona como reflexo do caos urbano, da pressa das vidas da finitude do tempo. A literatura é, e necessita ser, tudo ao mesmo tempo. Sobre este aspecto Solange Fernandes Barrozo Debortoli em sua dissertação de mestrado, comenta:
Com isso, se percebe que a produção literária contemporânea acompanha as novas realidades sociais e tecnológicas, ao se caracterizar pela incorporação das diversas formas de percepção da realidade e pelo esforço em reproduzir o movimento geral da sociedade capitalista de adesão ao novo, ao imediato, ao fragmentado, distanciando-se, em algumas obras, consideravelmente, do gênero romance em sua tessitura tradicional. Isso ocorre com o intuito de romper com normas, padrões pré-estabelecidos, a fim de representar a experiência social do homem deste tempo. (DEBORTOLI, 2011, p.10).
O livro Eles eram muitos cavalos acompanha o ritmo estabelecido pela sociedade contemporânea, pois lança uma nova proposta de leitura. O crítico João Luiz Lafetá propõe como deve ser encarada qualquer nova proposta estética literária:
[...] deverá ser encarada em suas duas faces (complementares e, aliás, intimamente conjugadas; não obstante, às vezes relacionadas em forte tensão): enquanto projeto estético, diretamente ligada às modificações operadas na linguagem, e enquanto projeto ideológico, diretamente atada ao pensamento (visão de mundo) de sua época. (LAFETÁ, 2000, p.19-20, grifos do autor).
Luiz Ruffato trata dessa contemporaneidade de forma primorosa deixando que cada exp eriência possa ser tão próxima e intimista que você fica se perguntando se aquela situação não é da sua vizinhança ou com alguma pessoa próxima, pois sabe que já ouviu e viu aquilo antes.
O livro apresenta um traço típico da produção literária brasileira contemporânea: a crítica social. Os “muitos cavalos” do título são a gente pobre de São Paulo, em grande porcentagem constituída de migrantes que foram parar na metrópole em busca de trabalho e melhores condições de vida, mas muitas vezes encontram a miséria, a desgraça. As descrições feitas em alguns episódios são própria da realidade social das classes trabalhadoras menos favorecida financeiramente.
O episódio intitulado “Ratos” (p.21) retrata a perversidade em sua manifestação mais crua com a realidade da família brasileira.
Um rato, de pé sobre as patinhas traseiras, rilha uma casquinha de pão, observando os companheiros que se espalham nervosos por sobre a imundície, como personagens de um videogame. Outro, mais ousado, experimenta mastigar um pedaço de pano emplastrado de cocô mole, ainda fresco, [...] Excitado, o bando achega-se, em convulsões. ( RUFFATO, 2013, p.21)
As crianças dividem com ratos e insetos um cômodo. A ideia dos vários ratos que passeiam desesperados pela casa nos sugere estarmos diante de um esgoto, não de uma casa ou muito menos de um lar. Através das descrições percebemos que a casa habitada não tem as mínimas condições de higiene e sobrevivência. A imundície que a casa está naquele momento provoca náuseas até mesmo ao leitor.
Uma mulher vive em condições miseráveis com suas crias, não consegue nem oferecer o necessário. Nesse cenário a mãe se vê diante de múltiplas crianças aparelhadas pela idade. Os filhos não tem nem o que
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