Caracterizando a solidão do ser no meio urbano: Uma análise do conto “Um drive-in sob o céu da boca”, de Joca Reiners Terron
Por: Francisco Venâncio Sampaio Neto • 20/11/2017 • Artigo • 3.509 Palavras (15 Páginas) • 445 Visualizações
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Introdução aos estudos literários II
Caracterizando a solidão do ser no meio urbano:
Uma análise do conto “Um drive-in sob o céu da boca”
de Joca Reiners Terron
Francisco Venancio Sampaio Neto
7193808
São Paulo
2010A vida é muito importante para ser levada tão a sério.
Oscar WildeSumário
1. Caracterização, exposição e análise do objeto 3
2. Interpretação: aspectos do real, do imaginário e da ficção.
2.1. Observação sobre as interpretações 8
2.2. Interpretando o conto através da tríade:
real, imaginário e ficção 9
3. Comentários adicionais 11
4. Conclusão 12
Bibliografia/Webgrafia 133
Caracterizando a solidão do ser no meio urbano:
Uma análise do conto “Um drive-in sob o céu da boca”, de Joca Reiners Terron
Francisco Venancio Sampaio Neto1
Resumo
O presente artigo tem como objetivo apresentar uma análise do conto “Um
drive-in sob o céu da boca”, de Joca Reiners Terron, de forma que esta dialogue
com os conceitos apresentados pelos teóricos citados na bibliografia e com o
conteúdo exposto presencialmente no curso de Introdução aos Estudos Literários II.
1. Caracterização, exposição e análise do objeto
Para apresentar e analisar o objeto, começaremos fazendo um levantamento
do que caracteriza a forma conto e durante a análise pontuaremos esses itens
dentro do texto. Na interpretação, trataremos ainda da tríade real-imaginário-ficção.
Conforme pontos que foram elencados por Edgar Allan Poe em meados do
século XIX2 e que resistiram ao passar dos anos, um texto para se enquadrar dentro
da forma conto deve ter brevidade, ritmo, tensão, unidade e clímax. Além desses
itens, ele declara ser necessário que se prenda a atenção do leitor logo no começo e
por todo tempo em que este faz a leitura do texto, não podendo este ser muito
extenso.
Temos no início deste conto a apresentação do narrador-personagem. Aliás,
não chega a haver essa apresentação. Ele permanece inominado até o desfecho da
história. O que se dá é a introdução deste através da sua apresentação de uma
característica particular:
“Eu sou míope e enxergo coisas nas manchas que vejo.”
1 Graduando do curso de Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo.
2
Em 1842 Edgar Allan Poe trabalhou como editor na Graham´s Magazine, onde publicou diversos
artigos em que comentava os contos e a forma de criação de Natanael Hawthorne, em comparação a
sí mesmo, sendo que a coletênea destes artigos são tidas como o estabelecimento de sua Poética
para genêro contista.4
Com essa informação, que traz a característica informalidade de uma
conversa que se possa ter com uma pessoa qualquer, em qualquer fila de espera, o
narrador começa o processo de conquista, de arrebatamento do leitor. Mesmo
numa cidade grande como São Paulo é inevitável que dispensemos alguma atenção
a uma pessoa que fale conosco da forma como se introduz o narrador-personagem,
ou narrador-protagonista3 (por serem a mesma coisa e por uma questão de
convenção define-se que denominaremos o narrador-protagonista simplesmente de
narrador). Prosseguindo, o leitor é levado a compartilhar da intimidade do narrador,
sendo logo transportado por este através de seu relato ao seu quarto, de onde ele
começa a dizer especificamente o que seriam e como se dariam essas visões.
Através da janela, sombras se formam pela luz que vem da rua e ele passa suas
noites observando suas formas, ouvindo os sons ao redor e criando com esse
conjunto de sensações, alguns personagens que parecem preencher sua vida. Ali,
da sombra que se forma na janela do quarto, brinca e dorme com ele o cão que ele
não possui, além de outros personagens que aparecem posteriormente em cena. No
parágrafo seguinte ele continua com o leitor já seu convidado a apresentação de sua
residência. Sabemos então se tratar de um apartamento, sendo este o espaço
restrito de ação no conto, conforme veremos mais a frente, na interpretação. Aqui
ele explica que a escolha do apartamento foi motivada “justamente por suas janelas
largas”, onde “quase sempre, antes de dormir,” preparava sua dose de uísque e se
preparava para ter o “espetáculo de reflexões”, que é tida como sua “diversão
predileta” 4.
Antes de dar continuidade à exposição
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