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Cultura surda em debate: diferentes abordagens, amplas possibilidades

Por:   •  4/12/2020  •  Resenha  •  1.367 Palavras (6 Páginas)  •  187 Visualizações

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Cultura surda em debate: diferentes abordagens, amplas possibilidades

A cultura é englobada pela sociedade, seus povos, raças, cores, e pluralidades em geral, e todas as formas de expressões, e manifestações que acercam seus costumes, tradições passadas e atuais. Geralmente os ouvintes estão envoltos em ignorância perante à surdez e à comunidade surda, desconhecem a população surda e suas vivências, tanto que não param para pensar que todos nós possuímos várias culturas, que fazem parte de quem somos, tudo que vivemos e nos rodeia, faz parte de nossa cultura, assim como aos surdos, fica claro quando a autora evidencia em:

“Essas representações imaginárias estão equivocadas, os povos surdos não vivem isolados e incomunicáveis; simplesmente os sujeitos surdos tem seu jeito de agir diferente do de sujeitos ouvintes” (STROBEL, 2016, p.26)

As vivências surdas sempre foram vistas por olhares clínicos pelos ouvintes, vistas como algo anormal, com a necessidade de “concerto”, ambas autoras evidenciam suas vivências como surdas e acentuam essa forma ignorante e zombadora de serem vistas pelos ouvintes, como Strobel relata em:

“a política ouvintista prevaleceu historicamente dentro do modelo clínico e demonstra as táticas de política reparadora e corretiva da surdez, considerando-a como defeito e doença, sendo necessário tratamentos para normalizá-la” (STROBEL, 2016, p. 27).

E Karnopp em: “há uma forte tendência à medicalização da surdez, inscrita no paradigma clínico que procura enquadrar o surdo dentro da normativa ouvinte. Enfatizam questões da deficiência e da incompletude como representações da surdez.” (KARNOPP, 2013, p. 412).

As diferentes pluralidades dos surdos fazem parte da comunidade e sociedade, também são ressaltadas diariamente com suas vivências em diferentes âmbitos sociais, culturais, e expressivos na sociedade, um surdo pode fazer parte de um grupo racial x, religioso x, e ter sexualidade x, onde Strobel expressa em: “Além das várias associações de surdos já existentes espalhadas em muitos lugares do mundo, há, em Buenos Aires (Argentina), a Associação dos Surdos Oralizados; nos Estados Unidos, a Associação dos Surdos Negros; no Brasil, a Associação dos Surdos Gays, Comunidade dos Surdos Implantados, entre outras” (STROBEL, 2016, p.33)

A comunidade surda já passou por muitas limitações durante a sua história pela sociedade, por vê-los como um erro clínico, algo a ser corrigido, e até mesmo por serem vistos como pessoas incapacitadas de realizar ou alcançar qualquer grande feito em vida, simplesmente por suas pluralidades. A falta de registro artístico e da própria história surda pelo mundo também foi bastante limitada, essas ocorrências históricas são enfatizadas por Karnopp em: “O que a elite francesa, o que os homens surdos pensavam sobre as mulheres colonizadas? Eram consideradas exóticas, primitivas? Quais histórias eram contadas pelas mulheres surdas naquela época?” (KARNOPP, 2013, p. 409)


As culturas surdas englobam e fazem parte do indivíduo surdo, é sua identidade e luta cotidiana, após muitos anos de repressão, estar em uma comunidade, poder se expressar em libras, sentir pertencimento, é muito importante para o sujeito surdo, assim como em qualquer âmbito da sociedade, é importante se sentir acolhido e pertencido, Klein e Lunardi exemplificam isto em:

“Após décadas de discursos e práticas institucionais de patologização, reabilitação e normalização, movimentos de resistência foram se constituindo a partir de sujeitos surdos que tinham a necessidade de encontrar elementos que pudessem aproximá-los em comunidades onde compartilhassem a mesma língua e traços culturais comuns.” (KLEIN E LUNARDI, 2006, p. 16).

Ser surdo é se caracteriza de muita amplitude, e fazer parte da cultura surda também não se limita a uma única possibilidade, a partir das vivências pessoais é que desenvolve-se a forma se ser, pensar, agir, gostar, e não gostar. Não é possível enquadrar a vivência surda em uma pequena caixa, há uma pluralidade enorme em vários âmbitos sociais, e culturais que definem a personalidade das pessoas surdas, é uma constante evolução híbrida, as autoras definem bem isto em:

“Acreditamos que ao se traduzir as culturas surdas, é necessário um descentramento da língua de sinais cultura, como única expressão autêntica dessa para não cristalizar a surdez a partir de um “único” recorte cultural, para que ela não se torne mais uma forma “exótica” e “folclórica” de entendimento da surdez. Entender as culturas surdas é percebê-las enquanto elementos que se deslocam, se fragilizam e se hibridizam no contato com o outro, seja ele surdo ou ouvinte; é interpretá-las a partir da alteridade e da diferença.” (KLEIN E LUNARDI, 2006, p. 17).

As culturas surdas são pluralistas e híbridas, vivemos em uma sociedade onde o aprendizado faz parte do nosso cotidiano, onde identidades vão se deslocando para diferentes trajetos, fronteiras são deslocadas, mentes são formadas, participamos de vários âmbitos sociais, os surdos também estão em constante contato com os ouvintes, criando contatos e conexões com todos os tipos de pessoas diariamente, e tudo isso demonstra o quão subjetivo e pessoal a cultura surda é pra cada um deles, deste modo fica destacado pelas autoras:

“Somos atravessados pelos afetos, pelas sensações, pelas mensagens verbais e visuais. Vamos construindo/constituindo nosso jeito de ser, de sentir, de se relacionar através dos agenciamentos daquilo que nos chega dos referenciais cognitivos, míticos, rituais. Tudo que vivenciamos na família, na escola, o que nos transmitem pelas mídias, nas nossas relações amorosas e de trabalho, vão se estabelecendo como referenciais que nos levam a um posicionamento frente às coisas e frente ao mundo. É a produção de sentidos, o agenciamento de enunciação, constituindo um território existencial.” (KLEIN E LUNARDI, 2006, p. 16).

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