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Curso de Linguistica Geral

Por:   •  14/6/2016  •  Resenha  •  2.862 Palavras (12 Páginas)  •  1.507 Visualizações

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Márcia da Conceição Avelino | 114.069

CURSO DE LINGUISTICA GERAL: objeto da linguística, linguística da língua e linguística da fala.

                                                

Resenha Crítica elaborada como requisito parcial à obtenção de aprovação na Unidade Curricular Introdução à Linguística, Ministrado pela profa. Dra. Hosana dos Santos

GUARULHOS

2016

SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 26ª ed. Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes e IzidoroBlikstein. São Paulo: Cultrix: 1995.

INTRODUÇÃO

Fundamentada no pensamento de Ferdinand de Saussure (1857-1913), um dos maiores estudiosos da linguística, o “Curso de Linguística Geral” (1916) é uma obra póstuma, compilada por seus alunos a partir de anotações de aula derivadas dos três cursos ministrados por Saussure na Universidade de Genebra entre os anos de 1907 a 1911.

        No contexto em que os estudos sobre a linguagem, ainda focados em estudos históricos e descritivos da linguagem, atribuíam-lhe um papel secundário – uma vez que era tomada como traço cultural da sociedade e cuja compreensão de sua natureza evoca observá-la em meio a abordagens sociais – a proposta Saussuriana, então apresentada, ganhou indiscutível relevância ao ocupar-se da definição do real objeto da linguística.

Assim, os capítulos 3 e 4, ao abordam respectivamente considerações sobre a necessidade de um objeto da linguística, bem como sua delimitação, e o afunilamento intencional pelo estabelecimento de certa distinção entre língua e fala, parecem abordar o tema fundamental da obra, demonstrando os pressupostos desse divisor de águas.

O diálogo travado na leitura aqui descrita evocou alguns nomes da Filosofia da Linguagem que de algum modo serviram-se da observações Saussurianas, ainda que pela via negativa. Como em todo o diálogo, a grande intenção foi extrair uma compreensão significativa do assunto em questão, situando-o também por outras perspectivas.

No primeiro capítulo são postos três pontos:

1 A língua sua Definição - A tarefa de delimitar o objeto integral e concreto da linguística aparece como particularmente difícil porque seu objeto de estudo não é previamente dado. Pelo contrário, no fenômeno da linguagem, o estudo de uma palavra, requer a consideração de diversos aspectos de dual interface, tais quais, a emissão sonora e as fisiologias vocal e auditiva, os estados intencionais e a significação social a partir de um sistema linguístico, ao mesmo tempo, estabelecido e em devir, de modo que tais perspectivas desenham o próprio objeto. Essa demanda parece natural se nos atentarmos para o fato de que é a característica mais fundante da própria ontologia humana. O raciocínio, motivador do desenvolvimento filosófico e científico não seriam possíveis sem a linguagem. É por meio dela que constituímos uma história e que constituímos e interagimos com as diversas áreas do saber, tornando compreensível que em algum momento a linguagem, e em especial a fala, fosse objeto de atenção de cada uma delas.

Para Saussure essa característica fenomenológica atinge sua metodologia, de modo que de “qualquer que seja o lado por que se aborda a questão, em nenhuma parte se nos oferece integral o objeto da Linguística” (SAUSSURE, 1995, p. 16):  ou aprofunda-se em uma forma de abordagem, desprezando suas interfaces complementares, ou considera-se sobre ela vários aspectos concomitantes, tornando seu objeto amplo, confuso e disputado pela leitura típica de diversas ciências – o que parece ser inevitável, pois ainda hoje a linguagem tem seu lugar garantido em muitas delas, com especial destaque para as disciplinas que compõem as Ciências Cognitivas.

Em meio às dualidades do dilema posto, uma resolução simplificadora da abordagem foi eleita pelo professor genebrino: tomar a língua como norma das manifestações da linguagem, a partir de seu próprio terreno, uma vez que é suscetível duma definição autônoma e fornece um ponto de apoio satisfatório. Define-se a língua, portanto como um produto social e constituinte da capacidade de linguagem, sem o qual não seria possível a comunicação entre o domínio individual e o domínio social, se servindo, para tanto, de dimensões físicas, fisiológicas e psíquicas. Ao que parece é também nessa definição que passamos a pintar um quadro de pressupostos pelo qual recebe o título de estruturalista. Ora a linguagem é tratada aqui como um ente externo, que tem a língua como instrumento de suas manifestações. Lê-se a predominância do sistema sobre os indivíduos na busca por compreender tal estrutura sistemática por meio da análise da relação entre seus elementos (palavras).  

Mais adiante, traz o texto, a língua não é passível de classificação nas categorias dos fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade. Isto significa que um fato de língua só tem razão de ser quando relacionado a outros fatos de língua; uma palavra tem significação somente por sua relação com as demais palavras do sistema.    

Em franca oposição, Bakthin (1895-1975) e Wittgeinstein (1889-1951) aparecem no diálogo interno dessa leitura, embora não sejam exatamente linguistas, quero dizer, apesar de sua dedicação à linguagem, sujeitos à observação da linguagem como objeto secundário. Ambos construíram seu pensamento acerca da linguagem sob perspectivas que colocam o sujeito como o centro da significação das palavras. Influenciado pelo materialismo dialético de Marx, segundo o qual os organismos vivos, a cultura e a sociedade se influenciam e se modelam mútua e constantemente, Bakthin acredita que o exercício da fala nos lugares comuns da sociedade é o ponto de partida para a compreensão da linguagem – assumida por ele como fenômeno. Assim, concebe a língua como algo real e vivo, na qual cabem muitos sentidos. Em complemento, Wittgeinstein, através das suas “Investigações Filosóficas”, propõe o conceito de jogos de linguagem: jogos que se dão em cada grupo social, nos quais as palavras ganham um sentido atribuído por seus participantes (jogadores). Os jogadores, por sua vez, aprendem a jogar jogando. Dessa forma, simultaneamente apreende-se e cria-se uma linguagem. Isso não diz respeito apenas a grupos diferentes utilizando um mesmo termo de modos diferentes, mas ao fato de em um mesmo grupo, haver vários jogos de linguagem, nos quais as mesmas palavras podem tomar diferentes significados[1]. Desse modo, o desertor do chamado Ciclo de Viena defende que a palavra utilizada para fazer referência a algo, por si só, proferida ou escrita, não designa exatamente o que as coisas são, mas requer uma série de elementos contextuais.

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