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Ensaio Sobre o Livro “Lavoura Arcaica” de Raduan Nassar

Por:   •  16/9/2015  •  Ensaio  •  1.316 Palavras (6 Páginas)  •  427 Visualizações

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Ensaio sobre o livro “Lavoura Arcaica” de Raduan Nassar

Considerações Iniciais:

Este ensaio busca evidenciar alguns aspectos presentes na obra “Lavoura Arcaica” e, além disso, busca ver a influencia do meio (Rural) na relação familiar tipicamente patriarcal e com ética religiosa, e perceber também como as atitudes do personagem principal é uma forma dele de se libertar das regras impostas pelo seu pai. Assim esse personagem viola regras, rompe tradições e se desprende (em parte) da família na tentativa de esquecer seus medos, suas angustias e duvidas.

A trajetória do filho pródigo:

        André vivia em um sitio com sua família, lá ele foi criado com seus pais e seus irmãos, ele desfrutava dessa vida calma do campo, mas ao mesmo tempo se sentia oprimido pela família, e pelo modo como o seu pai os orientava a seguir a tradição cristã e de como ele deveria continuar a viver dessa mesma forma e seguir vivendo no campo, plantando, colhendo sem fazer maiores questionamentos:

Na modorra das tardes vazias na fazenda, era num sítio lá no bosque que eu escapava aos olhos apreensivos da família; amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma vergada ao peso de um botão vermelho; não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor, velando em silêncio e cheios de paciência meu sono adolescente? que urnas tão antigas eram essas liberando as vozes protetoras que me chamavam da varanda? de que adiantavam aqueles gritos, se mensageiros mais velozes, mais ativos, montavam melhor o vento, corrompendo os fios da atmosfera? (NASSAR, Raduan)

        De algum modo vemos como André se sente diferente de seus irmãos, e nele também se aflora o desejo sexual, normal em qualquer menino adolescente, porém como vive somente em seu seio familiar longe de outras convivências, acaba por sentir-se atraído por sua irmã Ana, ou seja, o meio no qual ele estava inserido proporcionou que ele sentisse atraído e desencadeou nele além de um amor fraternal, também um amor carnal e sexual:

“Era Ana, Pedro. Era Ana minha fome, minha enfermidade. Era Ana minha loucura, era o meu respiro. Era Ana a minha lâmina, era meu arrepio, meu sopro, meu assédio. Era eu o irmão acometido, era eu o irmão exasperado, era eu o irmão de cheiro violento, era eu que tinha na pele a gosma de tantas lesmas, a baba derramada do demo". (NASSAR, Raduan)

        Não podemos também deixar de perceber que esse relacionamento incestuoso também faz uma ruptura com as regras religiosa e com a tradição da família, além disso é uma afronta ao pai de André, pois isso comprova que a imagem de família unida é extremamente frágil. Por isso, o personagem principal não tenta sufocar seu sentimento por sua irmã. E no livro deixa subentendido que realmente eles tiveram um relacionamento físico amoroso.

        Isso nos mostra como André não se deixava sufocar pelos sermões de seu pai, ensinamentos bíblicos e morais. E da mesma forma que ele não concordava com o modo que seu pai os obrigava a seguir um rumo e um pensamento, ele seguia o oposto. Deixava-se levar por seus instintos mais animais e carnais e respeitava mais esses instintos e vontades do que propriamente o que lhe foi ensinado.

Posteriormente, quando André resolveu sair de casa após ser rejeitado por Ana, essa atitude novamente foi uma ruptura com a tradição familiar, ele mesmo sem o consentimento de seus pais sai do sitio e nessa fuga ele procura em verdade se encontrar, pois a vida no campo o deixou sem uma amplitude de sua liberdade, de seus pensamentos, afinal, ele sempre esteve influenciado por seu pai, por suas lições. Agora sim, definitivamente ele estava se conhecendo, sim, conhecendo seus próprios sentimentos, estava conhecendo um mundo totalmente diferente e cheio de frustrações e novidades fora das cercas do sitio e fora da vigilância dos olhares atentos de seus pais.

Foi então que seu irmão mais velho, Pedro, vai ao seu encontro e lhe pede para voltar ao sitio, e lhe revela o quanto foi perturbador a fuga dele para a família e como houve esse desequilíbrio familiar e que seria melhor que ele retornasse para o sitio, onde ele não deveria jamais ter saído. É nesse momento em que o personagem principal revela seus sentimentos mais obscuros e expõe ao seu irmão, de uma forma bem densa, tudo o que ele sentia, pensava e de como a fuga foi a forma que ele encontrou para esquecer aquela paixão proibida que sentia por sua irmã Ana.

Nesse momento o leitor consegue perceber as perturbações do personagem, e de como ele entrou nessa loucura, que foi desencadeada pelo desejo/amor que ele sentia por sua imã, esse sentimento que lhe levou a tantas incertezas e inquietações. Pois não bastava apenas amar, afinal, no caso deles, o amor causava discórdia, dor e frustração.

Após essas revelações Andre resolve retornar a fazenda, após muito o seu irmão insistir, a sua volta traz uma paz parcial, todos ficam felizes e  aparentemente tudo voltava a ser como era antes na fazenda, mas em realidade muitas coisas haviam mudado, inclusive em uma conversa que Andre teve com o seu pai ele expõe algumas de suas opinião e de certa forma afronta seu pai com seu “novo” modo de agir e pensar. Agora André não tem mais aquele velho “medo” de seu pai, ele quer mesmo é expor as transformações que ocorreram com ele nessa trajetória fora do sitio.

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