FICHAMENTO: CONSCIÊNCIA FONÊMICA E ALFABETIZAÇÃO
Por: danielamar • 26/4/2018 • Seminário • 3.056 Palavras (13 Páginas) • 369 Visualizações
FICHAMENTO
SOARES, Magda. Consciência fonêmica e alfabetização, p. 189 – 240. In.: Alfabetização: a questão dos métodos.
CONSCIÊNCIA FONÊMICA E ALFABETIZAÇÃO
Para Liberman (1995), o alfabeto é caracterizado como um triunfo da biologia aplicada, que segundo ele, é em parte uma descoberta e em parte invenção.
- Descoberta: foi que as palavras não se diferenciam uma das outras holisticamente, mas antes pelo arranjo particular de um pequeno conjunto de unidades sem significado.
- Invenção: foi simplesmente a noção de que, se cada uma dessas unidades fosse representada por uma forma visual específica, então qualquer pessoa poderia ler e escrever, desde que conhecesse a língua e se tornasse consciente da estrutura fonológica interna de suas palavras.
Pode-se dizer que, de certa forma, a criança repete descoberta e invenção: para apropriar-se da leitura e da escrita em um sistema alfabético, ela refaz a descoberta de que a palavra é uma cadeia sonora independente de seu significado e passível de ser segmentada em pequenas unidades, tornando-se consciente da estrutura fonológica interna das palavras; e ela aprende a invenção: a representação de cada uma dessas unidades por uma forma visual específica.
É por esse processo de descoberta das palavras como cadeias sonoras segmentáveis e aprendizagem da invenção da representação desses segmentos por formas visuais específicas que a criança vai avançando a níveis de consciência fonológica relacionando-se, simultaneamente, com a escrita.
(Pág. 191)
Segundo Adams (2011) “A humanidade (na perspectiva histórica) e as crianças (na perspectiva do desenvolvimento) adquirem consciência de palavras antes que de sílabas, de sílabas antes que de ataques e rimas, e de ataques e rimas antes que de fonemas.”
- Hierarquia em estruturas silábicas mais frequentes no português – CV, CVC e CCV.
(Pág. 192)
DA SÍLABA AO FONEMA
Se a criança, desde cedo, revela sensibilidade fonológica às sílabas, mostrando-se capaz de dividir uma palavra nesses segmentos, o mesmo não ocorre com a sensibilidade dos fonemas.
(Pág. 193)
FONEMA
Segundo Adams (1990) ‘ Os sons dos fonemas isolados não são fisicamente separáveis da cadeia da fala, estão inteiramente fundidos uns com os outros no interior da sílaba (...) a consciência silábica constitui um elo essencial entre a habilidade aparentemente fácil de adquirir, implícita em nossa sensibilidade à semelhança de sons e à rima, e a capacidade difícil de adquirir que é o reconhecimento de fonemas isolados.’
- Os fonemas “não são pronunciáveis, pois expressam uma representação linguística abstrata” (Silva, 2011)
- Unidade mínima da estrutura fonológica, o fonema é “uma entidade formal não observável diretamente, não audível, não definível por propriedade físicas”. (Castilho,2010)
Sendo os fonemas representações abstratas, segmentos não pronunciáveis, a consciência fonêmica dificilmente se desenvolve de forma espontânea, como acontece, ao contrario, com a consciência silábica; é que “não há quebras sinalizando onde um fonema termina e o próximo começa na pronúncia de palavras. Ao contrário, fonemas se sobrepõe e são coarticulados, gerando uma corrente contínua de som” (Ehri, 1998)
(Pág. 194)
Uma unidade sonora é identificada como fonema não por se distinguir como um segmento isolável de seu contexto linguístico (da cadeia sonora da palavra), mas por estar em oposição a outras unidades sonoras que ocorrem em um mesmo contexto linguístico produzindo significados diferentes:
- Ex: identificamos /p/ e /b/ como fonemas porque distinguimos pata de bata;
- São esses pares mínimos que, na análise fonológica, identificam fonemas.
(Pág. 197)
Na fala: os fonemas não são produzidos nem percebidos como segmentos isolados (...) além disso, na fala o foco é posto no conteúdo semântico das palavras, não em sua estrutura fonológica(...) Assim, na cadeia sonora da fala, os fonemas são unidades implicitamente percebidas, mas não explicitamente reconhecidas.
(Pág. 200)
“...as habilidades de manipulação fonêmica dependem estreitamente de instrução escolar, ou seja, de alfabetização” (BERTELSON,1989)
(Pág. 200)
“Assim, um nível relativamente alto de consciência fonêmica exige não só alguma aprendizagem do código alfabético, mas também um conhecimento mais amplo e automatizado das regras de correspondência grafema-fonema e fonema-grafema (Scliar-Cabral, 1997)
(Pág. 202)
Não é a aprendizagem da língua escrita em geral que leva à habilidade de segmentação fonêmica, mas, particularmente, a aprendizagem de um sistema alfabético.
Embora não se possa considerar que a criança siga uma sequência de passos na aquisição de habilidades fonológicas, pois o processo revela “períodos de estabilização, progressos repentinos, mudanças graduais e quedas no desempenho” (Frith, 1985), os níveis de consciência fonológica ... centrados na oralidade, são, de certa forma, e sobretudo a consciência silábica, uma preparação para a consciência fonêmica, nível da consciência fonológica que, como demonstraram as pesquisas já citadas, não parte, como os demais níveis, da oralidade, mas da escrita, pois emerge contemporaneamente à aprendizagem da representação, por grafemas, de sons da fala não identificáveis isoladamente e também não pronunciáveis isoladamente – os fonemas.
(Pág. 204)
RELAÇÕES ENTRE CONSCIÊNCIA FONEMICA E ALFABETIZAÇÃO
A transição da consciência silábica para a consciência fonêmica representa um momento de mudança radical na relação entre consciência fonológica e aprendizagem da escrita alfabética: de início, a criança parte da oralidade – da palavra fonológica e de sua segmentação em silabas – pra chegar ao conceito de escrita como representação dos sons da fala.
Para atingir a representação fonêmica, constitutiva da escrita alfabética, a direção é outra: é a escrita que suscita a consciência fonêmica, ao mesmo tempo que esta , por sua vez, impulsiona e facilita a aprendizagem da escrita, na medida em que dirige a atenção do aprendiz para os sons da fala no nível do fonema.
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